O que é que a Google quer com os pagamentos na Europa?

Google Android programação | Comissão Europeia |
Foto: REUTERS/Arnd Wiegmann

A Google Payments recebeu uma nova licença para operar no mercado europeu a nível de pagamentos. Saiba como a gigante pode começar a explorar a nova legislação europeia que tira o monopólio aos bancos.

A Google começou a entrar na Europa sob a forma de uma fintech nos últimos dias. A gigante tecnológica começou ao entrar na Lituânia com a sua empresa Google Payments. A entrada no mercado de crédito e pagamentos dá-se com o registo junto dos supervisores da Lituânia, com o banco central do país a autorizar a empresa a processar pagamentos, a emitir dinheiro eletrónico e a gerir wallets digitais. A Google já tinha uma licença de pagamentos eletrónicos no Reino Unido e o novo pedido pode estar relacionado com as possíveis consequências do Brexit, já que a empresa quer continuar a crescer nesta área a nível europeu.

A revelação foi feita pela Bloomberg e mostra como a gigante tecnológica está interessada em explorar esta área de serviços financeiros digitais pelo continente europeu, onde a Revolut também entrou recentemente, obtendo uma licença semelhante para operar a partir do país do Báltico (a Lituânia já emitiu 39 licenças para pagamentos eletrónicos a diferentes empresas de serviços financeiros digitais).

O Facebook também já tinha obtido uma licença para operar serviços financeiros na Irlanda, e a Amazon Payments Europe estabeleceu-se no Luxemburgo, ainda sem resultados práticos conhecidos.

Um porta-voz da Google explica as razões desta entrada: “Estamos constantemente a trabalhar para apoiar os nossos clientes na Europa. Candidatámos-nos a uma licença de pagamentos na Lituânia no contexto destes esforços, além de mantermos discussões relativamente a projetos por toda a Europa”.

Uma das razões pelas quais tantas empresas estão a avançar para licenças nesta área dos pagamentos eletrónicos está relacionada com a nova legislação europeia, em vigor há alguns meses, chamada PSD2 (Revised Payment Service Directive). Com ela acaba o monopólio dos bancos sobre a informação bancária e os serviços de pagamentos dos seus clientes. A nova diretiva europeia obriga os bancos a partilhar essa informação com os serviços que os seus clientes desejem.

Como seria o filme Sozinho em Casa se tivesse sido feito com a tecnologia atual

Seguem, então, algumas das hipóteses da forma como a Google pode usar novos serviços de pagamentos na União Europeia:

  • Google Pay. Já existem em vários países europeus, com a possibilidade de pagar produtos em loja com o telemóvel e fazer pagamentos contactless (Bélgica, Croácia, República Checa, Dinamarca, Finlândia, França, Alemanha, Irlanda, Itália, Noruega, Polónia, Eslováquia, Espanha, Suécia, Ucrânia e Reino Unido estão incluídos), mas a Google pode estar perto de aumentar o número de países e tornar a ligação a um banco bem mais simples. Na verdade, já é possível carregar um cartão Revolut por intermédio do Google Pay, mesmo em Portugal.
  • Pagamentos estilo Revolut. Com o aumento do serviço do Google Pay, é possível que a Google se torne numa espécie de Revolut, com os clientes a poderem colocar dinheiro na conta Google e depois gastar sem pagar taxas.
  • Pagamentos diretos. A nova legislação permite dar poder a terceiros para controlarem as nossas finanças. Ou seja, podemos ter o Facebook ou a Google a pagar as nossas contas, com contacto direto com o nosso banco.
  • App para agregar e gerir contas bancárias. A nova legislação permite darmos poder a entidades para agregarem online informações de múltiplas contas de pagamentos e, assim, passam a poder oferecer aos seus clientes uma visão global da sua posição financeira diária, num único local, permitindo uma melhor gestão da mesma. A Google pode estar a preparar-se para criar uma app com informação bancária centralizada.

Os bancos estão agora obrigados a dar a estes serviços externos à relação banco-cliente, acesso às contas dos seus clientes através de APIs (interfaces de desenvolvimento de aplicações) abertos. Ou seja, outros serviços passam a poder pagar contas, fazer transferências e analisar os nossos gastos reduzindo a nossa ligação direta ao banco.