Mark Zuckerberg deu uma entrevista ao podcast da reputada jornalista de tecnologia, Kara Swisher, onde foi posto à prova em temáticas complicadas.
O CEO do Facebook, cujos primeiros cartões profissionais celebrizaram a expressão “I’m CEO, Bitch!”, preferiu não revelar o que sentiu quando o Facebook foi acusado de ser responsável pela morte de pessoas em Myanmar e fez algumas revelações significativas e até não escapou a uma polémica relacionada com o Holocausto.
À semelhança do que já tinha feito nos inquéritos oficiais em que participou nos Estados Unidos e na Europa, Zuckerberg continuou focado em explicar como a inteligência artificial vai e está a ajudar a plataforma a reduzir contas falsas e retirar importância e exposição na rede social a notícias falsas.
Também explicou que há cinco ou seis anos o Facebook não tinha capacidade financeira – como tem hoje – para contratar 20 mil pessoas para rever de forma eficiente conteúdos ofensivos, violentos ou com intenções de manipulação política. “Agora já podemos ter esse número de pessoas e há uma lista de procedimentos para se avaliar o que se remove, o que se deixa de expor para muitos e o que se mantém como estava”.
Aqui fica uma lista de alguns dos tópicos mais relevantes referidos na entrevista de 90 minutos, que pode ser ouvida (e lida) aqui:
Despedimento não está nos planos: Zuckerberg não se irá despedir a si próprio, embora indique que ele é sempre o máximo responsável pela gestão do Facebook e, por isso, pelo facto da rede social não ter antecipado questões como a manipulação de eleições ou o discurso de ódio propagado no Facebook que levou a vários mortes em Myanmar.
Rússia influenciou mesmo as eleições norte-americanas: Swisher quis que Zuckerberg contrariasse de forma direta Donald Trump – que tem desvalorizado sempre o papel da Rússia nas eleições norte-americanas. O CEO do Facebook admitiu que em 2015 descobriram grupos organizados russos que influenciaram eleitores e reportaram isso mesmo às autoridades. “As autoridades chamaram ao grupo ATP28 e era dos serviços militares russos”. Depois viram atividades semelhantes durante a campanha, em 2016, “com tentativas de aceder e manipular contas de pessoas tanto do partido Democrata como do partido Republicano”, onde também verificaram muitas contas e páginas falsas ligadas a algo chamado DCLeaks – de forma a enviar informação roubada para jornalistas. “O que fomos mais lentos a identificar foi um grupo que tinha o nome de IRA, Internet Research Agency, que basicamente estava a criar uma rede de contas falsas de forma a divulgar informação que dividisse opiniões”.
Os problemas do Facebook Live com respostas em 10 minutos: Zuckerberg admite que quando lançaram a funcionalidade dos vídeos em direto, não estavam preparados para situações de bullying, suicídios ou terrorismo em direto na plataforma mas que, hoje, já conseguem agir em apenas 10 minutos, a vídeos problemáticos que entrem na plataforma.
Fazer jogging na praça de Tianamen, na China: Zuckerberg fez jogging na lendária praça chinesa – palco de massacre em 1989 – e diz, que isso, teve uma cobertura exagerada no media. Kara contrapõe indicando: “não podes correr na praça Tianamen, parece que está a cooperar com o governo chinês”. Zuckerberg admite que a sua rede social continua a querer entrar no país mais populoso do planeta, onde continua bloqueado. “Ainda estamos longe de conseguir entrar, temos de arranjar uma solução com as leis lá e os nossos valores”, mas para já não há fumo branco.
Quebrar monopólios de Facebook ou Amazon: Zuckerberg esteve determinado em explicar porque os governos (especialmente o norte-americano), não devem quebrar ou dividir empresas que detém monopólios como o Facebook ou Amazon: “se nos dividirem a nós, vão ter um problema maior porque nós temos valores íntegros e quem ocupar o nosso lugar pode não o ter – não nos podemos esquecer que alternativa serão as empresas chinesas com um poderio muito grande nesta área que podiam ocupar o nosso lugar”.
Os Estados Unidos não chegam para pagar as contas: “Se nós não fossemos uma empresa internacional e tivéssemos de fechar os nossos servidores fora dos EUA, não seríamos nada lucrativos e teríamos dificuldade em pagar as contas. A razão porque somos tão grandes e bem sucedidos, é que criámos algo nos EUA que agora mais de dois mil milhões de pessoas no mundo, que é de onde vem a nossa margem”. Zuckerberg defende assim que empresas americanas devem continuar a exportar valor para o exterior e não devem ser quebradas.
O que é o Facebook: “Em geral somos uma rede social, mas continuo a ver-nos como uma ferramenta. Não concordo com quem diz que somos um meio de comunicação social, algo que se foca mais no conteúdo. Para mim sempre teve mais a ver com as pessoas em particular”. Zuckerberg continua, indicando que “o mais importante no que fazemos é a forma como criamos uma rede e criamos relações entre pessoas, que é do mais importante que se pode fazer”.
Falsidades não são removidas da plataforma: Zuckerberg explica com pormenor como conteúdos falsos e embustes não são removidos do Facebook. “A nossa abordagem é olharmos para aquilo que tem mais destaque e é visto por mais pessoas, se alguém acusa o conteúdo de ser falso ou um embuste, enviamos para os nossos revisores (fact checkers), que são todos reputados e seguem princípios standard de revisão de factos, e se disserem que são mesmo conteúdos falsos, nós reduzimos significativamente a distribuição do conteúdo na plataforma”. Ou seja, mesmo um conteúdo-embuste fica no Facebook, só é prejudicado para que menos o vejam. “Há uma linha difícil de determinar em relação à liberdade de expressão e as pessoas muitas vezes dizem coisas falsas sem saberem que estão erradas”.
O que o Facebook remove envolve violência: Zuckerberg dá o exemplo dos incidentes violentes em Myanmar e Sri Lanca, países onde há uma história de violência e onde a preocupação ainda é maior em remover conteúdos ou fotos que promovam essa clima mais intenso. “Se alguém está a tentar magoar alguém, ou atacar alguém, então removemos”.
A polémica com o Holocausto: Para explicar que há conteúdo que ele próprio considera errado, mas que nem assim o remove da plataforma, Zuckerberg deu o exemplo do Holocausto. “Sou judeu e há algumas pessoas que negam que o Holocausto tenha acontecido. Acho isso ofensivo. Mas não acredito que a nossa plataforma o deve remover, porque acho que são pessoas que acreditam naquilo, simplesmente estão erradas, não há intenção em errar”. Swisher contrapõe, indicando que pode haver intenção, mas Zuckerberg diz que “isso é difícil de determinar”. Neste tema, Zuckerberg foi acusado logo após a entrevista, de ter sido conivente com quem defende que o Holocausto não existiu e o próprio CEO do Facebook reforçou em comunicado “ficar profundamente ofendido” com quem nega o Holocausto e nunca quis desvalorizar isso.