O nome Yaroslav Goncharov pode não ser o mais familiar mas, hoje em dia, meio mundo conhece a sua principal criação, a FaceApp. A aplicação de filtros que recorre a inteligência artificial gera controvérsia também pela política de privacidade; Goncharov promete alterações.
Em entrevista à Forbes, é possível ficar a saber mais sobre o russo que criou a popular aplicação. A aplicação FaceApp não é a primeira experiência do empreendedor russo, que conta com várias internacionalizações no currículo.
Estudou ciências da computação em São Petersburgo, na Rússia. Anos mais tarde, rumaria a Redmond, nos Estados Unidos, para trabalhar na Microsoft. Esta experiência profissional teve a duração de pouco mais de dois anos. À Forbes, conta que “tinha a certeza de que estava a construir o futuro”, ao desenvolver um projeto de sistema operativo móvel, numa época em que o Android da Google nem sequer existia.
Depois dessa experiência, assumiria a área tecnológica da SPB Software, uma empresa que desenvolvia software alternativo para o Windows Phone – uma plataforma que já era familiar ao programador russo. Com a divisão de mercado de sistemas operativo dividida maioritariamente entre Android e iOS, a empresa acabaria por mudar de estratégia e focar-se na plataforma Android – que ainda hoje domina o mercado e está presente numa larga franja de smartphones.
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Em 2011, já depois da mudança de foco, Goncharov conta à Forbes sobre a aquisição da SPB Software. Juntamente com Vassili Philippov e Sebastian-Justus Schmidt, Goncharov era também fundador da empresa. Há nove anos, a Yandex, conhecida como “o Google russo”, comprou a empresa. Até hoje, não é conhecido um valor concreto desta compra, embora exista o rumor de que a Yandex tenha oferecido 34 milhões de euros pela empresa.
“Vamos só dizer que ganhei dinheiro suficiente para criar a minha própria empresa e não me preocupar com investimentos adicionais”, explica à Forbes. Os restantes sócios da SPB também continuam sem especificar valores.
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Goncharov não vendeu apenas a empresa à Yandex, transitou para a gigante russa, onde diz ter desenvolvido um particular interesse por redes neuronais – a interação entre hardware e software, para conseguir aprender e processar informação de uma forma semelhante ao cérebro humano.
A aventura na Yandex duraria até 2013, até o programador russo sair da empresa para um novo projeto, uma ferramenta para testar o Wi-Fi de hotéis. Só em 2016 é que começaria a trabalhar naquilo que, um ano mais tarde, seria a FaceApp – o maior sucesso e dor de cabeça de Goncharov.
A bem-sucedida – e polémica – FaceApp
Com uma equipa composta por 12 pessoas, a trabalhar no Wireless Lab, a aplicação atingiu a escala global logo no ano de lançamento, em 2017, graças a um filtro chamado “Hot”, que tornaria as pessoas mais atraentes. Mas essa seria a primeira polémica da aplicação, com acusações de racismo. Sempre que alguém não caucasiano utilizava os filtros de inteligência artificial da aplicação, o tom da pele era automaticamente aclarado. As reclamações foram tantas que a empresa acabaria por aperfeiçoar este filtro.
Mais tarde, seguiram-se as experiências com os filtros de mudança de sexo – ainda antes de arrancarem no Snapchat, já tinham passado pela FaceApp.
Este ano, a aplicação voltava ao topo das tabelas das lojas de apps, pela curiosidade em torno de um filtro de envelhecimento. As redes sociais entusiasmaram-se com o desafio #FaceAppChallenge, que basicamente pede só aos utilizadores que usem a aplicação, tirem uma fotografia e partilhem nas rede sociais.
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Além do filtro, a FaceApp deu nas vistas (novamente) pela política de privacidade. No site da aplicação, a política de privacidade e os termos e condições não são atualizados desde 2017, o ano de lançamento.
É possível ler no site da aplicação que o serviço permite ao utilizador criar, publicar e partilhar conteúdos. No entanto, é ainda indicado que o utilizador “dá à FaceApp uma licença perpétua, irrevogável, não-exclusiva, livre de direitos de autor, global, totalmente paga e transmissível para reproduzir, modificar, adaptar, publicar, traduzir e criar trabalhos derivados” através do conteúdo fornecido pelo utilizador. Além disso, os responsáveis pela app também indicam que poderão ser reproduzidos conteúdos como “qualquer nome ou apelido” em “quaisquer formatos de media e canais agora conhecidos ou que venham a ser criados, sem qualquer compensação” ao utilizador.
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Foi esta parte que gerou mais confusão, mas Goncharov explica à Forbes que a empresa recorreu a estes termos “abrangentes”, mas que pretende lançar uma política mais transparente. “As pessoas ficaram assustadas porque acharam que tudo o que está na política de privacidade é feito, mas claro que isso não é o caso”, esclarece à Forbes, indicando ainda que “é uma prioridade” alterar estes termos.
E ainda esclarece que a FaceApp não é a única aplicação a usar este tipo de recursos. “Há muitas outras aplicações que recolhem muitos mais dados”.
FaceApp. Que dados está disposto a dar para se ver mais velho?