Além de as pessoas passarem cada vez mais tempo em serviços digitais, os piratas informáticos têm técnicas e instrumentos cada vez mais sofisticados.
Por ano existem 15 mil roubos de identidade em Portugal, segundo estimativas da empresa de certificações DigitalSign. A “grande maioria”, diz a empresa sem revelar números concretos, acontece online e esta é uma tendência que tem ganhado força – algo que se explica pela cada vez maior influência da tecnologia na vida das pessoas.
“As pessoas estão de facto a passar muito da sua vida, das suas decisões e das suas compras para o online. (…) A tendência é muito simples. O crime vai transferir-se do físico, do papel, para o online à medida que as atividades económicas e as atividades sociais das pessoas também se estão a transferir para o online. É onde estão as oportunidades de ganho neste momento e é natural que as atividades criminosas acompanhem esse movimento”, disse Fernando Moreira, administrador da empresa DigitalSign, em entrevista à Insider.
Quando se fala em roubo de identidade online o espectro é abrangente: tanto podem ser as credenciais de acesso de um banco, como podem ser as credenciais de acesso a uma rede social. Por exemplo, recentemente foram denunciadas falhas no site da Chave Móvel Digital e que no pior dos cenários podiam levar ao roubo de identidade dos cidadãos portugueses.
“Naturalmente que a consequência de ter acesso a uma conta bancária é diferente de ter acesso a uma conta de Facebook, mas quando estamos a falar desse tipo de situações, estamos a falar de roubo de identidade”, acrescentou o porta-voz da empresa.
A DigitalSign diz que não há histórico de estatísticas sobre o roubo de identidade em Portugal e que muitos destes casos continuam a não ser denunciados às autoridades competentes. “Não temos nenhuma estatística em Portugal especificamente sobre esta área de roubo de identidade. Não deixa de ser uma estimativa feita por nós com base em estatísticas europeias e atendendo à dimensão da população portuguesa”, detalhou.
A Comissão Nacional de Proteção de Dados (CNPD) já tinha mostrado, no início de 2016, uma preocupação acrescida com o fenómeno dos roubos de identidade, algo que acabaria por levar à criação do regime que proíbe entidades privadas e públicas de fazerem cópias dos cartões de cidadão.
Ficar sem identidade custa mil euros
Outro dado que a DigitalSign apurou a nível europeu é que as vítimas de roubo de identidade saem prejudicadas, em média, em mil euros. O valor justifica-se pelos ‘custos diretos’ desse roubo – seja extravio de dinheiro de uma conta bancária, seja pelo pagamento de serviços que os criminosos subscreveram em nome da vítima, por exemplo. Mas há outras despesas associadas.
“O prejuízo muitas das vezes decorre da contratação de advogados, de deslocações, de toda essa burocracia que a pessoa vai ter de enfrentar para conseguir anular as faturas que entretanto lhe chegaram”, exemplificou Fernando Moreira.
O administrador da DigitalSign louva o facto de os reguladores em Portugal estarem atentos aos perigos do roubo da identidade, mas considera que este deve ser um trabalho continuado. “Acho que estamos no bom caminho, mas há de facto muito trabalho para fazer. À medida que passamos mais para o digital, os riscos continuam a aumentar substancialmente”.