Falámos com Raimundo Sala, o homem forte da PayPal para Portugal e Espanha, que revela ainda quais os novos serviços que a tecnológica quer trazer para o mercado português.
A PayPal está “muito perto de chegar aos 800 mil utilizadores” em Portugal, um valor que contrasta de forma significativa com os 500 mil utilizadores que existiam em 2015, altura em que a empresa começou a comunicar mais os seus números relativos ao mercado português. Traduzido por outros números, um crescimento de quase 60% em três anos.
Não é por isso de estranhar o discurso positivo do executivo espanhol. “Estamos muito orgulhosos de ter um crescimento tremendo em Portugal, ainda mais rápido do que temos a nível mundial”.
E é preciso recordar que este crescimento foi feito numa altura em que um nome bem conhecido dos portugueses, a rede Multibanco, da SIBS, lançou uma aplicação que rapidamente ganhou popularidade junto dos utilizadores, a MBWay.
Mas nem sempre foi um mar de rosas para a PayPal, como o próprio diretor-geral para Portugal e Espanha admite. “Estávamos a ficar para trás. Abrimos [operação] aqui há sete anos, mas não tínhamos muitas coisas. (…) Até ao ponto de ligarmos o Multibanco ao PayPal, sabíamos que éramos irrelevantes no mercado, mas vimos uma grande mudança com isso”.
Em Portugal, tal como em Espanha e Itália, o dinheiro físico “tem sido rei durante muitos anos”, conta Raimundo Sala, “mas há um ponto de viragem em que os consumidores começam a aceitar e a adotar as novas ferramentas e entram mais nos pagamentos digitais”.
“Em alguns países já tinha acontecido e agora estamos a chegar a um ponto de maturação no qual o crescimento é estável, mas não tão rápido quanto vemos em Portugal. Em Portugal está agora a começar a principal aceleração da mudança”, explica o executivo espanhol.
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E apesar de o mais recente lançamento da PayPal em Portugal ter sido uma ‘tacada’ ao MBWay da SIBS, Raimundo Sala desvaloriza a guerra do número de utilizadores. “É importante para nós crescer do lado dos utilizadores, mas também na rede de aceitação, o que significa não só quantos utilizadores consegues conectar apenas num país, mas em todo o mundo e quantos comerciantes podes aceder”.
Em Portugal, a PayPal chega a 21% dos consumidores que fazem compras online e a 70% dos comerciantes que vendem através da internet. Já a nível global os números da empresa são de 270 milhões de utilizadores e 21 milhões de comerciantes.
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Sobre o porquê desta aposta afincada da PayPal em Portugal, especialmente nos últimos três anos, o executivo espanhol responde com o facto de o mercado português ser visto “como um dos mais importantes, é bastante estratégico”. “É um bom lugar para implementar produtos e soluções”, acrescentou.
O próximo passo é reforçar a presença das tecnologias da empresa junto dos comerciantes, mas vai voltar a haver aposta do lado do consumo: a PayPal quer trazer a rede social Venmo para o mercado português.
“É uma solução peer-to-peer (P2P) que também é um ambiente de rede social que permite aos consumidores e vendedores fazerem negócio e socializar esse negócio. Podes partilhar com os teus amigos ou pessoas que te conhecem que compraste alguma coisa. É uma ferramenta social. Isso só está disponível nos EUA, mas o plano é estender para mais países. Vai chegar a Portugal, claro, em determinada altura”.
PayPal sem medo da concorrência
O mercado de pagamentos digitais e serviços financeiros na Europa tem estado ao rubro, muito graças ao aparecimento de novas empresas – como a Revolut e a N26 – e também graças às maiores oportunidades que a diretiva PSD2 trouxe para grandes empresas como a Google, Amazon e Facebook.
Raimundo Sala não parece ver nesta maior concorrência um problema. “O facto de a Google entrar no mercado é bom para nós porque permite-nos ir para diferentes áreas. Colaboramos com todas as marcas e para nós, o facto de todos estes players entrarem na área das soluções de pagamento é uma grande vantagem, coloca-nos numa posição mais avançada”.
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O diretor-executivo da PayPal considera até que ter plataformas de pagamentos como o Google Pay e Apple Pay em Portugal “seria benéfico”, pois ajudam a educar os utilizadores para a utilização de tecnologias de pagamentos digitais. “Para nós têm sido boas as experiências que temos tido com ambas empresas em diferentes partes do mundo. São positivas e encorajamos para que isso aconteça”.
Se o lado da defesa está garantido, a PayPal recusa no entanto diversificar em demasia o seu produto só para responder a esta nova vaga de concorrentes.
“Não significa que vamos entrar em todos os produtos financeiros que qualquer banco tradicional tem – não, provavelmente não. Queremos servir o mais possível os consumidores e os comerciantes? Sim, queremos. Mas há coisas que não vamos fazer. Queremos garantir que as pessoas gerem de forma correta o seu dinheiro. Gerir depósitos e fazer dinheiro com isso? Não, não é o nosso negócio”.
Raimundo Sala acabou depois por explicar por que razão algumas startups têm sido tão bem sucedidas no mundo da banca. “Os utilizadores estão cansados dos bancos que tradicionalmente têm sido gananciosos em termos de tirar aos consumidores e tentam colocar taxas em coisas que não devem ter taxas”.
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