A era de revolução tecnológica está a ser aplicada a todo o gás, o próximo ano vai manter tendências e trazer novas, da mobilidade ao 5G, passando pelo espaço.
Por Cátia Rocha, João Tomé e Rui da Rocha Ferreira
Numa altura em que a tecnologia está a mudar a forma como vivemos e promete trazer revoluções na mobilidade e conectividade, 2019 tem tudo para ser um ano de tira-teimas. São cada vez mais as empresas, os governos e as pessoas a aderirem à era digital – em 2018 o planeta passou a ter quatro mil milhões de utilizadores de internet (existem atualmente 7,7 mil milhões de humanos).
Com esse aumento de acessos à internet e à cloud, ganham também mais força os sistemas de inteligência artificial, que aprendem com cada um de nós e nos podem ajudar e fazer previsões sobre os nossos desejos e solicitações. O outro lado da moeda é que também nos podem deixar mais frágeis, se os nossos (preciosos) dados pessoais forem comprometidos e caírem nas mãos erradas.
Daí que as leis devam tornar-se cada vez mais apertadas em redes sociais e companhia para evitar a fuga de dados. O chamado big data – os dados que mostram aquilo que fazemos, onde andamos, com quem nos damos, etc. – continuará a crescer e a alimentar os sistemas.
Para ajudar à digitalização das nossas vidas e dos eletrodomésticos e gadgets que usamos, o 5G pode ter um papel fulcral – bem superior ao que o 4G trouxe, por exemplo. Com um crescendo das necessidades de conectividade e de internet, serão necessárias redes mais robustas do que temos hoje, para alimentar não só os aparelhos que usamos em casa – a chamada Internet of Things, ou IoT -, bem como os automóveis conectados, e o 5G promete ser a resposta.
Se a mobilidade como um serviço, com veículos que podem ser partilhados (casos das trotinetes elétricas que chegaram já em outubro a Portugal), deve manter-se como tendência, os pagamentos sem moedas ou notas e feitos com o telemóvel ou o smartwatch vão tornar-se mais globais e frequentes.
A era espacial está de volta, graças a alguns multimilionários que sonham com a ida a Marte. Em 2019 não haverá homens em Marte, mas há a promessa de novos desenvolvimentos e preciosas informações sobre o Planeta Vermelho e, quem sabe, provas de existência de vida.
Espaço, a última fronteira. O sonho do ser humano explorar o que está mais além, o desconhecido, é bem antigo. Depois dos Descobrimentos, onde os portugueses chegaram a ser reis do além-mar (e já se guiavam pelas estrelas), a era espacial chegou nos anos 1960 e, após um período de desinvestimento, os desejos de viagens no espaço de empreendedores como Elon Musk (com a SpaceX), Jeff Bezos (Blue Origin) e Richard Branson (Virgin Galactic) estão a impulsionar de novo a era espacial.
O desejo final, para já, é de levar seres humanos até Marte – Musk sonha em viver lá em poucos anos. Os dados da sonda InSight, que chegou ao Planeta Vermelho no final de novembro, serão fulcrais. O trabalho de recolha de dados trará, espera-se, mais informação preciosa em 2019 para viagens futuras. Há projetos para levar aparelhos para a superfície lunar da Índia, China e de Israel já a partir de janeiro e a Rússia inicia os seus esforços para ir a Marte em 2020.
Entretanto, a 14 de dezembro, a nave espacial Virgin Galactic chegou ao espaço pela primeira vez, num passo importante para levar turistas – num esforço que Richard Branson tentava atingir desde 2011. Em 2019 talvez possamos esperar aventuras turísticas espaciais. A NASA, que celebrou neste ano 60 anos, em 2019 celebra os 50 anos do início da missão Apollo, que levou 12 humanos para a superfície lunar. – J.T.
Redes 5G: Muita parra e, provavelmente, pouca uva
Definitivamente, 2019 vai ser o ano em que as redes 5G vão saltar para a ribalta: os testes vão ficar mais frequentes, os primeiros equipamentos com suporte para a tecnologia vão ser lançados nas primeiras ligações comerciais.
O que é que isto significa para a maioria das pessoas? Pouco. O 5G vai gerar muito buzz no próximo ano, pois é de facto a próxima geração de redes móveis que promete mudar tudo: desde a forma como as pessoas consomem conteúdos à massificação dos equipamentos ligados à internet (IoT), bem como a afirmação de outras tecnologias emergentes, como os carros autónomos.
Mas esta será uma tecnologia que vai ter pouco impacto palpável já em 2019. Será, acima de tudo, o ano da consciencialização para o potencial e para as mudanças que vai trazer de 2020 em diante.
“O 5G vai provocar uma disrupção tão grande quanto o 4G. Não vai ser um substituto do 4G, mas vai complementar. Esperamos que as infraestruturas para ambientes 5G venham a ser muito focadas na tecnologia”, disse-nos John Roese, diretor de tecnologia da Dell. – R.R.F.
Arranje espaço para mais um lá em casa: a IA está a chegar
A inteligência artificial (IA) está finalmente a mostrar o seu verdadeiro potencial enquanto tecnologia que vai funcionar como uma extensão do ser humano. Vamos cada vez mais falar com estas superinteligências.
A grande tendência para o próximo ano é a democratização dos assistentes pessoais: sobretudo a Alexa, da Amazon, e o Assistant, da Google, vão ficar disponíveis num cada vez maior número de gadgets.
