A Farfetch está a crescer vertiginosamente em número de funcionários em Portugal, à medida que o primeiro unicórnio português (já vale mais do que mil milhões de dólares) ganha parceiros e relevância mundial. Analisamos de seguida a sua política de captar e reter o seu “bem mais precioso”, o talento.
[O tema de capa da revista Insider do mês de julho é, precisamente, a forma como os dois unicórnios portugueses – Farfetch e Outsystems – estão a mudar as nossas vidas através da tecnologia.]
Por Ana Laranjeiro e João Tomé
Os escritórios de Leça do Balio são “casa” para quase metade dos funcionários da Farfetch no mundo – são perto de mil, a nível global rondam os 2300 e em Portugal são cerca de 1800. Cerca porque, de quinze em quinze dias, à segunda-feira, entram novas pessoas (uma média de 76 por mês e houve recorde em janeiro, quando entraram 100), ao ponto de Ana Sousa, Talent & People Director, da empresa, admitir que já é difícil conhecer todos. “Temos vindo a crescer muito. Entrei há quatro anos, em abril de 2014, e éramos 190 colaboradores. Metade era engenharia. Agora somos 1800” em Portugal, metade dos quais na área de engenharia e produto”, explica.
A cultura da empresa tem sido uma das formas de aumentar e manter o talento, até porque os engenheiros portugueses, a maioria, são cada vez mais procurados. “Os nossos engenheiros são contactados diariamente pelo LinkedIn por empresas estrangeiras, o que nos dá alguma satisfação, porque significa que estamos a criar bom talento”, reconhece Ana Sousa.
Ricardo Felgueiras é manager de engenharia da Farfetch há cinco anos, começou como “mero engenheiro” e foi mostrando valor para passar a manager para programar um catálogo de produtos em backoffice. “Quando entrei éramos cerca de 20 programadores, agora devemos ser mais de 800 só em tecnologia. É uma realidade diferente e permite-nos fazer muito mais”, admitiu.
Quando entrou não sabia o que era a Farfetch, hoje recusa várias propostas para sair para multinacionais. “Consigo crescer aqui, aprender muito e ter muitas oportunidades até porque com tanta gente a entrar vão continuar a haver posições de liderança”. O desafio maior é conseguir com tanta gente de 22 nacionalidades diferentes em tantos países, “manter o foco no objetivo final”.
Nikola Misic, engenheiro sénior de software, veio da Sérvia para o Porto em fevereiro. Nunca tinha ouvido falar da Farfetch antes, mas ficou surpreendido por ver uma multinacional tecnologicamente tão avançada em Portugal e não se arrepende, só lamenta a falta do sol prometido.
Voltando à responsável de recursos humanos da Farfetch, Ana Sousa evidencia algumas práticas para “manter um namoro constante” aos funcionários. Com a informalidade no topo, inclusive no “dress code”. Daí que seja raro ver alguém vestido com roupa vendida no próprio site da Farfetch (os trabalhadores têm 20% de desconto) nos mil funcionários em Leça do Balio.
A Farfetch também considera que é necessário que haja um equilíbrio entre a vida pessoal e profissional, daí não só dar flexibilidade, ter três autocarros diários para trazer e levar trabalhadores, e tem pequeno-almoço todos os dias, havendo sempre sopa, fruta, pão e, em certos dias, almoço completo.
Há uma impressionante sala com jogos com matraquilhos, videojogos, jogos de arcada, mesa de ping pong, entre outras diversões. Não falta um espaço de convívio onde se fazem aulas de ioga e com um palco para tocar música e, noutro piso, uma sala para dormir sestas, além de inúmeros espaços com sofás para ter reuniões ou descontrair por todo o escritório (também vimos por lá zonas de minigolfe, escorregas para descer de um piso para o outro e bolas de pilatos).
Além deste estilo de escritório à grande tecnológica norte-americana (Facebook e Google, por exemplo), a Farfetch está a desenvolver um projeto em que a ideia é criar “um sistema holístico em que possa haver nutricionistas, psicólogos, médicos e que possamos olhar para as pessoas” e perceber como é que podem ter um desempenho melhor.
“Nós temos um horário, que a lei impõe. Mas temos flexibilidade. Se alguém precisa de ir a uma consulta há essa possibilidade. Se alguém precisa de trabalhar a partir de casa isso também acontece. Damos muita margem aos líderes das equipas. É gerido dentro da própria equipa: eles próprios são responsáveis pela entrega de projetos; valorizamos muito mais a entrega do projeto do que propriamente as horas em que as pessoas estão a trabalhar”, sublinha Ana Sousa.
Esta aposta nos funcionários, não é vista pela Farfetch como um custo, mas como “um investimento nas pessoas”. “Se nós não investirmos nas pessoas, não podemos esperar que elas possam devolver. Quando investimos, elas sentem-se comprometidas. Sentem que têm espaço e que têm lugar”, rematou.