O diretor da organização Tech Against Terrorism acredita que “tecnologia é neutra” e que tanto pode ser “usada para o bem ou para o mal”. A questão vai estar é colocada na equação de ter os bons usos a dominar as utilizações menos benéficas dos meios tecnológicos e na forma como seremos capazes de reagir às ameaças, sem colocar em risco o respeito pelos direitos humanos e a liberdade de expressão.
A organização Tech Against Terrorism tem três anos de vida e está ligada a uma iniciativa do Conselho de Segurança das Nações Unidas. A missão de Adam Hadley, que ocupa o cargo de diretor da ainda jovem organização, não se afigura fácil – e basta olhar para o número de ataques terroristas que têm vindo a aumentar nos últimos anos – talvez porque estejam mais presentes, também devido aos canais tecnológicos.
“Aquilo que tentamos desenvolver está ligado a parcerias entre o setor público e privado. Tentamos coordenar e apoiar a colaboração entre governos e o setor tecnológico”, um setor que, para Hadley, tem vindo a ser gradualmente pressionado nesta questão. “Milhões destas decisões [sobre aquilo que é correto online ou não] são feitas pelo sector tech hoje em dia – e não foi bem para isso que ele foi criado”, aponta o diretor da Tech Against Terrorism.
A organização trabalha com gigantes do mundo tecnológico, como o Facebook, Google, Microsoft ou o Twitter – mas, na realidade, não são estes os principais focos da Tech Against Terrorism. “O trabalho é mais focado em plataformas pequenas da Internet, porque aquilo que descobrimos é que as plataformas mais pequenas são gradualmente mais usadas por terroristas e grupo extremistas”.
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Como exemplo, Hadley recorre à plataforma justpaste.it. “Tem tecnologia muito simples e quem está responsável por ela, na Polónia, trabalha afincadamente para que o ISIS e a Al-Qaeda não usem a plataforma – mas é algo que é muito difícil”, reconhece.
O diretor da Tech Against Terrorist relembra que “os terroristas usam a Internet de duas maneiras: como comunicação estratégica, para ter um efeito político na sociedade, e a outra é de uma forma mais operacional: transferir dinheiro, mensagens, organização” e isto torna-se mais fácil em plataformas de dimensões mais reduzidas… e menos conhecidas.
Devido às suas dimensões, este tipo de plataformas tem algumas condicionantes que as tornam mais apetecíveis à partilha de conteúdos terroristas ou de grupos extremistas. “Não costumam ter muitos recursos económicos, não têm equipas permanentes, portanto o nosso principal trabalho é colaborar com estas plataformas e ajudá-las a definir melhores termos de utilização e práticas de comunidade, sem esquecer as questões de transparência. E depois sugerir algumas ferramentas que possam melhorar as questões de moderação de conteúdos”.
À Insider, Adam Hadley deixa claro um ponto: “a tecnologia não causa terrorismo”, já que tem um carácter neutro – tanto pode ser usada para bons usos como para más utilizações. A questão é que também a tecnologia “acaba por ser utilizada por terroristas e grupos extremistas, da mesma forma que os media também são usados por terroristas”.
“ Por exemplo, quando foi divulgado o vídeo da decapitação de James Foley [fotojornalista assassinado pelo ISIS, em 2014], os media de grande difusão estavam preparados para divulgar o vídeo – e isso resultou num grande impacto. Não é só sobre aquilo que acontece online, mas também se trata da forma como a tecnologia desempenha o seu papel”, aponta Adam Hadley, que explica que, mesmo que os ataques sejam limitados, podem ter impacto alargado. A justificação? O medo. “O terrorismo é poderoso porque consegue instalar o medo nas pessoas”, lamenta Hadley.
Para o responsável da Tech Against Terrorism, o trabalho não se limita apenas à moderação online, há que perceber também como é que se deve reagir a esta transmissão de mensagens online. “Aquilo que os terroristas querem é interferir com os nossos valores democráticos, portanto temos de ter a certeza de que a forma como reagimos a esta ameaça é com recurso à lei e com respeito pelos direitos humanos e pela liberdade de expressão”, adverte, aconselhando reações com uma boa dose de cautela.
A necessidade de intervenção dos governos
Para Hadley, a lei está a ser desafiada pela tecnologia – e isto é algo que vai continuar a acontecer. Uma das soluções apontadas passa pela palavra transparência. “Ao aplicar as nossas leis, de uma forma transparente, achamos que isto precisa de vir do lado dos governos, é preciso a lei. E os governos estão a chegar muito tarde a esta questão, em termos de regulação”, reconhece.
E desmistifica também que o terrorismo não é um fenómeno que acontece por culpa da tecnologia: “aquilo que acontece é que hoje em dia é mais presente, mas isto não muda o facto de sempre ter existido. E não é como se pudéssemos cortar a Internet, isso seria impossível”.
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“Aquilo que queremos ver é que os governos não aprovem apenas legislação porque parece bem ou a retirar conteúdos de uma forma mais rápida. Vamos melhorar, a um nível internacional, como é que designamos os grupos terroristas. Vamos definir coisas, para que não seja possível, por exemplo, não mostrar logótipos de grupos terroristas”, exemplifica, acrescentando também a pressão feita no mundo tecnológico.
“Milhões destas decisões são feitas pelo sector tech hoje em dia – e não foi bem para isso que ele foi criado, isso é para os tribunais – e a questão é que esses não acompanharam o passar dos tempos”, reconhecendo que muitas das questões não se ficam apenas pelo mundo da tecnologia, mas sim pela falta de ligação entre os dois mundos: o da tecnologia e o da lei. “Acho que a questão aqui nem é tanto a Internet, já tem mais a ver sobre o nosso sistema legal”.
E, num mundo, onde vemos a escalada das notícias falsas e da desinformação, Hadley deixa ainda outro ‘recado’ para o futuro. “O cruzamento entre Internet e política vai ser ainda mais notório. Hoje já vemos questões ligadas a mensagens nacionalistas, desinformação… Isto é um problema que não vai desaparecer. E isto vai ser a questão mais crítica da Humanidade, sem qualquer dúvida”.
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