Oodi. É finlandesa a biblioteca mais high tech do mundo e estivemos lá

Visitámos o novo hub social (e não comercial) da cidade de Helsínquia, a sua biblioteca municipal, num projeto de 100 milhões de euros. E se fosse em Portugal?

Reimaginar a biblioteca, como centro social de uma comunidade, com serviços variados e beneficiando do melhor que o design e a tecnologia permite fazer. É este o propósito da mais recente biblioteca finlandesa. Chama-se Oodi – o mesmo de ode, o estilo de poema lírico –, custou 100 milhões de euros, foi construída para celebrar o centenário do país e é “um espaço de experimentação de conceitos para a biblioteca do futuro”. Foi isso que nos explicou na Finlândia Laura Aalto, CEO da Helsinki Marketing, uma empresa que pertence ao município finlandês para promover a cidade.

O edifício gigantesco de 17.250 m2 de formato retangular e repleto de ondas visuais (a fazer lembrar o MAAT, em Lisboa) tem sido alvo de interesse por profissionais das bibliotecas de todo o mundo. “Estão interessados na nossa visão de tornar as bibliotecas num hub social da sociedade”, diz Laura. Mal entramos, vemos um café e um auditório com um cinema, mas o que nos surpreende é um guichet parecido com bilheteira onde se entregam os livros sem contacto humano. Basta colocar um livro na ranhura, o sistema indica logo quem o requisitou e assume-o como devolvido e uma série de tapetes automáticos levam-nos para o arquivo da biblioteca.

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Uma imponente escada em espiral leva-nos para o segundo piso, dos serviços. Além de várias salas multimédia de reuniões (vimos pessoas a jogar videojogos e outras a ter reuniões de trabalho), há estúdios para bandas tocarem, zona de aluguer de máquinas de costura (também cedem berbequins ou esquis), espaços de criação tecnológica, aluguer de impressoras 3D e impressões em têxtil ou criação de autocolantes, tudo por alguns cêntimos. O espaço enorme está cheio, de pessoas de todas as idades, inclusive bebés. No terceiro piso jaz o “céu dos livros”, repleto de chão e teto ondular e muito vidro (tem vista para o Parlamento), com zona para crianças e onde estão a maioria dos 100 mil livros.

Impressão 3D custa 50 cêntimos por três horas de uso

E como seria um projeto semelhante em Portugal? “Este é um projeto de experimentação e aprendizagem tipicamente nórdico, mas com várias áreas que seria viável implementar em Portugal”, explica-nos Bruno Duarte Eiras, diretor de Serviços de Bibliotecas em Portugal. O responsável diz mesmo que é interessante ver bibliotecas fornecerem serviços às populações e serem mais abrangentes do que local de empréstimo de livros. “Já há bibliotecas municipais cá a apostarem nesse conceito de espaço de experimentação (chamados espaços makers), com áreas estilo oficina de trabalho, em Alcobaça, Valença do Minho e, mais recentemente, em Ílhavo”.

Duarte Eiras, lamenta, no entanto, que em Portugal não exista uma visão mais ampla das bibliotecas como espaços sociais o que leva a que nem sempre seja fácil municípios ou populações a aderirem aos novos conceitos. Um deles é o regresso das bibliotecas itinerantes (a Gulbenkian liderou esse projeto de 1940 a 2003). “Já existem 68 e no final do março serão já 70 e algumas permitem ter serviços como Multibanco, relação com municípios e internet gratuita”, diz o responsável que destaca Penacova, onde já se empresta ferramentas e objetos na biblioteca municipal (em Santa Maria da Feira há empréstimo de instrumentos musicais).

Paula Sequeiros, investigadora do Centro de Estudos Sociais na área de bibliotecas da Universidade de Coimbra deixa, no entanto, um aviso sobre este tipo de projetos como o da biblioteca Oori: “há dúvidas sobre o alcance democrático (será um projeto obra-de-regime, antes do mais?) e qual a sua sustentação e utilidade para a maioria da população”. A investigadora diz que “o fascínio pelos gadgets pode não ser duradouro” e o “digital deve enquadrar-se na lógica de prestação de serviço público” sem “desinvestir nas mais valias tradicionais das bibliotecas”.

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