Opinião de Eduardo Fitas, vice-Presidente da Accenture Portugal, responsável pela área de Comunicações, Media e Tecnologia.
Terminou na passada sexta-feira mais uma edição da CES 2019, focado nas tecnologias inovadoras – 5G, realidade imersiva e confiança digital – que oferecem a mais recente personalização e experiência ao consumidor final, tornando possível um ecossistema conectado através de cidades e casas inteligentes e uma nova geração de automóveis. Verificou-se que há agora um maior investimento das empresas de forma a garantir uma maior segurança e privacidade dos dados, tendo a tecnologia blockchain como base. O CES 2019 confirmou as nossas suspeitas de que a AR (Realidade Aumentada), VR (Realidade Virtual) e a XR (Realidade Estendida) farão parte das nossas vidas. Estes foram os temas em destaque na Consumer Eletronics Show 2019, que decorreu em Las Vegas entre o dia 8 e 11 de janeiro, e onde os assistentes de voz como a Google e Alexa protagonizaram parte dos debates do evento. Na Accenture identificámos alguns temas com base nas pesquisas realizadas e nas últimas interações com clientes do setor.
5G a conectar tudo
A CES apresentou este ano a próxima etapa do 5G, com uma visão tangível aos benefícios que esta tecnologia oferece às indústrias do mundo inteiro e à proliferação dos dispositivos que compilam dados em qualquer momento e lugar, e todas as suas implicações para as empresas e para o utilizador final. A tecnologia 5G é um requisito chave para tornar possível a implementação de inovações como os veículos autónomos, o avanço das cidades inteligentes e a loT, que conecta tudo isto.
Embora o número de casas conectadas vá aumentar, os consumidores irão optar por alternativas de forma a personalizar as suas casas, o que terá influência nas plataformas e na sua forma de utilização em cada mercado. As marcas deverão responder à inquietação dos consumidores sobre a forma como utilizam os seus dados, fazendo com que se sintam seguros e confortáveis numa casa verdadeiramente conectada, uma vez que terá um grande impacto no seu processo de tomada de decisão de escolha de um produto e na sua fidelização.
Em Portugal já todos os operadores fizeram os seus testes e provas de lançamento de 5G. Seguindo o nosso DNA de inovação em comunicações móveis, o que se espera é que consigamos aproveitar a oportunidade para liderar o desenvolvimento de soluções 5G para empresas e particulares criando um ecossistema nacional neste contexto.
AR, VR e XR: a realidade imersiva torna-se a tendência dominante e marca a tendência
A tecnologia imersiva vai afetar a forma como os produtores de conteúdos, as marcas e uma ampla variedade de setores lidam com o mercado.
No que diz respeito à Realidade Virtual, os consumidores já a levam para casa à medida que a experimentam e comprovam os seus benefícios. O foco deste ano está na corrida ao fabrico de headsets wireless com o formato mais adequado para o utilizador final, num esforço em atrair um público que está a demorar a adaptar-se à realidade virtual. A Realidade Virtual tem afetado praticamente todos os setores, permitindo ao consumidor final mergulhar em milhares de experiências nas indústrias da música, moda e entretenimento.
Em relação à Realidade Aumentada, os telemóveis e tablets já não são os únicos dispositivos para esta tecnologia. O objetivo da Realidade Aumentada é proporcionar uma imersão confortável e natural, pelo que o debate se centra na sua melhoria contínua, com rumores sobre o desaparecimento dos telefones e tablets e com as questões políticas e éticas relacionadas com a privacidade, à medida que mais consumidores introduzem a Realidade Aumentada nas suas vidas.
A CES ofereceu experiências em Realidade Aumentada e/ou Virtual em todas as indústrias e formas possíveis e imaginárias para levar as pessoas a lugares onde nunca tinham estado e também para trazer produtos ao seu mundo como nunca tinha sido feito antes.
No que concerne à Realidade Estendida, os jogos e entretenimento são os que mais têm utilizado esta tecnologia até agora. No entanto, o uso de dispositivos XR que podem ser usados e as aplicações móveis de apoio passarão a fazer parte do quotidiano, incluídos nos parques temáticos, nos centros turísticos e na educação contínua, o que trará uma revolução num setor tão importante no nosso país como o do turismo. A XR foi definida como a combinação dos ambientes AR e VR com tecnologias imersivas aprimoradas, ou a fusão dos mundos físico e virtual que irão mudar a forma como vivemos, trabalhamos e jogamos.
Os consumidores que já experienciaram os benefícios da XR vão estar abertos a introduzi-lo noutras áreas das suas vidas. O XR irá gerar benefícios de forma natural para os consumidores em indústrias adicionais, como a saúde, com muitos profissionais especialistas conscientes de como a XR pode melhorar o atendimento ao paciente no tratamento de muitas doenças e diversas gerações.
Confiança digital em primeiro plano
A confiança digital foi um tema prioritário na CES 2019, agora que cada vez mais casas estão conectadas e existe um maior número de pessoas dependentes de DVA – assistentes de voz digitais que estão sempre à escuta e que nos acompanham em diversos momentos (aconselhamento médico, gestão financeira, etc.). Assim, o uso de dados e a confiança digital aparecem cada vez mais em primeiro plano.
