Operação Web Summit 2028. Os milhões, a cláusula de rescisão e as promessas

O primeiro acordo previa três anos de permanência e mais dois opcionais. Mas agora o compromisso entre Portugal e a Web Summit é muito mais sério.

A Web Summit fica em Lisboa nos próximos dez anos. Até 2028, a capital vai receber aquela que é, por agora, uma das maiores conferências do mundo dedicadas aos temas das novas tecnologias.

Não foi fácil: mais de 20 cidades europeias, entre as quais algumas das principais capitais como Berlim, Paris, Londres, Madrid, Milão e Valência, também queriam o evento que ajudou Lisboa a tornar-se num dos principais pólos tecnológicos da Europa. No final, Portugal apresentou a melhor proposta global.

“Estava a pensar o que dizer e só me assalta uma palavra: ganhámos”. “Esta vitória tem muitos significados. Ganhámos uma competição com muitas cidades do mundo. Ganhámos porque fomos capazes de apresentar a melhor proposta”, contou Fernando Medina, presidente da Câmara Municipal de Lisboa, no evento de oficialização da permanência do evento tecnológico.

“Ficar mais dez anos dá mais garantias”, disse por seu lado Paddy Cosgrave, fundador e diretor executivo da Web Summit. “Esta pode ser a decisão mais louca que tomei”, mas a longo prazo poderá ser a melhor. “No fim, o meu coração está em Lisboa, espero construir um futuro incrível aqui”, desabafou.

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O primeiro-ministro António Costa está satisfeito. “É muito mais do que ter um motivo de atração para o turismo em Portugal”, uma vez que é “capaz de projetar o país como um país da inovação e da tecnologia”, disse.

Manuel Caldeira Cabral, ministro da Economia, partilha o mesmo espírito positivo. “[A Web Summit] Vai trazer mais investimentos como já trouxe da Google, da Mercedes, da Zalando e de várias outras companhias que se mudaram para Portugal”.

Tudo isto tem um custo, claro: 11 milhões de euros por ano. Como fica até 2028, então a permanência do Web Summit vai implicar um investimento total de 110 milhões de euros. Estes valores vão ser suportados sobretudo pelo Governo e pela Câmara Municipal de Lisboa, foi explicado esta quarta-feira no evento realizado no Altice Arena, em Lisboa.

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Portugal mostra assim um grande compromisso para com o Web Summit, mas também quis proteger-se. Daí a criação de uma cláusula de rescisão: se a Web Summit quiser sair de Lisboa antes de 2028, então isso implica um pagamento de 340 milhões de euros, por ano, de indemnização. Leu bem, por ano.

Mesmo sem indemnização, Portugal espera lucrar com a Web Summit a diferentes níveis. Segundo um comunicado enviado pela organização do evento, esta manhã, estima-se que as duas edições em Portugal tenham gerado perto de 300 milhões de euros para a economia nacional, 10% dos quais em receitas fiscais diretas.

“A Web Summit é muito mais do que os 30 milhões de receita fiscal”, disse António Costa, que depois foi complementado por Manuel Caldeira Cabral.

“Este esforço que estamos a fazer tem também como contrapartida as enormes vantagens que o primeiro-ministro referiu. Há vantagens imediatas com os ganhos que temos com os turistas, com os visitantes, com toda a atividade económica que se gera à volta de uma conferência desta dimensão”, referiu o ministro da Economia.

“Com o escalar deste evento – e é isto que tem estado a acontecer nos últimos anos – para mais de 100 mil pessoas, podemos estar de facto a falar já de uma receita fiscal que paga várias vezes este apoio que estamos a dar”, reforçou o governante com a pasta da economia.

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O aumento do número de participantes na Web Summit foi outro dos pontos em destaque na conferência desta manhã. Para que possa albergar 100 mil pessoas em edições futuras, então a atual infraestrutura – a Feira Internacional de Lisboa – vai ter de crescer.

O compromisso foi dado por Fernando Medina. A FIL ficará com instalações “quase duas vezes e meia” superiores à área atual. O autarca disse ainda que a intervenção será realizada “em vários anos”, escusando-se a estimar o valor da obra.

“O que nós hoje fazemos aqui, com esta decisão, com este anúncio, é dar no fundo força ao setor moderno, ao setor que progride, que avança, que é capaz de puxar pelo melhor da nossa economia para nos podermos afirmar na economia competitiva mundial”, disse Fernando Medina.

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Apesar dos dez anos de relacionamento que se avizinham entre a Web Summit e Lisboa, agora as atenções viram-se para a terceira edição em território português: acontece dentro de um mês, entre os dias 5 e 8 de novembro na FIL e no Altice Arena.

Por Rosália Amorim, Ana Laranjeiro e Rui da Rocha Ferreira