Ex-líder do Banco Mundial acusa Trump de dividir tecnologicamente o mundo

donald trumo
Donald Trump (Reuters)

Republicano e ex-presidente do Banco Mundial arrasou política de Donald Trump por levar a China a criar sistema paralelo contra os interesses dos EUA, fomentando um planeta tecnologicamente dividido.

Robert Zoellick não tem dúvidas: a política de Donald Trump está a aumentar a divisão do mundo seja a nível económico ou a nível tecnológico. O ex-presidente do Banco Mundial, um republicano que serviu inclusive em antigas administrações republicanas (de George Bush pai e George W. Bush), foi claro ao repreender publicamente a política de Donald Trump para a China, alertando que o presidente corre o risco de empurrar Pequim para um sistema paralelo que colide com os interesses dos EUA.

O responsável falava no Conselho Empresarial EUA-China em Washington, esta quarta-feira, e foi lá onde lamentou o que chamou de “lógica do confronto constante” da Casa Branca com a China, algo que apelidou de ineficaz e baseada num raciocínio incorreto: “entendo muitas das queixas atuais, mas corremos um risco sério de perder de vista os objetivos norte-americanos e a melhor forma de alcançá-los.”

Robert Zoellick
(Reuters)

Zoellick admite que ao rejeitar a noção de que a China poderia desempenhar um “papel construtivo” numa ordem internacional liderada pelos EUA, as políticas do governo Trump correm o risco – mesmo que sejam temporárias – de “empurrar a China para defender e desenvolver um sistema paralelo e separado, com regras muito diferentes”. Numa altura em que a própria Rússia dá passos decisivos para expandir o seu próprio ecossistema de software – para não depender de tecnologias vindas dos EUA de empresas como a Google, Facebook, Apple -, o risco de uma divisão mundial clara cresce.

A preocupação do galardoado diplomata estende-se também aos perigos tecnológicos a nível mundial. Apesar de admitir que a separação dos setores tecnológicos dos dois países já se estava a tornar, em certa medida, numa realidade, mas tem de haver limites já que a postura de colaboração tecnológica traz vantagens. “Seríamos tolos em colocar todos os estudantes chineses que vierem para a América, ou mesmo chineses-americanos, nossos compatriotas e mulheres, sob um véu de suspeita”, alertou.

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Robert Zoellick tem uma visão global do mundo económico, diplomático e tecnológico bem ampla. Atualmente é membro da administração do Twitter, pertence ao Conselho de Relações Internacionais dos EUA, consultor da americana Brunswick e é detentor de vários prémios internacionais relacionados com a diplomacia – em 1992 recebeu distinção do governo alemão por ajudar na reunificação e em 2016 recebeu o prémio de excelência em diplomacia Walter e Leonore Annenberg.

Na lista de avisos há ainda um ao discurso utilizado pelos membros da administração Trump, por fomentarem de forma constante a rivalidade, “sem terem em atenção que o comportamento dos Estados Unidos pode moldar o comportamento internacional da China num sentido prejudicial para o mundo e para o próprio país”.

Em plena guerra comercial, política e tecnológica entre os EUA e a China e com um bloqueio comercial impostos a empresas como a Huawei, Zoellick indica que os desafios dessa disputa usam argumentos pouco sólidos e satisfatórios. O consultor de 66 anos insiste ainda que aqueles que acreditam que a China é apenas um “desordeiro” estavam-se “a enganar a si próprios e o delírio é perigoso na diplomacia”.

“Estamos a testemunhar apenas o início dos problemas para a América, China e para o mundo, com duas das maiores potências a irem por um caminho de animosidade e de zero cálculos relativamente a consequências”, avançou o diplomata.

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