Rússia tenta desenvolver ecossistema de software no país para não ficar dependente de Google e companhia. A medida de Putin promete ter “um impacto profundo” a longo prazo na indústria, indica analista da IDC.
O presidente da Rússia, Vladimir Putin, aprovou legislação para que apenas smartphones, computadores e TVs inteligentes com software feito localmente e pré-instalado sejam vendidos no país. Este é considerado um esforço para aumentar o uso da tecnologia doméstica e ficar menos dependente de outros países, nomeadamente dos EUA, casa da Google, Facebook, entre outros.
A lei, que a Câmara dos Deputados russa adotou a 21 de novembro e foi agora assinada pelo presidente Putin, irá entrar em vigor a 1 de julho de 2020.
O governo russo irá determinar os tipos de dispositivos que vão precisar de incluir software desenvolvido localmente, bem como os programas que serão pré-instalados neles. Os autores da lei argumentaram que a iniciativa iria forneceria às empresas russas mecanismos legais para promover os seus programas e serviços.
No mês passado, o co-autor do projeto, Oleg Nikolayev, comentou que há utilizadores no país que podem pensar que não há alternativas domésticas para as apps ocidentais, mas agora deixa de haver espaço para dúvidas.
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E tudo o bloqueio dos EUA à China despoletou
O analista da consultora IDC, Francisco Jerónimo, admite mesmo que “o impacto a longo termo desta nova legislação pode ser profundo” para a indústria. “Isto era algo que já estava em preparação”, admite o especialista ao Dinheiro Vivo/Insider, indicando que a compra e desenvolvimento por parte de russos do sistema operativo Aurora – baseado na tecnologia sueca Jolla -, já antevia esta possibilidade.
Sobre os objetivos desta medida, ela ” incentiva (e quase que obriga) a que seja desenvolvida tecnologia local para uma das áreas mais importantes da vida dos cidadãos e das empresas – tecnologia móvel e electrónica de consumo”. Isto apesar de ainda não colocar a Rússia “numa posição de independência dos EUA, uma vez que vão ter que continuar a depender deles para os componentes e propriedade intelectual”
A Rússia tem já, inclusive, “alguns dos componentes de um possível novo ecossistema móvel (o App Store Yandex e outros), mas o que estava a faltar era o motor desse ecossistema, o sistema operativo que surge agora”.
Tudo isto é uma consequência indireta do bloqueio dos Estados Unidos à China e à Huawei. Francisco Jerónimo diz mesmo que não ficará surpreendido se os chineses fizerem algo do género, “até porque a China tem mais poder para criar uma verdadeira alternativa à Google e à Apple”.
O especialista português da consultora internacional admite mesmo que o governo chinês “poderá obrigar os fabricantes chineses a trabalharem em conjunto para lançarem um ecossistema e sistema operativo na China para todos os fabricantes locais, e poderá obrigar todos os internacionais a usar esse sistema operativo, à semelhança do que a Rússia está a fazer”.
Este parece ser mais um sinal da preocupação dos governos com a atual guerra comercial/política e tecnológica entre gigantes mundiais. “Há atualmente maior preocupação dos governos em preparem-se para a guerra digital que está a acontecer entre alguns países e quanto mais independentes estiverem em termos tecnológicos mais preparados estão para lutarem”, admite.
A Reuters noticiou, entretanto, que a medida foi contestada por vários retalhistas de produtos eletrónicos russos, que alegam não terem sido consultados antes da aprovação da lei.
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