1. Distrito: Aveiro | Local: Águeda | Esta é uma das cidades em destaque na revista Insider. Pode ficar a saber como o município, fruto de uma estratégia de longo termo, consegue ombrear com as grandes cidades em termos de aposta tecnológica. | Foto: Fernando Fontes / Global Imagens )
2. Distrito: Setúbal | Local: Almada | Projeto: SURECITY | Parte dos esforços de Almada estão concentrados no ambiente. O município está a desenvolver uma plataforma informática de monitorização de emissões de gases com efeito de estufa. Almada é também uma das dez cidades que vai ser um Laboratório Vivo para a Descarbonização, testando soluções que ajudem a reduzir a dependência dos combustíveis fósseis nas cidades.
3. Distrito do Porto | Local: Matosinhos | AYRCredit | Em Matosinhos, quem se deslocar de forma sustentável - com um veículo elétrico, por exemplo - ganha créditos. O AYRCredit é uma aplicação móvel que simula uma carteira virtual de créditos baseada em emissões de CO2 poupadas. Ao poupar o ambiente, o utilizador vai ganhar créditos que depois podem ser usados para comprar produtos. O Primeiro-Ministro António Costa já lá bebeu um café graças a este sistema.
4. Distrito: Beja | Local: Beja | Projeto: EcoPolis | Através do projeto EcoPólis, em Beja todos os caminhos vão dar à sustentabilidade. Mais do que um único projeto, é uma estratégia concertada para tornar o município mais amigo do ambiente. A câmara dá o exemplo: elaborou um projeto para uma urbanização com classificação energética A e vai dar, sem custos, o projeto a quem cumprir os requisitos estabelecidos.
5. Distrito de Vila Real | Local: Boticas | Projeto: Autarquia 24 | Projetos para simplificar os serviços municipais há muitos, mas o de Boticas é um dos mais completos. Através do site da câmara, acessível em qualquer equipamento com ligação à internet, é possível reservar pavilhões municipais, dar a leitura da água, pedir apoios financeiros, requisitar licenças para festas ou obras e também é possível identificar ocorrências no município. Tudo online, sem ser necessário sair de casa.
6. Distrito: Bragança | Local: Bragança | Projeto: Smart Travel | Partilhar e aprender com os outros também é uma prática inteligente. É neste sentido que se destaca o festival Smart Travel de Bragança, focado na partilha de boas práticas em turismo inteligente, no desenvolvimento económico, social e sustentável dos territórios de baixa densidade, sobretudo das pequenas cidades e regiões periféricas.
7. Distrito Castelo Branco | Local: Castelo Branco | Projeto: Rega inteligente | O que começou como um projeto piloto em 2016, é hoje uma aposta séria. O sistema que existe em vários jardins de Castelo Branco desliga a rega automática quando chove, por exemplo. Como é que isto afeta a vida das pessoas? Poupanças de 20% na água despendida e menos dinheiro a sair dos cofres públicos. Pelo caminho apoia a startup local Allbesmart, responsável por esta solução.
8. Distrito: Coimbra | Local: Coimbra | Projeto: The Things Network | Em Portugal há cidades que estão a investir na sua própria rede da Internet das Coisas (IoT), mas em Coimbra é a comunidade quem está a construir esta rede. O projeto The Things Network existe em todo o mundo e permite que qualquer pessoa ou empresa possa instalar um dispositivo de comunicação IoT, partilhando assim a internet que tem em casa ou no escritório. Em Coimbra já existem 23 contribuidores e 9 gateways disponíveis.
9. Distrito: Évora | Local: Évora | Projeto: InovCity | É um dos mais antigos e relevantes projetos em Portugal na área das smart cities. Évora tem uma rede inteligente de energia: há contadores na casa dos utilizadores que comunicam os consumos reais e há sensores na rede de energia que adaptam a capacidade de distribuição ao consumo em tempo real. Os microprodutores de energia renovável também podem injetar as suas produções na rede de consumo.
10. Distrito Faro | Local: Lagoa | Projeto: Primeiro Centro de Operações smart city do Algarve | Lagoa tem o primeiro centro de operações smart city do Algarve, a partir do qual é feita uma monitorização de dados que estão a ser recolhidos por sensores em sistemas de abastecimento de água e de resíduos. Os cidadãos também podem reportar incidentes e acompanhar a resolução do problema numa plataforma no site da Câmara.
