“Na Apple acreditamos que a privacidade é um direito humano fundamental. Mas também reconhecemos que nem todos veem as coisas da mesma forma. De certa forma, o desejo de colocar os lucros à frente da privacidade não é algo novo”.
Esta foi uma das frases que marcou o discurso corrosivo do diretor executivo da Apple, Tim Cook, no Parlamento Europeu, no final de outubro. “A nossa informação, desde o dia-a-dia até àquela que é extremamente pessoal, está a ser usada como uma arma de eficácia militar contra nós”, acrescentou, num claro ataque às gigantes tecnológicas de Silicon Valley.
Mas agora Tim Cook foi confrontado com uma questão moral: é justo receber entre quatro a nove mil milhões de dólares da Google, uma das empresas que encaixam nas críticas do CEO da Apple, para que seja o motor de busca pré-definido no browser Safari e na assistente Siri?
“Penso que o motor de busca da Google é o melhor. Olha para o que fizemos com os controlos que integrámos [no Safari]. Temos navegação privada. Temos uma ferramenta inteligente de prevenção de rastreadores. O que temos tentado fazer é arranjar formas de ajudar os nossos utilizadores no dia-a-dia. Não é perfeito. Sou a primeira pessoa a admiti-lo. Mas já é uma ajuda grande”, disse Tim Cook numa entrevista à publicação Axios e emitida na HBO.
Ou seja, o facto de o Google ter a melhor ferramenta de pesquisa e o facto de a Apple ter apetrechado o Safari com ferramentas que protegem melhor a privacidade dos utilizadores é uma combinação que para Tim Cook justifica os milhões recebidos da Google, apesar das críticas crescentes que o CEO tem feito contra as empresas que fazem dinheiro com os dados dos utilizadores.
Apesar da aparente contradição, o timoneiro da Apple considera que regular as grandes tecnológicas de Silicon Valley é inevitável. “Sou um grande crente no mercado livre, mas temos de admitir que o mercado livre não está a funcionar. E não funcionou aqui [EUA]. Penso que é inevitável algum nível de regulação”.