Smartphones Android devem ficar mais caros na Europa em 2019

Smartphones Android
Foto: REUTERS/Dado Ruvic

Google já anunciou que vai cobrar pelas suas aplicações aos fabricantes que venderem smartphones na União Europeia. Medida pode levar algumas marcas a fechar portas.

O mercado dos smartphones Android vai sofrer um abanão: os dispositivos devem ficar mais caros e o cenário em que algumas marcas fecham portas é real. Quem o diz são Francisco Jerónimo, analista principal da consultora IDC para a Europa, Médio Oriente e África, e Tito Cardoso, diretor executivo da marca portuguesa de smartphones Iki Mobile.

“Em determinadas gamas de preço, abaixo dos 100, 150 euros, muitos fabricantes já não vendem smartphones. Essa gama de preços vai aumentar ou os fabricantes vão desistir, o que vai levar a que haja menos oferta para os consumidores. Já só irá começar a encontrar smartphones acima de 200 euros”, considera o analista.

Em causa está uma mudança anunciada pela Google em outubro: a empresa vai começar a cobrar uma licença pelas suas principais aplicações móveis aos fabricantes que vendem smartphones na União Europeia. A decisão foi tomada para que a tecnológica cumpra as leis da concorrência na UE, depois de ter sido multada em 4,3 mil milhões de euros pela Comissão Europeia por práticas anticoncorrenciais.

“Os serviços Google vêm pré-instalados, não te dás ao trabalho de procurar outros. Este domínio faz morrer a concorrência”, Francisco Jerónimo, IDC

Em meados de outubro, a publicação norte-americana The Verge revelava que o preço a pagar pelo pacote de aplicações da Google pode variar entre os 2,20 e os 30 euros por equipamento a partir de fevereiro de 2019. No mercado dos smartphones, em que as margens de lucro são pequenas para a maior parte dos fabricantes, este acréscimo de despesa coloca uma grande pressão – a ponto de o encargo extra poder refletir-se no preço final dos equipamentos.

Enquanto representante de uma marca de smartphones, Tito Cardoso diz que a Iki Mobile não vai mudar a sua estratégia. “O consumidor é que ao adquirir o produto vai ter de o pagar a um preço superior àquele que iria gastar”, comentou.

O CEO da Iki lembrou que esta mudança será transversal a todos os fabricantes. “O que pode acontecer é os telemóveis deixarem de ser competitivos como eram. Na realidade, aqueles que tinham produtos a 120 euros vão ter de os colocar a 140 ou 160 euros. Infelizmente, a Google está a prejudicar o consumidor.”

“Os smartphones com um preço mais baixo não conseguem ser competitivos, vão ter de desaparecer. As marcas têm de arranjar solução”, Tito Cardoso, Iki Mobile

“Acreditamos que o que estávamos a fazer antes era bom para a escolha, para a competição e para a inovação. Foi por isso que dissemos que não estávamos de acordo com a decisão [da CE]”, defendeu Matt Brittin, diretor de negócio e operações da Google na Europa.

O executivo espera que a mudança no Android não leve ao desaparecimento de marcas de smartphone e também disse acreditar que esta mudança não vai levar à perda de utilizadores em serviços como o Chrome, Gmail e YouTube. “As pessoas parecem valorizá-los e espero que continuem a encontrar estes serviços.”

“A minha visão é de que o Android criou uma escolha incrível para os consumidores e deu aos programadores de aplicações e aos fabricantes na Europa a hipótese de construírem produtos para centenas de milhares de pessoas. Criámos valor, tanto para o consumidor e para os fabricantes como para o programador. Um pequeno número de pessoas discordou e a Comissão Europeia decidiu que devíamos fazer algumas mudanças – e foi isso que fizemos.”

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Matt Brittin não revelou pormenores sobre os preços de licenciamento que vão ser cobrados e se os valores vão ser iguais entre países ou diferentes.

“A decisão mais importante vai ser o facto de a partir de agora tu não seres obrigado só a ter os serviços todos da Google. Vais poder ter outras aplicações em conjunto e no smartphone”, destacou Francisco Jerónimo, da IDC.

E este pode ser mesmo o plano B para a Iki Mobile. “Estamos a considerar instalar outras aplicações de origem, possivelmente para os equipamentos com menor valor. As marcas têm de arranjar solução”, salientou Tito Cardoso.