O que S. Paulo escreveu na Primeira Carta aos Coríntios é mais pertinente que nunca à data de hoje: resta-nos a fé, a esperança e o amor, sendo que dos três mais crucial é o amor. Pode tratar-se de amor universal, amor compassivo, amor familiar, amizade, amor apaixonado, etc. Existem múltiplas maneiras de amar alguém, diferentes tipos de sentimento, mas apenas uma palavra: “amor”. E esse sentimento não foi erradicado, permanecendo e tendo em muitos casos sido fortalecido, em tempos de pandemia.
A pandemia teve e terá múltiplas consequências a nível económico e político, mas impactou, também, os nossos relacionamentos pessoais. A quarentena obrigou (e obriga ainda, onde perdura) à convivência em grande proximidade com alguns, impondo o distanciamento social em relação a outros. A vida em confinamento exigiu o contacto constante no âmbito do mesmo lar, mas ditou o afastamento de todos os outros.
As medidas de distanciamento social eliminaram os mecanismos usuais de socialização e obrigaram ao recurso intensivo a de outros meios de comunicação e conexão ao outro (como as videoconferências, as mensagens e as plataformas sociais).
Registaram-se momentos inesquecíveis. A resiliência tomou muitas formas como as seguintes: (i) execuções artísticas em que artistas intérpretes ou executantes, ora membros de orquestras, ora de bandas, ora de companhias de bailado, se uniram no ciberespaço e não num mesmo espaço físico e assim celebraram a Arte, (ii) concertos improvisados em varandas, gravados em telemóveis e rapidamente divulgados pela net fora, (iii) grupos de apoio online solidariamente criados em redor de causas variadas e (iv) gritos de «Stay Strong» lançados aos sete ventos de telhados pelo mundo foram que uniram e fortaleceram comunidades.
A nível familiar, a vida como a conhecemos parou com a quarentena, tendo dado lugar a mais tempo livre em confinamento. Famílias houve em que o aconchego imposto pela pandemia gerou convívio, partilha e comunicação salutares, consolidando relacionamentos. De tal modo que vem aí um baby boom, fruto desse período de estreita convivência – provavelmente o maior baby boom de todos os tempos segundo o Daily Express e a Fox News.
Noutros casos, o confinamento a par do stress financeiro causado por uma economia que sucumbiu de modo não paulatino aos efeitos secundários do Covid-19 causaram conflitos conjugais e divórcios.
Tal foi desde logo augurado, em Inglaterra, pela pragmática Baronesa Shackleton de Belgravia, que anunciou a sua previsão em plena Câmara dos Lordes (segundo o Independent), tendo o vaticínio sido confirmado, por exemplo, na cidade chinesa de Xi’an, onde rígidas medidas de isolamento andaram de mão em mão com um número recorde de divórcios (segundo a Sky News).
Mas o isolamento não pôs termo ao romance, tendo alterado, sim, o processo subjacente. O vírus invocou estratégias tradicionais de namoro entre potenciais parceiros que, confinados que estavam, se viram obrigados a dialogar, a revelar medos e esperanças, sentimentos e maneiras de pensar, a conhecer melhor o outro e a seleccionar (parceiro) de forma potencialmente mais certeira.
Isto é, a pandemia possibilitou que o romance e o apego se desenvolvessem lentamente, estimulando o seu florescimento a longo prazo e lançando, consequentemente, as pedras fundamentais de uma parceria sólida.
A verdade é que embora o amor romântico se possa desencadear à velocidade da luz, os sentimentos de profundo apego levam o seu tempo a emergir. Assim, por surpreendente que possa parecer, a era pós-Covid pode bem incluir parcerias mais felizes e duradouras.
Invoco, de novo, o hino de São Paulo ao amor: como bem disse aos Coríntios, no Capítulo 13 da Primeira Carta, resta-nos a fé, a esperança e o amor sendo que dos três mais crucial é o amor. Pode tratar-se de amor universal, amor compassivo, amor familiar, amizade, amor apaixonado etc. Existem múltiplas maneiras de amar alguém, diferentes tipos de sentimento, mas apenas uma palavra: “amor”.
E esse sentimento não foi erradicado, permanecendo e tendo em muitos casos sido fortalecido, em tempos de pandemia.