Num ano em que os europeus são chamadas às urnas para eleger os próximos membros do Parlamento Europeu, e que muitos países realizam eleições ao nível nacional, os sufrágios são um dos maiores riscos ao nível da cibersegurança que o continente enfrenta.
Heli Tiirmaa-Klaar é um dos rostos mais conhecidos na área da cibersegurança na Europa. Numa altura em que as eleições para o Parlamento Europeu estão prestes a arrancar, a especialista não tem dúvidas: os atos eleitorais que têm lugar este ano na União Europeia (UE) são uma das questões mais relevantes para a segurança cibernética do bloco económico neste momento.
“Em termos de cibersegurança há várias questões. Talvez este ano, falemos sobre segurança nas eleições porque temos as eleições para o Parlamento Europeu e muitos países têm as suas eleições ao nível nacional”, disse ao Dinheiro Vivo Heli Tiirmaa-Klaar, embaixadora itinerante (Ambassador at Large) da Estónia para a área de cibersegurança.
As votações para eleger os membros do Parlamento Europeu decorrem na Europa nos próximos dias – arrancam a 23 de maio e prolongam-se até 26 de maio, dia em que os portugueses vão às urnas. Ao longo de 2019, vários estados-membros realizam também sufrágios para eleger a composição dos parlamentos nacionais. A Estónia e a Espanha são dois dos países que já foram a votos. Em Portugal, as eleições legislativas estão agendadas para 6 de outubro.
Heli Tiirmaa-Klaar – que integrou também a primeira equipa de política cibernética da NATO e foi das primeiras diplomatas da UE para a área de segurança cibernética (tendo implementado medidas que permite à UE aplicar sanções em resposta a um ataque cibernético) – acredita que, apesar de poder haver a perceção de que a segurança dos Estados possa ter algumas fraquezas, “tenho a certeza de que todos os países europeus tomaram todas as medidas necessárias para garantir que todos os sistemas eleitorais estão seguros do ponto de vista técnico”.
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A interferência cibernética no processo eleitoral pode acontecer a vários níveis. Em Portugal, tal como em outros países, não existe o voto eletrónico (algo que já acontece na Estónia) mas pode haver interferências em outras questões como por exemplo no caso das listas de eleitores. Ainda assim, questionada se a Europa está bem preparada para lidar com o risco de um ataque cibernético, a especialista sublinha que “as defesas cibernéticas dos países europeus estão a ficar muito melhor do que eram há uns dez anos”.
Tiirmaa-Klaar destaca que isso é fruto também do trabalho desenvolvido por muitos políticos europeus, no sentido de ajudar melhorar as estruturas do Velho Continente.
Heli Tiirmaa-Klaar, uma das figuras de 2019
Heli Tiirmaa-Klaar foi considerada pelo site Politico uma das pessoas que vai abalar e agitar a Europa neste ano de 2019. A publicação descreve-a como uma das pessoas que está na vanguarda da luta em torno daquilo que os países podem ou não fazer no ciberespaço. Sendo que a especialista tem um objetivo claro: impedir governos repressivos usarem o espaço online para cometer atos de guerra ou agressões.
Com aliados no Ocidente – como os Estados Unidos e os estados-membros da União Europeia – a especialista em cibersegurança é defensora de regras não-proliferação no ciberespaço, propondo concretamente a aplicação de limites na forma como os estados podem usar malware e vulnerabilidades do software para atacar outros países ou mesmo a oposição doméstica, refere a publicação.
Do lado oposto, contudo, está a chamada Organização de Cooperação de Xangai, encabeçada pela Rússia e pela China, e que tem uma visão diferente para regular os conflitos no espaço cibernético.
* Jornalista viajou para a Estónia a convite da e-Estonia Briefing Centre, do Startup Leaders Club, da Start-up Estonia, e do Ministério dos Negócios Estrangeiros.
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