Palmer Luckey é conhecido por ser o fundador da Oculus, a empresa de realidade virtual que o Facebook comprou por dois mil milhões de dólares. Mas a sua nova empresa, a Anduril, promete dar que falar.
Palmer Luckey igual a si próprio: foi de camisa havaiana, calções e chinelo de dedo que se apresentou no palco da Web Summit, em Lisboa. “Sou a mesma pessoa”, disse, quando a jornalista o confrontou com o facto de continuar de indumentária descontraída, apesar de a sua nova empresa trabalhar numa área muito séria.
A Anduril é uma tecnológica especializada na área da defesa militar. Desenvolve tecnologias que já estão a ser testadas em bases militares norte-americanas, espaços fronteiriços e outras localizações que Luckey disse não poder revelar.
A empresa está a usar sensores, em drones, torres e até humanos, para recolher informações sobre um terreno específico. Essa informação é depois analisada por um sistema de inteligência artificial, que identifica os aliados, os inimigos e as ameaças iminentes. Essa informação é depois encaminhada para os soldados no terreno, através do smartphone ou de capacetes equipados com realidade aumentada.
“Os soldados vão ser super-heróis, vão saber onde estão os inimigos, os amigos. Todos os soldados do mundo vão ter um capacete de realidade aumentada muito antes de todos os consumidores”, salientou Palmer Luckey.
“Na área da defesa se conseguires tornar os soldados 5% mais eficientes, vale a pena apostar. Mas acredito que estas tecnologias vão melhorar os soldados em 200 ou 300%”.
Ainda no tempo em que estava na Oculus, Palmer Luckey começou a perceber que os EUA estavam a ficar para trás em várias áreas, incluindo nas tecnologias usadas na defesa militar.
“Também ficou claro que a tecnologia e o talento neste espaço estavam a recusar-se a trabalhar na área da defesa. Queria começar uma empresa em que pessoas muito inteligentes pudessem trabalhar na área da defesa”.
“Devias ver onde estão todas as pessoas da tua unidade, onde está o inimigo, que ameaças podem estar a aparecer mesmo que não tenhas visto. Este é o tipo de vantagem que podemos ter se tivermos uma base tecnológica forte”, explicou o jovem de 26 anos.
A preocupação de Palmer Luckey foi aguçada pelo facto de países como a Rússia e a China estarem, ainda que de forma silenciosa, a fazer uma grande aposta nas tecnologias de defesa. Uma frase de Vladimir Putin, na qual o líder russo disse que quem liderasse na inteligência artificial, lideraria o mundo, teve um eco forte no fundador da Anduril.
“Tens de pensar não apenas no contexto daquilo que acontece nos EUA. A Rússia e a China também já estão a trabalhar nestas tecnologias”.
Palmer Luckey diz que na China, por exemplo, o governo já está a usar tecnologias de recolha de dados e reconhecimento facial para fazer “vigilância urbana massiva”, dados que depois são usados para perseguir alguns dos seus cidadãos. “As maiores ameaças não vão ser as democracias do oeste”.
“Os chineses percebem que a próxima guerra não vai ser ganha com as ferramentas das outras guerras”.
Criar tecnologias para a área da defesa militar é algo que levanta questões éticas. Por exemplo, recentemente centenas de funcionários da Google assinaram uma petição para que a empresa se retirasse de um projeto com o departamento de defesa dos EUA. Os protestos tiveram efeito: a Google recuou de um possível contrato de dez mil milhões de dólares.
“Este pequeno grupo que é contra, estão a ter uma visão muito curta sobre o problema e uma abordagem muito centrada nos EUA”, considerou o fundador da Anduril. “Não acredito que uma Convenção de Genebra digital vá evitar que a China use a tecnologia”.
Questionado sobre se está a ter dificuldade em recrutar para a sua nova tecnológica, Luckey foi esclarecedor: “Não”.
Já no final, Palmer Luckey deixou uma ideia forte para todos refletirem. “A superioridade tecnológica é um requisito para uma superioridade ética”.