Ferramenta de inteligência artificial vai, em agosto, defrontar equipas de jogadores profissionais no maior evento mundial de Dota 2.
Sempre que um ‘computador’ ganha um jogo no qual os humanos são grandes mestres, é dado mais um passo importante nos avanços da inteligência artificial. Foi assim com o IBM Deep Blue e o xadrez, foi assim com o IBM Watson e o Jeopardy, foi assim com o AlphaGo e o Go. Agora estamos cada vez mais perto do próximo grande marco.
Esta semana foi revelado que o sistema de inteligência artificial OpenAI Five, composto por cinco redes neurais e desenvolvido pela organização sem fins lucrativos OpenAI, venceu várias equipas de humanos semi-profissionais no jogo Dota 2.
O OpenAI Five ‘consome’ 128 mil processadores e 256 unidades de processamento gráfico
Dota 2 é um jogo online de estratégia que coloca frente a frente duas equipas de cinco elementos cada. O objetivo é tentar destruir as bases adversárias e ao mesmo tempo impedir que as nossas sejam destruídas. Enquanto jogo, Dota 2 é visto como um desafio de grande complexidade para os sistemas de inteligência artificial.
No xadrez, em cada jogada, o jogador tem em média 35 movimentos possíveis no tabuleiro. No jogo Go, a média de jogadas possíveis em cada turno ronda as 250. Já num jogo como Dota 2 o computador precisa de avaliar em média mil movimentos a cada 125 milésimos de segundo.
O que está a estimular a comunidade de entusiastas em IA é a capacidade de coordenação e de ‘espírito de equipa’ que o OpenAI Five mostrou nestes desafios. Na prática as cinco redes neurais tiveram de partilhar informações e estratégia entre si para conseguirem garantir a vitória nos jogos. Uma destas vozes entusiastas é o próprio Bill Gates, o icónico cofundador da Microsoft.
#AI bots just beat humans at the video game Dota 2. That’s a big deal, because their victory required teamwork and collaboration – a huge milestone in advancing artificial intelligence. https://t.co/UqIUhh9xFc
— Bill Gates (@BillGates) 26 de junho de 2018
O desafio com as equipas semi-profissionais é mais um passo rumo ao grande objetivo: em agosto acontece o The International, no Canadá, o maior evento competitivo de Dota 2 e que tem à espera dos atletas profissionais prémios totais superiores a 15 milhões de dólares.
Nesse evento vai acontecer o derradeiro teste do OpenAI Five – contra jogadores de topo a nível mundial, será que o sistema vai aguentar-se? Pelo caminho haverá um último treino, também contra jogadores profissionais, e que vai acontecer no dia 28 de julho.
Todos os dias o OpenAI Five treina o equivalente a 180 anos no jogo Dota 2
“Já vimos jogos de nível profissional a emergirem deste sistema”, disse o diretor de tecnologia da OpenAI, Greg Brockman, em entrevista à Wired.
Além da Open AI, também a Google está a desenvolver um projeto semelhante – em vez de ser focado em Dota 2 é no jogo Starcraft 2, que partilha características semelhantes.
O efeito Musk
Enquanto organização, a OpenAI tem no empreendedor Elon Musk o principal porta-estandarte – é um dos elementos fundadores. São conhecidos os receios de Musk relativamente à inteligência artificial – ao ponto de já ter dito que se não for uma tecnologia desenvolvida com ética, a supremacia das máquinas e a extinção dos humanos é um cenário que pode acontecer.
Justamente para prevenir este final catastrófico, Elon Musk ajudou a criar a OpenAI para acelerar o desenvolvimento de sistemas de inteligência artificial “de uma forma em que é mais provável que beneficie a humanidade como um todo”, lê-se no site da organização.
O que é que o mundo fica a ganhar com estes desenvolvimentos? Os mesmos algoritmos que agora potenciam o OpenAI Five e outras ferramentas de IA, como o AlphaGo Zero da Google, poderão no futuro ser adaptados a atividades específicas, como otimização de tarefas e dar apoio na tomada de decisões.
A Google, por exemplo, já usa sistemas de inteligência artificial para prever a probabilidade de morte dos pacientes em hospitais.