A tecnologia pode ajudar a alavancar negócios, mas não pode ser tudo na lista de prioridades das empresas.
Thomas Meyer reconhece que a fase de “lua-de-mel” entre as empresas e o mundo tecnológico começa a arrefecer. Para o general manager e vice-presidente de research da IDC, que esteve em Portugal a propósito do evento IDC FutureScape 2020, há um conjunto de fatores que está a contribuir para este novo olhar para a inovação e tecnologia.
“Se as empresas não estão a inovar em escala, se estão a ter dificuldade em arranjar pessoas com as competências certas ou até a requalificar pessoas e fazê-las aceitar que, eventualmente, o trabalho que estão a fazer hoje poderá ser diferente daqui a algum tempo… Acho que todas essas mudanças são difíceis de gerir e isso não está a ajudar as organizações a retirar proveito da tecnologia.”
A IDC estima que, ao longo de 2020, as empresas europeias vão investir mais de 246 mil milhões de euros na transformação digital dos negócios. No entanto, só 16% é que conseguirão criar novas fontes de receita a partir das apostas no digital. É importante que as empresas europeias percebam onde é que pretendem apostar, sem perder de vista os objetivos traçados. “Se as empresas não percebem para que é que se está a usar tecnologia… é preciso perceber para onde é que se está a apontar e aquilo que querem alcançar”, alerta.
“Às vezes, vemos empresas que estão na fase a que chamamos a prisão da prova de conceito. Ficam presas em provas de conceito, como o blockchain ou inteligência artificial, e depois não percebem como é que vão aplicar as coisas ao seu negócio.”
Leia também | Mercado de computadores tomba 9% em 2020 com impacto do coronavírus
O gestor refere ainda outra característica em que a mentalidade europeia precisa de evoluir. “É importante estar preparado para falhar – e isso é algo com que temos muita dificuldade em lidar na Europa. Não é bem falhar na inovação, mas sim em como é que se aprende a ajustar o resto das atividades quando se falha.”
Meyer compreende que os tempos atuais sejam difíceis de navegar para as empresas europeias. Além das dificuldades das competências digitais, existem ainda as preocupações com a robotização, que poderá trazer sérias alterações às forças de trabalho europeias. “Enquanto sociedade, estamos na Europa a avançar para uma sociedade digital e a questão é que vemos as preocupações das pessoas – e às vezes são essas preocupações que impedem as pessoas de avançar”, explica, relembrando que tudo isto está a acontecer com rapidez.
Nesse cenário, em que as competências e a eventual necessidade de reconversão criam mais desafios para o futuro, Meyer acredita que é crucial para as empresas europeias ter um líder que compreenda as pessoas. “Se existem dez pessoas numa equipa que sabem sobre tecnologia isso é ótimo, mas não é só isso que vai ajudar [o negócio]. É importante perceberem de pessoas, é crucial que compreendam como é que as equipas trabalham.”
Há pelo menos um ponto em que não há dúvidas. “Tal como a internet é hoje um dado adquirido, daqui a um ano ou dois também já não vamos falar de digital – será assumido que todos os negócios são digitais.”