iPhone ganha terreno em Portugal em tempos de pandemia

iPhone 11 Pro
Tim Cook durante a apresentação durante o iPhone 11, em 2019.

Os preços altos (o novo iPhone SE é a excepção) não evitaram que a Apple tivesse no seu iPhone um dos reis nas vendas durante a pandemia – o mercado caiu 20% em Portugal. As conclusões são do especialista da IDC, Francisco Jerónimo.

A Apple é a marca que “mais tem sido beneficiada pela pandemia” e pela queda da Huawei (aí tem ganho em conjunto com a Samsung). A marca chinesa foi prejudicada pelo bloqueio dos EUA da primavera passada que deixou os novos modelos Huawei sem serviços da Google (todos lançados já este ano) – isto numa altura em que parecia perto de tirar o título de líder mundial em unidades vendidas à Samsung (e já o tinha feito, em 2018 e pela primeira vez, em Portugal).

Estas conclusões podem ser tiradas a partir dos números do primeiro trimestre de 2020 das vendas de smartphones em Portugal da consultora IDC, mas é também a análise do experiente vice-presidente da IDC para aparelhos de consumo para a área da Europa, África e Médio Oriente, o português Francisco Jerónimo, que nos traça também o cenário para os meses de abril (de pleno confinamento) e maio.

Os novos iPhones 11, 11 Pro e 11 Pro Plus, bem como o mais recente SE (semelhante ao 8) lançado já em abril têm ajudado a marca californiana a ganhar quota de mercado a níveis que já se pensavam pouco prováveis, já que a Apple tem mantido os preços bem elevados, ao contrário da maioria dos rivais (a exceção é o SE, lançado apenas em abril).

Samsung e Apple (e a surpresa TCL) dividem ganhos

Comecemos pelos números. A Apple tem vindo a perder quota de mercado há alguns anos. O motivo? Os iPhone têm ficado mais caros e não mais baratos e só modelos em segunda mão estão abaixo da barreira dos 500 euros. Enquanto outras marcas que usam o sistema operativo Android dominam as gamas à volta dos tais 500 euros – mesmo que tenham topos de gama caros e em torno dos mil -, a Apple só tem tido versões premium com preços a condizer, o que ‘ajuda’ rivais como a Samsung, Huawei e, mais recentemente, XiaomiOppo e TLC.

Em Portugal, a Apple tinha nos primeiros três meses de 2019 uma quota de mercado de 10,8% e em 2017 tinha 11,6%. Pelo meio, no primeiro trimestre de 2018, teve um ano especial e atípico face à tendência, com quota de 14,2% em Portugal graças ao surpreendente sucesso do seu telefone mais caro de sempre – o primeiro acima dos mil euros -, o iPhone X. Esse modelo foi lançado no final de 2017 em conjunto com o iPhone 8 e 8 Plus, celebrava os 10 anos de iPhone e traçou a nova moda dos ecrãs controlados por gestos e sem jack para auscultadores.

Este ano, já em 2020, a Apple subiu em Portugal para os 13,7%, mais 2,9% – e este registo ainda não inclui o mês de abril e o novo SE, o primeiro modelo da Apple abaixo dos 500 euros em Portugal (de 400 dólares nos EUA). “É um sinal muito relevante de que a Apple está a conquistar clientes quando todos pensavam que ia continuar a perdê-los, mesmo mantendo os preços altos”, diz-nos Francisco Jerónimo, que estima que a empresa californiana vai subir até aos 15% no segundo trimestre do ano.

Líder em Portugal (só ‘perdeu’, na verdade, em 2018), na Europa e no mundo, a Samsung, conseguiu 32,4% das vendas de smartphones no país, subindo 3% face a primeiro trimestre de 2019 e foi uma das três marcas (apenas duas delas com sistema Android) a conquistar clientes à Huawei, que caiu de 34,8% em 2019 para 25,8% este ano (-9%).

Mas há uma terceira grande vendedora com a queda da Huawei, a TCL (Alcatel), que tem apresentado ao longo dos últimos meses novos produtos convincentes na gama média, subiu dos 3,4% de quota de mercado para notáveis 10,5% e aproximou-se do terceiro lugar da Apple na lista da marcas que mais vende smartphones em Portugal. A TCL afasta-se assim da Xiaomi, que tem vindo a subir (mas não tanto) e regista 7,3% de quota – curiosamente o número tem caído nas outras marcas fora do top 5 (é apenas de 10,3%, quando há um ano era de 18%).

Mercado de smartphones em queda

Nesta luta dos números é importante notar que o setor dos smartphones tem estado em queda (embora o ano passado até teve uma pequena subida em Portugal) e, agora, foi particularmente atingido pela pandemia, perdendo 20% em unidades vendidas no primeiro trimestre do ano – o que irá piorar no segundo trimestre, de acordo com Francisco Jerónimo. A IDC estima mesmo que 2020 terá uma queda nas vendas mundiais acima dos 11%. Venderam-se 493.807 smartphones em Portugal nos primeiros três meses do ano, contra 631.723 no mesmo período de 2019, a tal queda de 21%. No ano anterior, 2018, tinham sido 587 mil as unidades vendidas.

Ainda assim, Francisco Jerónimo explica-nos que o início de 2019 foi um ano atípico em que as vendas subiram face a 2018 – o que acaba por ser em contra ciclo – não só porque muitos consumidores guardaram-se para os novos modelos de 2019, mas “porque Huawei, mas também a Samsung, tiveram campanhas muito agressivas com preços baixos que fizeram aumentar as vendas”.

Apple mais perto da Samsung na Europa

A nível europeu a tendência é semelhante. A Apple vende mais na Europa em geral do que em Portugal e subiu 3,7% nas vendas no mercado europeu do ano passado para o atual (no primeiro trimestre) – tem agora 26,7% e segue mesmo como segundo na lista de ‘vendedores’, bem à frente da Huawei que já só tem 17,6% de quota de mercado (tinha 28,4% há um ano).

A líder europeia Samsung subiu 2,4% num ano (ganhou menos do que a Apple no início deste ano) e tem agora 35,1% das vendas europeias, mais 8,4% de quota de mercado do que a Apple.

Porque é que a pandemia beneficiou a Apple?

O analista Francisco Jerónimo diz-nos que “a Apple foi quem saiu mais beneficiada na queda das vendas em geral” que houve durante a pandemia (os tais 20%) e isso, como já vimos, até poderá ser visto nos números de forma mais pronunciada no final do primeiro semestre do ano – o novo SE deverá ajudar.

Com as lojas fechadas devido ao confinamento, “as pessoas procuraram fazer compras seguras e de modelos que são mais conhecidos, já que tinham de comprar sem experimentar numa loja e sem a pressão ou influência do vendedor, por exemplo”.

Embora a Samsung também tenha saído beneficiada por ter modelos conhecidos, “a Apple foi bem mais e tem a vantagem de se manter fiel aos seus princípios e de mudar pouco, o que facilita as decisões de compra direta sem requerer experimentação”.

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