Para Portugal há uma incógnita: estes assistentes ainda não falam português europeu e, enquanto a barreira da língua não for desbloqueada, a adoção dos utilizadores nunca será expressiva. Veja-se os EUA: uma em cada quatro casas já tem uma coluna inteligente.
Mas poderá não ser necessário esperar muito tempo para ver a Alexa ou o Assistant a falarem português.
“A longo termo esse é um problema que vai diminuir. Se desenvolvermos estas tecnologias da maneira certa, muitas das coisas que fazemos são independentes de uma língua específica. Estamos a fazer progressos nessa direção”, explicou-nos neste ano Fernando Pereira, vice-presidente e engineering fellow na Google. – R.R.F.
Prepare-se para a batalha da privacidade e da regulação
Achava que 2018 tinha ficado marcado pelo novo Regulamento Geral de Proteção de Dados e pelo escândalo da Cambridge Analytica? As conversas sobre o direito à privacidade e acesso indevido a dados pessoais prometem transitar para o próximo ano.
O deslumbramento com as grandes empresas tecnológicas já lá vai e há um interesse crescente por parte do utilizador em saber o que é feito com os seus dados. Em 2018, Mark Zuckerberg, o criador do Facebook, ou Sundar Pichai, CEO da Google, já prestaram contas perante o congresso norte-americano e, no caso do patrão do Facebook, até perante o Parlamento Europeu.
A discussão sobre a privacidade dos dados não dá mostras de abrandar, muito pelo efeito que gigantes como o Facebook – e produtos como o WhatsApp – conseguem ter em momentos decisivos, como eleições. E o que é que acontece em 2019? Eleições europeias, em maio. A batalha das notícias falsas também promete continuar a ser um tema forte ao longo do próximo ano. Até o criador da World Wide Web já referiu que é necessário haver um novo contrato, que regule aquilo que é a internet. – C.R.
Veículos mais evoluídos e cada vez mais partilháveis
A mobilidade como um serviço parece ser um dos caminhos para o futuro, ou seja, possuir um automóvel parece estar a fazer cada vez menos sentido para os jovens (e não só) que vivem nas grandes cidades.
Para isso ajudam os serviços de partilha que estão a crescer e há cada vez mais marcas de automóveis a aderir a eles. Numa altura em que o automóvel é cada vez mais um gadget por si só, em 2019 essa tendência vai manter-se, com os modelos a mostrarem ecrãs generosos e controlo por gestos e por voz.
Todas as grandes marcas do setor automóvel, sem exceção, estão a investir na eletrificação dos seus modelos e o próximo ano vai trazer mais escolha 100% elétrica e com autonomias acima dos 300 km. Os carros-robô não serão realidade para já, mas modelos da Tesla, Audi, Mercedes, BMW, Volvo e afins vão trazer cada vez mais funções autónomas para promover a segurança e paz de espírito ao condutor, que não deve abusar em entregar a condução ao automóvel.
Os elétricos já pagam por carregamentos na via pública e isso pode ajudar a aumentar a rede de postos em Portugal, algo fulcral para que seja cada vez mais prático ter um carro elétrico. – J.T.
Mais pagamentos móveis, menos moedas a tilintar no bolso
Há muito que a morte do dinheiro, no formato de moedas e notas, é anunciada. Primeiro, tudo começou pela digitalização do dinheiro, com os cartões de débito e crédito. Ao longo dos últimos anos, os pagamento móveis também já se juntaram a este mundo, através das operações contactless, em que basta só aproximar o dispositivo. Primeiro, chegou com os smartphones e, mais recentemente, já nos relógios inteligentes.
Aplicações como a MBWay – que já tem números na ordem de um milhão de utilizadores em Portugal – já permitem pagar em lojas ou supermercados, através de NFC, ou simplesmente autorizando um pagamento, clicando numa notificação. Parcerias com marcas como a Samsung já autorizam também pagamentos móveis em algumas lojas, com MBWay, utilizando um smartwatch da empresa sul-coreana.
Globalmente, os pagamentos feitos através de soluções contactless, como a Google Pay ou Apple Pay, têm a possibilidade para ultrapassar os 884 mil milhões de euros, até 2022, segundo analistas de mercado como a 451 Research. Por cá, as soluções de pagamentos das gigantes não estão disponíveis. – C.R.
2019: O ano do porco na China e na tecnologia que vai usar
A influência da China na vida tecnológica dos portugueses e na população mundial é inegável: marcas como a Huawei e a Xiaomi estão a expandir com força a sua base de dispositivos e é lá que é feita a maior parte do fabrico dos produtos de eletrónica que usámos no dia-a-dia. Aos poucos essa influência chinesa está a aumentar e para áreas muito distintas.
A próxima vez que usar um serviço partilhado de trotinetes, é provável que esteja a usar um equipamento da Ninebot-Segway. Os melhores drones da atualidade são da chinesa DJI. Alguns dos jogos mais populares para dispositivos móveis, como Clash Royale, são detidos pela chinesa Tencent. A rede social sensação de 2018, chamada de Tik Tok, é chinesa.
Se tempos houve em que a influência estava só na construção e nas marcas de smartphones, o futuro promete ser muito diferente. Sob a liderança de Xi Jinping, a China tem investido massivamente em tecnologia. Até as plataformas mais conhecidas, como a Alibaba, começam a fazer operações de charme no Ocidente, como aconteceu recentemente em Portugal (ver página 46). – R.R.F.
* Este artigo foi originalmente publicado na edição de dezembro de 2018 da revista Insider