Facebook na linha de fogo: Tim Cook admite que, face ao que tem acontecido, regulação na indústria tecnológica é inevitável; o bilionário e novo dono da Time compara a rede social ao vício do tabaco.
Annus horribilis. Expressão latina para um ano horrível, o oposto de annus mirabilis, um ano maravilhoso. A frase tornou-se popular a partir de 1891, quando uma publicação anglicana no Reino Unido descreveu assim o ano de 1870, por ter sido aquele em que a igreja Católica Romana definiu o dogma da infalibilidade papal (ou seja, define que o papa nunca erra e as suas ordens são sagradas).
Passados 127 anos do primeiro uso oficial da expressão associada aos católicos romanos (a igreja católica estima que existam 1,2 mil milhões no planeta, 40% na América Latina), a rede social usada por mais de 2,2 mil milhões de pessoas no mundo, o Facebook, está a ter um desses anos, annus horribilis, de escândalo em escândalo, críticas em críticas. Nem mesmo iniciativas bem sucedidas como Workplace for Good (que ajuda instituições sem fins lucrativos a obter financiamento e ajuda externa), ou a sua iniciativa de Causas, que angari upara instituições mais de mil milhões de dólares, têm deixado cair a má reputação.
Há poucos dias uma reportagem do New York Times revelava como foi vivido no interior do Facebook os escândalos ligados à privacidade dos utilizadores e ao uso abusivo dos seus dados para fins políticos por entidades externas à rede social – incluindo descrições como os executivos demoraram mais tempo do que o previsto a responder aos problemas reportados.
Este domingo, Tim Cook, o CEO da Apple, voltou a deixar críticas à rede social numa entrevista ao site Axios e a assumir sem tabus: neste clima atual [referindo-se ao Facebook e à revelações mais recentes], parece-me inevitável que vamos ter algum nível de regulação na indústria tecnológica”. O responsável pela empresa mais valiosa do mundo admite ainda que, por norma, não é grande fã de regulação. “Sou um grande crente no mercado livre, mas temos de admitir que o mercado livre não está a funcionar e não funcionou no caso do Facebook”, admitiu Cook.
O líder máximo da Apple, que tem a maioria dos seus lucros ligados à venda de hardware, mais concretamente dos iPhones, explicou que não se trata de uma luta entre privacidade e lucros, ou privacidade versus inovação tecnológica. “Essa é uma falsa questão”, disse Cook que indica que a questão da privacidade como está a nível geral não pode continuar, face aos escândalos.
Benioff e os cigarros Facebook
Na sexta-feira passada, Marc Benioff, o CEO da empresa de software na cloud conhecida pela inovação há vários anos, Salesforce, disse à jornalista Kara Swisher no podcast Recode Decode que não à volta a dar, “o Facebook tem de ser regulado”. “Olhamos para o que se passa com uma marca como o Facebook, percebemos que são os novos cigarros, ou seja, são viciantes”.
Benioff acabou por falar também sobre a sua mais recente aposta, a compra da revista Time por 190 milhões de dólares em setembro passado. “Eu sou o visionário inspirado da Time”, respondeu Benioff sobre o que pretende fazer com a revista. “Durante algum tempo pensámos comprar outras marcas, mas percebemos que onde poderíamos ter mais impacto seria com a Time”, disse o CEO da Salesforce, que admite que o seu papel não será operacional, mas irá estar presente para inspirar uma nova estratégia visionária, sem nunca concretizar que estratégia será.
Noutro podcast de Kara Swisher, o empreendedor, autor e professor Scott Galloway dava a força à tese de Benioff, indicando que os executivos do Facebook fazem os executivos da indústria tabaqueira parece Mister Rogers (personagem ao estilo Walt Disney)”.
Facebook. Novo relato do NYT mostra as jogadas internas durante a crise da rede social