Império Facebook resiste à pressão. Até quando?

Mark Zuckerberg
REUTERS/Stephen Lam

Na Europa, que tinha sido afetada a seguir ao escândalo da Cambridge Analytica, o número de utilizadores cresceu para 288 milhões de pessoas. 

As ações do Facebook dispararam mais de 4,4% nas trocas fora de horas assim que foram conhecidos os resultados do terceiro trimestre, mostrando o alívio dos investidores numa altura de intensa pressão e escrutínio sobre a empresa. Depois de um verão quente, o império das redes sociais obteve um crescimento de 29% nas receitas, chegando aos 17,6 mil milhões de dólares, e viu os lucros subirem 19% para 6 mil milhões. Foi melhor do que toda a gente esperava, apesar de nenhum dos indicadores ser um crescimento fenomenal.

Tal seria verdadeiramente surpreendente, tendo em conta os vários fogos que a direção do Facebook tem estado a apagar nos últimos meses. Mark Zuckerberg, o fundador e CEO, falou com os analistas durante mais de uma hora sobre os temas quentes do momento, abordando a fúria dos reguladores, a controvérsia relativa à política de publicidade e fake news e a responsabilidade da empresa numa série de áreas da sociedade.

Leia também | Tecnológicas lideram as marcas mais valiosas do mundo. Apple lidera e Facebook em queda

No trimestre, as receitas de publicidade subiram 28% para 17,3 mil milhões de dólares, representando a quase totalidade do volume de negócios da empresa. Os anúncios nas aplicações móveis pesaram 94%, mostrando o quão dependente dos dispositivos móveis se tornou este negócio.

De notar, apesar das polémicas, que o número de utilizadores das várias plataformas do Facebook continua a aumentar. Na rede principal, os utilizadores diários cresceram 9% para 1,62 mil milhões e os utilizadores mensais subiram 8% para 2,45 mil milhões. Na Europa, que tinha sido afetada a seguir ao escândalo da Cambridge Analytica, o número de utilizadores diários cresceu para 288 milhões, uma subida de 2 milhões de pessoas – o mesmo incremento registado nos Estados Unidos e Canadá, onde há agora 189 milhões de utilizadores a entrarem na rede diariamente.

Leia também | Caso Cambridge Analytica termina em multa de 5 mil milhões ao Facebook

Muitas pessoas têm contas em várias das redes que pertencem à empresa, incluindo Instagram e WhatsApp, e o número que foi partilhado nesta apresentação é impressionante: um total de 2,8 mil milhões de pessoas utilizam as aplicações do império de Zuckerberg. Uma dimensão que leva os críticos a afirmarem que a sua responsabilização em questões sociais é obrigatória.

O executivo tem uma ideia diferente. Por um lado, reconhece o papel preponderante das suas plataformas e reafirma o compromisso de “melhorar as vidas das pessoas em todo o mundo.” Por outro, disse que “as pessoas têm diferentes perspetivas” e é necessário acomodá-las a todas. Foi esta a justificação dada para a inclusão do site Breitbart, notório pela distorção dos factos nas suas notícias, na aba noticiosa do Facebook, uma decisão que lhe rendeu muitas críticas.

Leia também | “Não vendemos os dados das pessoas”, afirma Zuckerberg

Para os investidores, o problema destas controvérsias é que põem em causa a capacidade de crescimento da empresa. O diretor financeiro Dave Wehner disse, na conferência com analistas, que o ritmo de crescimento das receitas vai desacelerar no próximo trimestre e que essa tendência continuará em 2020. Haverá novos regulamentos sobre privacidade a entrar em vigor na Califórnia, o que poderá ter impacto na capacidade de monetização do Facebook, e uma das principais candidatas à nomeação democrata para as presidenciais, Elizabeth Warren, tem clamado pela separação do Facebook em várias empresas, devido ao seu tamanho colossal.

Facebook processa empresa israelita que terá usado WhatsApp para espionagem