Chama-se Eólo, tem data de lançamento marcada para esta terça-feira e permitirá criar vários perfis de ventos, com o objetivo de dar quase em tempo real dados sobre as mudanças meteorológicas. E vai levar a bordo tecnologia desenvolvida por empresas portuguesas.
Foi batizado de Eólo justamente pela ligação à mitologia grega, onde Eólo era o deus e guardião dos ventos. O satélite da Agência Espacial Europeia (ESA) é lançado esta terça-feira, a partir da base espacial de Kourou, na Guiana Francesa, às 22 horas (hora de Lisboa).
A ideia deste satélite, que será lançado a partir de um foguetão Vega, é a de utilizar tecnologia de laser para conseguir medir os ventos ao redor do globo. Assim que atingir os 320 quilómetros de altura, altitude em que estará em órbita, o satélite separar-se-á do foguetão Vega.
A ideia desta missão é a de que a informação que vai recolhendo possa ser utilizada para acompanhar, quase em tempo real, todos as variações nos ventos e perceber de que forma influenciam as mudanças meteorológicas. Além disso, também dará aos cientistas uma forma de perceber melhor como se formam fenómenos extremos, como furacões, por exemplo.
Segundo a ESA, este satélite será “revolucionário” na forma como são acompanhados os ventos. Hoje em dia, este acompanhamento é feito com recurso a balões meteorológicos, aeronaves e outros satélites, que fazem medições dos ventos com localizações aproximadas dos mares.
Mas antes de rumar ao espaço foi preciso desenvolver vários trabalhos ainda em Terra. A preparação de um satélite do género pode demorar vários anos, com muita investigação e várias entidades envolvidas no processo. Neste caso, duas das empresas são portuguesas: a LusoSpace e a Omnidea.
A lisboeta LusoSpace já não é uma estreante no trabalho com a ESA. Conforme conta à Insider Ivo Vieira, o CEO da empresa, “a LusoSpace já forneceu cerca de 20 magnetómetros, utilizados em dez missões diferentes”.
Ainda que o Eólo só entre em órbita esta semana, o magnetómetro já foi entregue à ESA em 2006, explica a empresa. “É um instrumento que permite ajudar o satélite a saber qual é a sua orientação”, explica Ivo Vieira, referindo que se trata de “um instrumento crítico” na missão. “Tem uma espécie de bússola eletrónica e é o primeiro equipamento usado a seguir ao lançamento”.
Ao dar ao satélite informação sobre a sua orientação, permite “apontar os painéis solares para o sol”, daí a sua importância neste lançamento. A LusoSpace colabora “quase exclusivamente com a ESA”, também no desenvolvimento para outras áreas.
Já a Omnidea desenvolveu o seu contributo para esta missão a partir da subsidiária alemã. Segundo Nuno Fernandes, general manager da Omnidea-RTG, situada em Berlim, a empresa produziu e testou “cinco válvulas de isolamento do sistema de purga do ALADIN, o componente mais importante do Aeolus (designação inglesa do Éolo)”.
O ALADIN é o elemento onde se encontra um telescópio e um ‘laser doppler’. “A válvula faz parte do sistema de limpeza ‘in-situ’ que assegura o isolamento dos diferentes componentes do sistema de purga do ALADIN, alternadamente isolando o tanque do sistema de alimentação (posição 1), ligando o sistema alimentação aos elementos de limpeza (posição 2) ou sendo colocada na sua posição final em que permite a comunicação do tanque com o sistema de alimentação”, explica Nuno Fernandes.
Também não é a primeira vez que a Omnidea colabora com a ESA. “O grupo Omnidea trabalha com a Agência Espacial Europeia há mais de 12 anos”, indica Nuno Fernandes, referindo ainda que o “projeto decorreu entre março de 2011 e maio de 2013”, com o contributo de “um engenheiro de projeto e um técnico”.
Esta válvula foi desenvolvida a “pedido da ESA e da Airbus UK”, para realizar “um rápido desenvolvimento e qualificação de deste tipo de equipamentos, algo do qual possuímos significativa experiência e ‘know-how'”.
O lançamento deste novo satélite poderá ser acompanhado em direto, através de um live-streaming da Agência Espacial Europeia.