No geral, os consumidores estão mais cautelosos e rigorosos com a ética nas empresas e as suas práticas de privacidade e segurança de dados, pelo que esperam também um maior controlo sobre quem tem acesso à sua localização e a outros dados privados.
Relacionado com esta questão, o crescente uso da tecnologia blockchain no setor dos media continua a resolver desafios relacionados com a partilha de dados dos consumidores e com a gestão de direitos digitais, com um foco essencial no que é acessível e no que é privado e para a gestão dos direitos e controlo de dados valiosos. No início de 2019, mais de metade dos grupos de media a nível global vão usar tecnologia blockchain ou vão abordar estratégias para a implementar. A experiência nos mesmos indica que a blockchain é uma solução revolucionária e definitiva para os crescentes custos da tecnologia de publicidade, e as horas dedicadas a conciliar os relatórios de pagamentos posteriores às campanhas, ajudando a indústria a obter um ROI mais tangível que incentiva os anunciantes a investir mais em 2019 e nos anos posteriores.
Dispositivos ativados por voz e Alexa
À medida que a popularidade dos dispositivos ativados por voz como o Amazon Echo aumenta, as marcas e empresas lançam, cada vez mais, produtos com assistente de voz digitais. A maioria dos eletrodomésticos, televisões inteligentes inclusive, vão dispor de tecnologia de voz, apresentada na CES como um “membro da casa inteligente”. As televisões e os dispositivos streaming vão conectar-se com reprodutores de Blu-ray com controlo de áudio de forma a ajudar a melhorar a experiência cinematográfica do consumidor final. A CES revelou produtos ativados por voz, tanto novos como melhorados, que são mais acessíveis e adequados aos consumidores. Por exemplo, praticamente todos os dispositivos relacionados com a cozinha irão incluir um comando de voz.
Outros dispositivos para a casa apresentados na CES 2019 são espelhos, chuveiros e lâmpadas inteligentes ativadas por voz, que vão ajudar a personalizar as casas de banho para qualquer tipo de utilizador, tomada, carregador, interruptor e praticamente qualquer dispositivo eletrónico. Quanto mais empresas adotarem o comando por voz, mais rapidamente haverão mais dispositivos que se ativem desta forma, tanto dentro como fora de casa (em veículos e áreas públicas), em comparação com dispositivos e produtos que não podem ser ativados por voz. À medida que a Alexa é incorporada em mais dispositivos, maior será o desafio e preocupação em saber em que dispositivos a ativação por voz faz mais sentido.
Automóveis autónomos e inovações tecnológicas para veículos
As qualidades inerentes dos assistentes virtuais, comandos de voz e carros conectados como extensões das nossas casas inteligentes vão tornar-se mais importantes à medida que a nova tecnologia de conectividade for incorporada nos nossos veículos. Neste tema, observou-se uma nova gama de soluções na CES deste ano, juntamente com um esforço real para criar experiências automóveis verdadeiramente personalizadas através da inteligência artificial e de outras soluções que vão permitir aos automóveis aprender as preferências dos condutores e responder-lhes.
Outra questão importante considerada foi a mobilidade inteligente, ou como os carros se vão tornar parte integrante do sistema de mobilidade intermodal que está a ser implementada atualmente. As novas soluções farão com que a partilha de veículos, o carro com condutor e a “mobilidade multimodal” sejam ainda mais convenientes, eficientes em custos e sustentáveis. Tudo aponta também para que a corrida em direção ao veículo “totalmente autónomo” passará este ano à etapa seguinte. Esta tendência é especialmente importante na Europa, quando contemplada com a renovação tecnológica que vem das instituições através de políticas muito mais rígidas de controlo de emissões e apoio a tecnologias limpas, o que aumenta o investimento necessário para a aquisição e reduz os prazos de vida útil.
Algumas das tecnologias-chave relacionadas presentes na CES deste ano foram versões melhoradas do LiDAR (deteção de distância a laser), soluções de reconhecimento fotográfico e imagem para veículos autónomos e soluções de armazenamento, gestão, classificação e recuperação de dados de capacitação, muitos dos quais não virão de players estabelecidos, mas de start-ups e de empresas de fora do setor automóvel. O 5G, outra das tecnologias que permitem os automóveis autónomos, teve um papel fundamental nesta feira, com os fornecedores de redes e empresas de telecomunicações a preparem-se para o lançamento do padrão de alta velocidade.
Outras soluções tecnológicas esperadas no setor automóvel terão como protagonista a revolução dos veículos elétricos, que se espera que chegue aos mercados este ano, incluindo a gestão e recarga de baterias.
Nesta última edição da CES, o maior palco de inovação tecnológica destinada ao consumidor, observámos que a evolução é cada vez mais no sentido de oferecer a melhor e mais personalizada experiência possível, através de um ambiente cada vez mais inteligente e conectado nas partes integrantes do nosso quotidiano, como a nossa casa ou carro. As tecnologias imersivas vão permitir uma combinação do real e do virtual ao mesmo tempo que nos obrigarão a ter uma maior preocupação com a segurança.
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