Francisco Serra-Martins foi eleito um dos jovens mais promissores pela Forbes, criou um teclado especial e é filho de pai português. Teclado da Sonder usa e-Ink e poderá integrar os novos MacBooks da Apple.
(este foi um dos temas do segundo número da revista Insider, de agosto)
Os teclados são, mais ou menos, da mesma forma há vários anos. Sim, vivemos numa altura (numa década) em que os ecrãs táteis invadiram as nossas vidas (no telemóvel, em tablets e até em dispositivos para a casa ou para interagirmos numa loja ou em museus). Mais recentemente a voz começou a ganhar dimensão e já podemos dar ordens de voz a sistemas para nos ajudarem. Mas o teclado continua a ter um papel importante nos locais de trabalho ou nas casas daqueles que precisam de, por um motivo ou outro, escrever textos um pouco maiores.
Um luso-descendente e o seu irmão gémeo nascidos na Austrália criaram uma empresa, a Sonder, que pretende revolucionar a forma dos teclados funcionarem. O objetivo? Tornar fácil mudar de língua num teclado ou mesmo deixar de ter de memorizar atalhos tão úteis para quem usa programas como Photoshop, Illustrator ou Final Cut Pro, conseguindo a mesma rapidez de processos. Francisco Serra-Martins, com a ajuda do seu irmão Felipe, criou e desenhou um teclado que usa a chamada e-Ink, que se vê nos leitores de livros eletrónicos Kindle. Resultado? É possível mudar com facilidade e rapidez as teclas do teclado que permite criar um número infinito de desenhos das teclas – também permite ícones específicos para quem joga videojogos.
O teclado já foi vendido numa versão inicial por 199 dólares e permitia ser ligado a Macs ou PCs. As teclas são transparentes e “a imaginação é o seu limite”. Desde o final do ano passado que a Apple mostrou interesse. “Tudo parecia parado, mas quando tivemos interesse sério de outro gigante (não podemos revelar) da tecnologia a Apple colocou-nos logo a trabalhar com a sua equipa que desenvolve protótipos e nova tecnologia”.
Francisco terá conhecido inclusive Tim Cook, o líder máximo da gigante norte-americana, algo que nos diz não poder confirmar. O que parece ser o mais provável é que sejam comprados em breve pela Apple, que vai estudar a hipótese de usar este tipo de teclado no seu MacBook. “Só se formos comprados é que a Apple terá exclusividade”, indica Francisco, que ganhou maior destaque quando foi eleito há uns meses um dos 30 jovens com menos de 30 anos pela Forbes mais prometedores da área de tecnologia para o consumidor na Ásia.
Filho de mãe de origem inglesa e arménia e de um português nascido em Castelo Branco que partiu aos 15 anos para França para fugir à guerra, Francisco quis revisitar as origens do pai após fazer os 18 anos. Sempre teve pouca exposição à cultura e língua portuguesa, a não ser algumas visitas ao clube português local de Sidney. Recorda que o pai sempre incutiu nos seus quatro filhos (Francisco e Felipe são os mais novos) um fascínio pela criatividade e por fazer coisas mecânicas, que também o ajudou a montar uma empresa de sucesso de construção na Austrália. O pai, Francisco, trabalhou muitos anos em França na construção civil, até que recebeu um convite do governo francês como técnico qualificado para ir para a Austrália. “Tem uma ética de trabalho impressionante e é muito motivado e isso também nos influenciou”.
E de onde veio a ideia do teclado? Estudou engenharia na Escola de Engenharia Militar, no exército australiano, depois na Universidade de Sidney e mais recentemente tirou curso de gestão e empreendedorismo numa Business School chinesa chamada Cheung Kong. Foi a trabalhar para a gigante Chevron, em Singapura, que começou a perceber que se gastava muito dinheiro em vários teclados técnicos e para várias línguas, já que trabalhavam por lá engenheiros de muitas nacionalidades.
“Pensei que seria mais barato ter um teclado em que as teclas se adaptavam à língua que queríamos, construí um protótipo e até o protótipo era mais barato do que o que se comprava”.
Daí patenteou o design e voltou para a Austrália para abrir a sua empresa, Sonder. Depois esteve uns meses na China, graças ao interesse e à ajuda da gigante chinesa que produz os produtos da Apple, Foxxconn. Em Taipé impressionou a E-Ink – empresa que tem a tecnologia usada nos Kindle – e começaram a trabalhar em conjunto, entrando depois numa aceleradora de startups chamada Innoconn. Isso ajudou-os a otimizar e preparar o produto para a produção em massa, que esperam que aconteça em breve em fábricas que têm estado a contactar. Até ao final do ano tudo deverá ficar resolvido mesmo com a Apple. Francisco admite que tem vindo bastante a Portugal, ver a família a Castelo Branco e está muito curioso com o ambiente tecnológico do país.
E onde se vê em 10 anos? Na Europa com uma nova criação e uma nova empresa – diz ter muitas ideias – e gostava que fosse em Portugal. “Quero ter uma quinta em Portugal, aprender português e estar perto dos EUA e dos grandes centros da Europa mas ligado às minhas origens”. Para isso vai ajudar já ter alguns amigos portugueses, um deles CEO de uma startup que conheceu na China, e saber que “há boas condições para fazer novos projetos”.