O que quer de Portugal o Senhor Web Summit

    Web Summit Paddy Cosgrave
    Paddy Cosgrave: "A Web Summit alimentou-se da atmosfera vibrante [de Portugal], da cidade e da cultura". Foto: Jorge Amaral / Global Imagens

    Paddy Cosgrave, que já ocupou na universidade o mesmo cargo que o autor de Drácula, Bram Stocker, faz-nos a antevisão da Web Summit, neste ano de 5 a 8 de novembro, e fala-nos da “magia” que sente em Portugal. Saiba o que é imperdível e o que tem de novo a robô Sophia.

    Há oito anos nascia em Dublin, na Irlanda, a Web Summit graças à visão, iniciativa e “persistência educada” de Paddy Cosgrave e de uma equipa de colegas de faculdade – a ideia surgiu depois de uma viagem a Sillicon Valley.

    “Em 2010, quando decidimos criar a Web Summit [no primeiro ano teve 400 pessoas], começámos com uma ideia simples: porque não conectar a comunidade tecnológica com todas as indústrias.” Cinco anos de muito crescimento depois, a Web Summit saiu da Irlanda para Lisboa e após três anos, a conferência que mais parece um festival de tecnologia garantiu a presença na capital portuguesa por mais uma década.

    À DN Insider, Paddy explica que com o passar dos anos, a Web Summit cresceu para se tornar a “maior conferência de tecnologia no mundo” – é esse o slogan usado pela organização que faz também outras conferências, incluindo a Collision, na América do Norte. Mas hoje, o irlandês de 35 anos diz que o objetivo “é muito mais do que isso”. “O foco é ligar pessoas e dar-lhes a oportunidade de ouvir a visão e os devaneios de algumas das figuras mais influentes no mundo e não apenas em tecnologia, mas nos media, desporto, política e afins.”

    Já com um crescimento exponencial, a Web Summit saiu em 2015 de Dublin por dificuldades na relação com o governo. Além disso, Paddy era (e ainda é) criticado em vários meios de comunicação irlandeses como “milionário que só pensa em dinheiro”, “mais um mestre de relações públicas do que um filho pródigo”. Ainda em 2015, Paddy respondia assim a alguns dos seus compatriotas dos media com quem trocava galhardetes: “Só percebemos que somos bem-sucedidos quando começamos a ser atacados com frequência.”

    Animosidades à parte, podemos ter uma ideia de quem é o rosto e CEO da Web Summit indo às suas origens. Filho de um agricultor dono de uma quinta (que ainda existe) em Wicklow, na Irlanda, foi enviado para um colégio interno cedo. O pai adorava tecnologia e não queria que os filhos se tornassem agricultores, por isso, sempre procurou que chegassem longe nos estudos. Paddy acabou por estudar negócios, economia, ciência política e estudos sociais no Trinity College de Dublin mas, por lá, mostrou duas características peculiares.

    Tinha um gosto particular por ligar pessoas, que o levou a seguir as pisadas de nada mais nada menos do que o autor Bram Stocker – criador de Drácula -, ao tornar-se presidente da Sociedade Filosófica, que se centrava em debates de ideias. Também se tornou editor do jornal satírico Piranha (que foi banido na altura).

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    Estes passos mostram um Paddy desejoso por conhecer pessoas e pronto para “sair da caixa”, criticar ou brincar. Ironia ou talvez não, junto dos jornalistas portugueses Paddy é visto como alguém tímido e introvertido, pouco à vontade para falar da vida pessoal (é casado com uma ex-modelo que conheceu na universidade e têm um filho), o que contrasta com o facto de ser o rosto assumido da Web Summit. Certo é que continua a ser conhecido por viver de forma simples, tal como se veste (a T-shirt – camisola de lã em Dublin – e as calças de ganga mesmo junto a primeiros-ministros são a sua imagem de marca).

    Chegados a 2018, o terceiro ano de presença da Web Summit em Portugal, o evento terá 70 mil pessoas ao longo dos quatro dias (três completos), de 5 a 8 de novembro de mais de 170 países, o que o torna o maior evento de sempre da organização – que está focada em crescer bem mais no novo acordo de dez anos em Portugal, o que irá fazer a FIL também crescer.

    À DN Insider, Paddy congratula-se com os palcos de temas variados do ambiente, ao desporto, moda e política “porque neste novo mundo digital global a tecnologia interceta-se com todos os aspetos da sociedade”. Para o CEO da Web Summit, com esta nova realidade “chegam uma série de novos desafios, mas também muitas vantagens, vejam por exemplo as novas possibilidades na medicina ou na energia sustentável devido à tecnologia”.

    Daí que a Web Summit tenha palcos, neste ano, como o DeepTech, que se irá focar “nas inovações que vão ter impacto profundo em indústrias e na vida das pessoas, como computação quântica, nanotech, materiais avançados ou edição genética”. Há ainda o palco UnBoxed, onde a eletrónica de consumo e respetivos ensaiadores vão ter destaque, ou a CryptoConf, centrada nas criptomoedas e no blockchain.

    A equipa da Web Summit e Paddy Cosgrave parecem ter gostado do que têm encontrado em Portugal e os dez anos do acordo com o Governo português mostram isso mesmo. Paddy explica que “o dinheiro não foi a principal preocupação”, até porque havia cidades europeias a pagar bem mais por ano para ficarem com o evento. Daí que admita que “Lisboa tem-se revelado um sítio mágico” e que “Portugal está a atravessar um momento único”.

    “Quando a Web Summit chegou a Portugal já sentíamos entusiasmo no ar à volta de tecnologia, inovação e empreendedorismo” e, com o crescimento da comunidade de startups, “as multinacionais começaram a pensar em Lisboa como hub europeu”. Daí que Paddy admita que a Web Summit “alimentou-se desta atmosfera vibrante, da cidade, da cultura” e até apresente números: “Um estudo recente diz que o ecossistema nacional de startups está a crescer ao dobro da média europeia.” “
    Tem sido fantástico ver esta evolução”, diz, falando da presença de centros da Google, Mercedes ou Amazon” e num “futuro promissor” nos próximos anos.

    O estranho caso da robô Sophia

    Já tinha estado presente em 2016, mas só no ano passado ganhou honras de telejornais e um mediatismo sem precedentes. Falamos da robô Sophia, que ganhou protagonismo mundial em outubro de 2017 por tornar-se a primeira robô a receber a cidadania de um país (Arábia Saudita).

    Desenvolvida em 2015 pela Hanson Robotics em Hong Kong, é possível conversar com ela e foi pensada como ser com inteligência artificial, capaz de aprender com os humanos. Ao ponto de, no final de 2017, passar a ser uma das caras da operadora portuguesa Meo. Foi assim que alinhou em anúncios ao lado de Cristiano Ronaldo e, mais recentemente, de Mário Crespo.

    A DN Insider falou com a CMO da Hanson, Jeanne Lim, que explicou que existem 12 robôs Sophia, mas ainda não estão à venda, embora estejam disponíveis para aluguer em eventos e patrocínios. Esse foi o caso do anúncio da Meo, o único a nível mundial em que Sophia entrou. “Neste ano e pela primeira vez, Sophia vai ter mobilidade – já poderá andar – e haverá novidades na visão dela, na comunicação não verbal e na criatividade”, disse Jeanne Lim, que prefere não revelar mais pormenores para “poder surpreender na Web Summit”.

    * Este artigo foi originalmente publicado na edição de outubro de 2018 da revista Insider