“A pandemia foi um acelerador tecnológico”

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    Apesar de o isolamento ter acelerado o uso da Internet e de novos meios de comunicar, Portugal ainda é um país a duas velocidades no digital.

    A pandemia de covid-19 veio realçar a forma como o mundo está cada vez mais dependente da internet. Os dados não mentem: o tráfego de dados cresceu nos últimos meses – semanalmente, a Anacom, o regulador das comunicações em Portugal, deu conta ao aumento de tráfego, especialmente nos acessos feitos através de ligações fixas. Também as tecnológicas que disponibilizam serviços de videoconferência ou trabalho colaborativo falam em aumento exponenciais. Mas se a internet foi um elo de ligação para muitos, também representou um mundo de exclusão para outros, sem competências, equipamentos ou ligações à rede.

    Este domingo, dia 17 de maio, assinala-se o Dia Mundial da Internet, mas Portugal continua a ser um país a duas velocidades e a internet continua a ser uma ilustre desconhecida. Um inquérito feito pela ACEPI e pelo .PT – Associação DNS.PT, que gere os domínios de topo em Portugal, mostra que 20% dos portugueses continuam sem contacto com esta ferramenta. E, mesmo entre quem já acedeu, 50% têm competências muito básicas no âmbito da literacia digital e potencial da internet.

    Luisa Ribeiro Lopes, presidente do Conselho Diretivo do .PT, refere que o efeito bolha, em que se acha que todos dispõem das mesmas capacidades ou oportunidades sobre o uso da internet, pode ser perigoso. “Cabe a todos olhar para quem está excluído e trazê-los para o digital.” Para a responsável do .PT, que garante que a “pandemia foi um acelerador tecnológico”, é importante relembrar ao país de “que não podemos andar a duas velocidades, não podemos fazer que a pandemia seja uma dupla exclusão”.

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    Luisa Ribeiro Lopes recorda que, mesmo que a internet tenha assegurado a continuidade de muitas empresas e o contacto com quem está na linha da frente de combate ao vírus, é importante “olhar para quem não tem competências ou quem ficou sem emprego e está vulnerável”, para que não caia em situação de exclusão.

    “Se em Portugal há uma questão de desenvolvimento de competências digitais, tem a seu favor a existência de infraestruturas”, recorda Luisa Ribeiro Lopes, indicando que nos últimos anos têm sido desenvolvido esforços para trazer mais pessoas para o digital, com competências à altura.

    Mas não é só a título individual que uma fatia dos portugueses está ainda offline – também há negócios e empresas sem qualquer presença digital. A responsável do .PT nota que foi sentido um aumento dos registos dos domínios .pt ao longo dos dois últimos meses, registando-se um crescimento de 21% em relação a abril do ano passado.

    “Teve que ver com esta pandemia e a crise que estamos a atravessar. Com a entrada em vigor do estado de emergência e até agora, vimos uma procura muito grande pelo registo de domínios .pt”, explica, destacando que muitas empresas encontraram na criação de sites a forma de manter contacto com os clientes durante o encerramento das lojas.

    Até ao final de março, foram registadas novas presenças de negócios online, com mais de 50% dos registos de empresas ligadas a serviços do setor da restauração, serviços domésticos, ginásios ou projetos de solidariedade social.

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