Entrevista ao CEO da Ageas Europa e CEO do Grupo Ageas Portugal sobre a evolução tecnológica e as mudanças na saúde e no negócio.
Chama-se Steven Braekeveldt é um belga de 58 anos especialista em seguros mas que também fez carreira internacional no setor dos serviços financeiros e banca, algo a que aliou com o ensino universitário. O atual CEO da Ageas Europa Continental e CEO do Grupo Ageas Portugal explicou-nos numa breve conversa a propósito de uma conferência organizada pelo SingularityU Portugal como a tecnologia está a mudar o negócio das seguradoras.
A SU é uma organização que ensina líderes portugueses a lidar com as novas tecnologias e a criar soluções para os grandes desafios da sociedade.
Braekeveldt, ele próprio Founding Partner da SingularityU Portugal (uma organização que ensina líderes a lidas com as novas tecnologias e a criar soluções para os desafios da sociedade) apoia-se num estudo recente do Inkwood Research para abordar o negócio da inteligência artificial (AI) na saúde. “Estima-se que esse mercado global do AI nesta área vá gerar uma receita líquida de aproximadamente 25,6 mil milhões até 2025, um aumento de 40% em relação a 2018”, explicou.
Daí que a sua seguradora que, em Portugal, gere as marcas Ageas Seguros, Médis, Ocidental e Seguro Directo e ocupa o 2.º lugar no ranking segurador português, esteja focada em “acompanhar de perto a tecnologia e as suas possíveis consequências”, apoiando eventos sobre o tema. “Todos no nosso setor temos de estar preparados para mudarmos o seu mindset e começarmos a pensar sobre o potencial que estas novas tecnologias trazem para os negócios e o impacto que pode ter no público que procura os seus serviços”, admite o responsável que admite que “o chamado machine learning está a mudar tudo mais rápido do que esperávamos”.
Braekeveldt dá como exemplo a Revolução Industrial com uma espécie de anedota: “Sabe quando é que começou mesmo a aumentar a esperança média de vida? Foi na Revolução Industrial quando começaram a fazer roupa interior para todos”. Daí que admita que existe uma ligação com essa época, em que “com as melhorias na higiene com a roupa interior passou-se a viver mais tempo”.
“Está tudo a começar”
Para o responsável do grupo Ageas, com a inteligência artificial e o seu impacto na saúde “estamos apenas a começar, a colocar o dedo do pé na água”. “Vamos ver mudanças concretas na cura de doenças, na prevenção e a evolução que os wearables estão a começar a ter vai ajudar nessa transformação”. Braekeveldt admite os wearables associados aos dados pessoais de saúde de cada indivíduo que começam, cada vez mais, a ser reunidos e utilizados em tempo real “vão permitir prevenir que apanhemos doenças e permitem a um médico acompanhar em tempo real o doente e existam conselhos de medicação à medida de cada um, personalizados”. Ou seja, na verdade, “vamos acompanhar o potencial paciente e não necessariamente a pessoa que já está doente”.
Como exemplo, falou do diabetes, com programas de nutrição novos e feitos à medida de cada um usando dados pessoais reunidos por um software. “Isto torna possível termos medicação feita a pensar inclusive na nossa genética”. As farmacêuticas também têm tudo a ganhar nesta era da IA. “Antes passavam-se 20 anos até um novo medicamento ser implementado, agora será muito mais rápido”.
Apesar dos avanços tecnológicos, o belga não acredita que seja explosivo, haverá sempre uma transição, mas espera que com a ajuda dos smartphones e dos wearables em dois ou quatro anos haja “uma mudança incrível” na área.
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O negócio dos seguros
Neste contexto tecnológico, o negócio dos seguros vai ser alterado. “Vemos isto como uma oportunidade e estamos a prepararmo-nos para a mudança”. No entanto e apesar de já usarem IA e machine learning nos seguros, para reunir dados analíticos e fazer previsões, “ainda é preciso ouvir os clientes”. “Não nos podemos perder nos sonhos e é importante não abdicar dos princípios básicos como a comunicação em quem confia em nós”, admite o responsável. A nível do uso de IA na sua operação: “temos cada vez mais chatbots – respostas robóticas em conversação online – em que os clientes falam com os nossos sistemas de IA que dão sugestões apropriadas e temos tido boas reações ao funcionamento”.
Sobre o mercado português, tem uma confissão peculiar: “Se acreditasse na reencarnação, a minha vontade seria voltar à Terra como agente de seguros em Portugal”. Braekeveldt admite, por aquilo que vê do mercado e do que houve dos agentes de seguros, “há oportunidades incríveis” no nosso país. “É possível vender seguros com grande facilidade, porque há muita gente em Portugal que não os tem, não pensa na possibilidade de uma árvore lhe cair em cima de casa por exemplo”, explica o CEO do Ageas, que admite que os seguros no país são tradicionalmente muito limitados e a maioria das pessoas não os atualiza, mesmo 10 anos depois de comprarem uma casa, por exemplo.
Com o aumento da esperança média de vida, o responsável aposta forte num novo produto que permite melhorar a reforma dos idosos, até porque “a Segurança Social não garante uma vida boa para a maioria das pessoas”.