Veículo autónomo desenhado pela MUJI e desenvolvido na Finlândia é o primeiro que circula com mau tempo e pode levar serviços básicos a populações idosas de áreas mais dispersas. Testes já em abril.
É pequeno, totalmente elétrico, leva 10 pessoas sentadas e seis em pé, tem um conceito modular e apregoa ser o primeiro autocarro autónomo do mundo que circula em todo o tipo de condições climatéricas – neve, chuva intensa e nevoeiro. “Os veículos autónomos atuais simplesmente não conseguem circular com muito mau tempo e, na Finlândia, está quase sempre mau tempo”. Quem o diz é Harri Santamala, o engenheiro e empreendedor finlandês que criou em 2015 a Sensible 4, uma empresa que junta uma especialistas que trabalham desde os anos 1980 em projetos de veículos autónomos na terra do Pai Natal (Lapland) e dos “finlandeses voadores” dos ralis.
A startup que fornece sistemas autónomos que podem ser integrados em qualquer tipo de veículo juntou-se à MUJI, empresa japonesa de design com o lema “zen comercial” que vende acessórios, roupa e produtos para a casa e, em pouco mais de um ano criaram o Gacha, o shuttle autónomo de raiz (não há espaço para condutor). A MUJI já criou casas pequenas no Japão com um design simples, zen e próximo da natureza e tentou fazer o mesmo, agora aliado à mobilidade autónoma.
“Seja qual for a categoria, tentamos arranjar as melhores soluções para reinventar conceitos tradicionais”, explicou-nos Naoto Fukasawa, um dos designers mais influentes do mundo que desenhou o Gacha (tem trabalhos no MoMA de Nova Iorque) e que trabalha com a MUJI. O designer admite que a ligação da empresa ao projeto está relacionada com preocupações sociais.
“No Japão temos áreas rurais com população envelhecida, daí termos idealizado um design simples e icónico, que também permite transformar o Gacha num robô ambulante de serviços e permite criar novos modelos de negócio”. Fukasawa mostrou inclusive algumas imagens do Gacha adaptado a um quiosque com internet, a uma biblioteca, uma farmácia e a uma mercearia, que pode permitir levar serviços importantes a pessoas idosas de zonas dispersas. “Os serviços robotizados vão fazer toda a diferença para os mais velhos no futuro”.
Neste contexto, Bruno Duarte Eiras, o diretor nacional de Serviços de Bibliotecas, admite ver com bons olhos a chegada deste tipo de novas soluções, em veículos que podem funcionar 24 horas por dia, já que não precisam de condutor. “Hoje já temos bibliotecas itinerantes que servem zonas dispersas que incluem outras soluções, como na Anadia, que inclui uma unidade móvel de saúde no veículo itinerante”, indica.
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Voltando ao Gacha, tem design igual à frente e atrás, por se poder andar em qualquer sentido. Criaram, depois, uma espécie de cinto em LEDs à volta do veículo, que é “o que permite uma interação visual e em tempo real com os seres humanos”. Fukasawa admite que, assim, podem colocar cores diferentes, como luzes vermelhas atrás, para mostrar qual o sentido o veículo e lançar alertas a peões que se atirem para a estrada, por exemplo.
O primeiro teste é feito já em abril num bairro da cidade Estoo perto de Helsínquia e é possível fazê-lo de forma aberta graças à legislação finlandesa, a mais permissiva no que aos veículos autónomos diz respeito (daí que a Google esteja a testar por lá o seu serviço de entregas por drones e existem várias empresas de autocarros autónomos a testar soluções). O Gacha, para já, ainda é um protótipo com 100 km de autonomia e que vai circular a 40 km/h. “O objetivo é escolher agora um dos interessados em produzir em série o veículo e criar soluções à medida dos municípios, consoante as suas necessidades”, explica Harri Santamala, que espera também cativar empresas que explorem o conceito como um serviço.
O veículo vai circular, nesta altura, com o nível 4 de condução autónoma, ou seja, já é um autocarro-robô mas, para já, ainda vai andar num circuito definido, com paragens definidas. Durante este ano vão alargar o teste a outras cidades finlandesas (Hämeenlinna, Vantaa e Helsínquia) e por à prova com teste com 5G com a finlandesa Nokia. A operação pré-comercial na Europa deve começar em 2020 e, no ano seguinte, querem tentar integrar o projeto nos sistemas de transportes públicos locais e iniciar a produção industrial.
O objetivo é que nos próximos dois anos, o Gacha passe a poder funcionar on demand. “A ideia é que vários modelos pequenos destes, mais ágeis que os autocarros grandes, possam servir uma cidade inteira, por bairros, indo ter com os utilizadores que os chamam através de app e deixando-os nos locais que desejam, num serviço mais personalizado”, admite entusiasmado o empreendedor finlandês.
“A regulação anterior sobre o Facebook e Google era tola. Vamos garantir a privacidade”