Streaming não preocupa as salas de cinema portuguesas

Salas de cinema perdem 2,8% de receitas até novembro, mas NOS espera um dezembro forte para ajudar e não vê Netflix e companhia com preocupação. 

Os dados são como o algodão, não enganam, mas há formas diferentes de os interpretar. O Instituto do Cinema e Audiovisual (ICA) explicou-nos: “até novembro de 2018, face ao período homólogo do ano anterior, registou-se uma quebra nas salas de cinema em Portugal”. “A receita bruta caiu 2,8% (70,2 milhões de euros) e o número de espetadores caíram 5% (estiveram nas salas de cinema nacionais 13.153.400 espetadores)”.

Os números não preocupam Pedro Mota Carmo, o CEO da NOS Cinemas. “Desde setembro de 2018, o número de espetadores tem vindo a aumentar em dois dígitos pelo que estamos otimistas com este mês de dezembro, tipicamente um bom mês nas salas de cinema, com grandes filmes para a toda a família como o Aquaman, Bumblelee e Mary Poppins”, explica Mota Carmo. A NOS mostrou como confia no setor ao inaugurar já a 13 de dezembro o primeiro complexo de cinema 100% laser (para melhorias na definição, luminosidade e contraste das imagens) na zona da Grande Lisboa, com “investimento importante” nas seis salas.

Nos tops do ano, o filme mais visto e com maior receita em Portugal foi The Incredibles 2: Os Super-Heróis (distribuído pela NOS), com uma receita bruta de 3,1 milhões de euros (foi visto por 605.910 espetadores em 15.600 sessões). O segundo foi Hotel Transylvania 3: Umas Férias Monstruosas e o terceiro (e primeiro sem ser animação) foi Bohemian Rhapsody – ambos distribuídos pela Big Picture –, que superou As Cinquenta Sombras Livre (o quarto da lista). Curiosamente, a semana de 2018 que levou mais público às salas foi a de 8 a 11 de fevereiro (490 mil pessoas e rendeu 2,6 milhões), graças precisamente a As Cinquenta Sombras Livre.

Roma, favorito da Netflix ao Óscar estreia nas salas e no streaming

O crescimento do streaming e da Netflix é algo que não preocupa Mota Carmo mesmo agora, que a plataforma até lançou em algumas salas de cinema a semana passada o filme Roma (favorito aos Óscares): “Vemos os serviços de streaming como complementares e não concorrenciais. Apesar da oferta a nível de plataformas online, os consumidores sabem distinguir as diferenças e continuam a gostar  de ir ao cinema. São experiências diferentes e há perfis de espectadores para todos”.

A estreia do filme Roma nas salas foi polémica em Espanha e no México – houve boicotes de salas –, mas o ICA não tem a mesma visão e explica que “o pluralismo e a diversidade são princípios subjacentes à arte cinematográfica, não só no que se refere à liberdade criativa, mas também, e cada vez mais, a formatos e suportes” e até vê “com interesse” esta evolução dos serviços de streaming.