Neste lado do planeta, pode não ser assim tão popular, mas na China a Douyin já se tornou um vício entre os adolescentes. Farta em polémicas, chegou inclusive a ser proibida na Indonésia, por conteúdo inapropriado. No que toca a mercado, a Douyin tira o sono a outra gigante chinesa, a Tencent.
Se tentar procurar nas lojas de aplicações por Douyin, não vai ter grande sorte: a versão internacional da app tem outro nome, Tik Tok. Por cá, pode não ser reconhecida, mas, de acordo com a SensorTower, que analisa as movimentações do mercado de aplicações, a Douyin foi a aplicação mais descarregada da App Store no primeiro trimestre de 2018, com mais de 45 milhões de downloads, sendo só ultrapassada pelos jogos. Mais números? 500 milhões de utilizadores ativos mensais, a nível global. Fora da China, a aplicação também tem conseguido reunir uma comunidade fervorosa na Indonésia.
Mas o que é que esta aplicação faz, que a torna tão viciante para já haver quem a compara ao ópio ou apelida de “máquina de fazer zombies”? A Douyin – ou Tik Tok – é quase uma mistura de todas as aplicações que já conseguiram vingar entre os adolescentes: a Snap, Musical.ly ou o já extinto Vine. O utilizador escolhe uma música disponível da biblioteca da aplicação e depois pode fazer vídeos curtos, repletos de efeitos. Ao abrir a app, a lógica é semelhante à do Instagram – um feed de scroll infinito, onde as sugestões são feitas tendo em conta as pessoas com quem mais interage, com recurso a inteligência artificial.
Se isto soa familiar e muito semelhante à app Musical.ly, não é de estranhar. O modelo é tão semelhante que, em novembro do ano passado, a ByteDance, empresa responsável pela Douyin, comprou a Musical.ly, também ela popular entre um público mais jovem. Não foram revelados os valores envolvidos no negócio, mas a imprensa internacional avançou com um intervalo de valores entre os 800 milhões e mil milhões de dólares (683 e 854 milhões de euros, respetivamente).
Na altura do negócio, a Musical.ly explicou que iria continuar a operar como uma plataforma independente, mas que tiraria partido do território abrangente da Douyin na China, aliado à IA da empresa-mãe, a ByteDance.
Mas onde é que entra o vício?
Ao contrário de plataformas de vídeo, como é o caso do YouTube, é preciso escolher um vídeo para depois ter acesso às sugestões automáticas, por exemplo. Com a Douyin, isso não acontece – os vídeos começam de forma automática e, se não estiver a gostar de um vídeo, basta deslizar para que outro comece automaticamente.
A aplicação é tão viciante que foi pedido à ByteDance para incluir um aviso quando o utilizador estivesse a utilizar a aplicação durante mais de 90 minutos. Só para termos algum contexto, analistas como a SimilarWeb estimam que o Facebook e o Instagram sejam os mais ávidos consumidores de tempo, com 58 e 53 minutos de utilização da app por dia. Tendo em conta que a aplicação é relativamente recente (completa dois anos de vida em setembro), são números impressionantes.
Tal como acontece com aplicações como a Musical.ly, uma pesquisa rápida no Google com o termo Douyin faz surgir uma série de vídeos onde há compilações de “estrelas” da app ou aglomerados de vídeos com maior sucesso. A app permite seguir pessoas, pelo que há quem consiga reunir milhares e milhares de seguidores. Trocado por miúdos, é quase como se todos tivessem a possibilidade de ter os seus cinco minutos de fama, daí o sucesso entre o público, especialmente o feminino.
A proibição na Indonésia e os conteúdos inapropriados
A Douyin/Tik Tok não se livra de polémicas. Este mês, chegou a ser proibida pelas autoridades da Indonésia, devido ao conteúdo inapropriado divulgado na aplicação. Na altura, foi pedido que houvesse um filtro de conteúdos na utilização da aplicação.
Na loja de aplicações da Google, a classificação etária da Tik Tok requer supervisão parental, mas, na Indonésia, as autoridades exigiram ainda mais. Afinal, é mais difícil ter controlo sobre todo o conteúdo carregado para a aplicação quando há 500 milhões de utilizadores, todos os meses.
Ainda assim, as autoridades da Indonésia frisavam que o bloqueio poderia ser temporário, caso a Douyin utilizasse algum tipo de filtro de conteúdos. A partir do momento em que isto aconteceu, a censura à aplicação chinesa foi levantada.
A tirar o sono à Tencent
À primeira vista, a Tencent, responsável pela gigante aplicação WeChat, e a Douyin não habitariam os mesmos mundos tecnológicos para serem vistas como concorrentes. Mas o facto de alguns vídeos da Douyin/Tik Tok serem partilhados através do WeChat tem causado algum atrito – assim como o exponencial crescimento da app da ByteDance.
A polémica alastrou e a Tencent acabou mesmo por processar a ByteDance, pela irrisória quantia de 15 cêntimos, exigindo também um pedido de desculpas público. A razão para isto? A Tencent falava em concorrência desleal e as empresas trocaram acusações difamatórias, reportou o The Economist.
Na China, o WeChat, aplicação da gigantesca Tencent, domina o mercado: além de um serviço de troca de mensagens, permite também encomendar comida e até fazer transferências de dinheiro. Ou seja, domina boa parte da experiência mobile dos utilizadores chineses – segundo dados de agências estatais, também divulgados pelo The Economist – o WeChat representa 34% da tráfego de dados chinês.
Habitualmente, a Tencent não se deixa afetar pela concorrência, principalmente aplicações recentes, mas o cenário parece estar a sofrer alterações – tanto que a Tencent chegou mesmo a ressuscitar um serviço do género da Douyin. Disponível globalmente desde 2017, resta agora saber se a versão internacional, a Tik Tok, vai conseguir ganhar tração entre os utilizadores fora do mercado asiático.