Como poderá a tecnologia sustentar as ambições de crescimento da indústria?

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Fonte: Pixabay

Opinião de Hugo Oliveira, Enterprise Market Director da Sage

Não há nada de tão esclarecedor sobre as alterações produzidas pela globalização como uma visita ao supermercado. Atualmente, é possível encontrar num supermercado mangas provenientes da Índia, salmão do Alasca, espargos do Peru e muitos mais produtos de todos os cantos do mundo.

Porém, o mundo cada vez mais pequeno em que vivemos não teve apenas impacto sobre a forma como cozinhamos – alterou fundamentalmente as nossas expetativas quanto aos produtos que compramos e as empresas com as quais lidamos. Como consumidores, tornámo-nos muito mais criteriosos e exigentes: preocupamo-nos em saber a proveniência dos produtos que compramos e queremos ter a certeza de que o que compramos provém de um comércio justo e ecológico.

E, no atual ambiente extremamente competitivo, proporcionar essas garantias é fundamental para os fabricantes. Ter o melhor produto ou o preço mais baixo deixou de ser suficiente, pois o fabricante tem de ser capaz de responder às perguntas dos consumidores, que vão desde o trabalho infantil à pegada de carbono da cadeia de abastecimento. Entretanto, os fabricantes devem assegurar também que conseguem rastrear todos os bens, desde a matéria-prima ao produto acabado, sabendo que qualquer defeito poderá acartar consequências desastrosas para a sua reputação caso resulte em lesões ou morte.

O futuro da indústria pertence aos negócios que tirem o melhor proveito das novas tecnologias para oferecer estes benefícios aos consumidores, ao mesmo tempo que reduzem os custos operacionais e melhoram a sua eficiência. A Indústria 4.0 e as tecnologias emergentes, tais como a IA, a IoT e a tecnologia blockchain criarão maior conhecimento e transparência, conduzindo a uma relação de confiança e mais próxima entre as marcas e os consumidores.

Porém, com a indústria sujeita a esta pressão vinda de todos os lados, e tantas prioridades que competem pela sua atenção, quais serão as tecnologias que sustentarão as suas ambições de crescimento? No princípio deste ano, a Sage conversou com 900 profissionais de topo de fabricantes dos EUA, do Reino Unido e do Canadá para descobrir quais são os principais desafios que enfrentam – e as tecnologias que, segundo eles, são a resposta a esses mesmos desafios.

Prioridades em competição

Qualquer negócio tem como desejo maximizar os lucros, aumentando os proveitos e reduzindo os custos. Ao procurar respostas para o futuro da indústria de processos, a chave é observar as prioridades específicas dos fabricantes que procuram atingir esses objetivos.

De acordo com a pesquisa da Sage, as prioridades que se afiguram mais urgentes para os industriais do Reino Unido, dos EUA e do Canadá passam pela melhoria do serviço aos clientes, pelo investimento tecnológico como forma de melhorar a produtividade e pela I&D para criar novos produtos e serviços para a sua base de clientes. Não é surpresa que o investimento na produtividade e no serviço aos clientes também se encontre entre os três principais objetivos de longo prazo dos industriais.

Com o crescimento de estilos de vida vegetarianos e veganos e o aumento da litigação em caso de alimentos contaminados que chegam às prateleiras dos supermercados, uma outra área-chave que requer atenção é a rastreabilidade. Como vimos, os clientes exigem cada vez mais transparência das marcas e os fabricantes reconhecem este facto, com mais de metade dos inquiridos em cada país a identificar a perda de valor da marca como o principal risco da incapacidade de integrar a rastreabilidade na cadeia de abastecimento.

Investir no futuro

A mãos com tantas prioridades concorrentes de curto e longo prazo, pode ser difícil saber por onde começar. Porém, a pesquisa da Sage descobriu que o investimento em tecnologias emergentes pode resolver muitas das pressões com que a indústria se debate. Os principais benefícios de um tal investimento incluem a redução dos custos operacionais, o aumento da visibilidade ou rastreabilidade ao longo da cadeia de fornecimento e a automação de tarefas repetitivas.

Apesar de os fabricantes estarem sujeitos a muitas e diversas pressões, e apesar de existirem muitas tecnologias que prometem transformar as suas operações, o planeamento de recursos empresariais (Enterprise Resource Planning – ERP) é a resposta a muitas das prioridades mais urgentes. O ERP apoia os negócios conectados como nenhuma outra tecnologia o consegue fazer, ligando o front office ao back office e proporcionando informações instantâneas sobre as operações do dia-a-dia, o que, por sua vez, ajuda à tomada de decisões estratégicas.

Apesar de ser encorajador que a indústria de processos esteja a abraçar as oportunidades oferecidas pelas novas tecnologias, num momento em que muitas organizações consideram ou já se encontram a implementar importantes iniciativas de transformação digital, é crucial que as TI se encontrem sincronizadas com os outros departamentos.

A globalização e os seus desafios e oportunidades não irão desaparecer. Uma das conclusões mais importantes do nosso estudo foi que 99% dos industriais se estão a preparar para crescer – e a adoção de novas tecnologias significa que têm razão em estar confiantes. É, no entanto, fundamental que os industriais adotem uma abordagem estratégica a estes enormes desafios, de modo a conseguirem permanecer competitivos no ambiente empresarial do futuro.

Se as empresas e as TI conseguirem trabalhar juntas de modo a alinhar a tecnologia com a estratégia empresarial mais alargada, as perspetivas para o setor industrial afiguram-se muito mais positivas do que o que os fatalistas pretendem sugerir.