CEO da Wikimedia fala na “crise da confiança” na sociedade. Wikipedia quer ser solução, com contributo para distribuição de conhecimento.
“Quem é que já usou o nosso projeto principal, a Wikipédia?”, perguntou Katherine Maher, CEO da Wikimedia Foundation, assim que entrou em palco. A resposta foi clara: um mar de mãos levantou-se na plateia do Centre Stage da Web Summit.
“Há quem ache que trabalhar para a Wikipedia é o mesmo que ser a Wikipedia – e então fazem-me perguntas estranhas. Mas no outro dia fizeram-me uma pergunta séria: está o mundo a atravessar uma crise de conhecimento?” Para Katherine Maher, o mar de mãos que se levantou em resposta à pergunta é a prova de que não há uma crise de conhecimento no mundo, mas sim aquilo que apelida de “crise de confiança”.
Para a responsável da Wikimedia Foundation, é algo transversal a vários mundos, que está a afetar desde o jornalismo até aos órgãos de governo. “Esta crise de confiança está a prejudicar-nos enquanto sociedade”, avisa Katherine Maher. “Estamos paralisados num estado de inação. A crise de confiança não é uma inconveniência, é uma ameaça existencial definitiva. E em vez de nos juntarmos, estamos a polarizar-nos, a ficar tremendamente divididos.”
Maher reconhece que o cenário traçado em palco é negro, mas avisa que, como trabalha na Wikimedia, acredita em fenómenos impossíveis. “Já vimos coisas impossíveis a acontecer”, nomeadamente aquilo que descreve como “o arquivo de conhecimento de alta qualidade”: a própria Wikipedia, “um projeto impossível que se tornou um pilar do século XXI.” Por dia, a Wikipedia recebe 70 mil milhões de visitas. E, em alguns casos, poderá estar a utilizar a enciclopédia de acesso livre mesmo que não se lembre: é a Wikipedia que alimenta muitas das informações transmitidas por assistentes digitais, como a Siri, Alexa ou Google Assistant.
Como é que se “ataca” a crise de confiança? A partilhar conhecimento. “Antes, o conhecimento era controlado, porque é um poder. A Wikipedia é um exemplo daquilo que acontece quando invertemos os paradigmas e partilhamos o poder do conhecimento”. “Nenhum de nós vai mudar o mundo”, avisa Katherine Maher, mas é possível “contribuir para fazer da Internet um lugar melhor”. “
Temos de construir as coisas de forma mais lenta mas que seja duradoura. Estou a pedir-vos que confiem uns nos outros, porque acreditamos no poder das ideias, na next big thing.” Num mundo da crise de confiança, Katherine Maher prefere apoiar-se nos contributos feitos pelas pessoas de todo o mundo para construir a maior enciclopédia de acesso livre e um dos maiores repositórios de conhecimento do mundo digital.
“A Wikipedia é um testemunho à nossa curiosidade e uma prova da colaboração: cada contribuição envolve encontrar diferentes fontes, avaliar e apresentar o resumo mais neutro possível.”