11. Distrito: Leiria | Local: Leiria | Projeto: UrbanWins | Leiria está preocupado com os resíduos urbanos e por isso juntou-se ao projeto europeu UrbanWins. A ser implementado desde 2016, vai agora conhecer algumas medidas concretas. A população e empresas do sector vão receber um guia para aprender a reduzir o desperdício alimentar e também vão ser definidas regras para todos os eventos municipais que têm como objetivo reduzir o impacto ambiental
12. Distrito Lisboa | Local: Cascais | Projeto: MobiCascais | Com o MobiCascais, todos podem usar uma aplicação móvel para usar autocarros, comboios, bicicletas, estacionamento e carros partilhados. Funciona através de um modelo de subscrição: 30 dias de uso de bicicletas partilhadas e parque de estacionamento custam 15 euros, por exemplo.
13. Distrito de Aveiro | Local: Arouca | Passadiços do Paiva & Arouca GeoPark | Nem tudo é tecnologia nas smart cities e um dos melhores exemplos vem de Arouca. O município local está a usar os Passadiços do Paiva e o Arouca GeoPark como uma forma de promover a economia e os produtos locais.
14. Distrito: Açores | Local: Ponta Delgada | Projeto: PDL Minibus | Em Ponta Delgada quem tiver um smartphone pode ver os autocarros em movimento - para que paragem se dirigem e quanto tempo falta até lá chegarem. Ou então também podem saber quando um autocarro está parado e é por isso que não chega. Isto acontece, porque os veículos estão equipados com um sistema GPS que dá um retrato em tempo real daquilo que se passa nas quatro linhas do município.
15. Distrito: Portalegre | Local: Portalegre | Projeto: Rede LoRA | Portalegre está a preparar-se para um futuro conectado. O município está a apostar numa rede LoRa, que permite estabelecer comunicação a longa distância e com um baixo consumo energético. Na prática esta é uma rede pensada para a Internet das Coisas - a cidade já tem contentores do lixo e contadores de água ligados à internet.
16. Distrito: Madeira | Local: Porto Santo | Projeto: Ilha sem energias fósseis | Na ilha de Porto Santo a autarquia local, a Empresa de Eletricidade da Madeira e a Renault têm em marcha um ambicioso projeto de mobilidade elétrica sustentável. Veículos elétricos vão estar à disposição de 20 famílias e entidades voluntárias e está prevista a instalação de 40 postos de carregamento elétrico inteligentes - o carregamento dos veículos será feito nas melhores horas, tendo em conta também o restante consumo elétrico da ilha. No futuro, a energia armazenada nos veículos poderá ser injetada na rede pública se houver um consumo acima do normal.
17. Distrito: Santarém | Local: Abrantes | Projeto: ProdFarmer | Mais um exemplo de como usar a tecnologia para promover a economia e produtos locais. O ProdFarmer é um serviço de comércio eletrónico que reúne produtos da região e podem ser comprados em apenas alguns cliques. Aos produtores locais, além de trazer maior visibilidade, traz novas oportunidades de negócio.
18. Distrito da Guarda | Local: Sabugueiro | Projeto: Aldeia Inteligente de Montanha | Cidades inteligentes? O Sabugueiro reclamou logo em 2016 o título de primeira aldeia inteligente em Portugal. Há monitorização de consumos de eletricidade em casas particulares, há um sistema de gestão à distância da água, são usados veículos elétricos para transporte de pessoas com maiores necessidades e também há um projeto para acompanhar indicadores vitais de alguns cidadãos de forma permanente.
19. Distrito: Setúbal | Local: Seixal | O município também está em destaque na revista Insider. Dizemos-lhe como um forte investimento público e privado vai transformar esta cidade ribeirinha numa smart city. Na imagem vê-se a construção do eco-restaurante que está a nascer no Seixal. | Foto: Carlos Costa/Global Imagens
20. Distrito Braga | Local: Braga | Projeto: Transportes Urbanos de Braga (TUB) | Em Braga os autocarros não são apenas autocarros: são pontos de acesso Wi-Fi, são leitores ambulantes da qualidade do ar, temperatura e humidade, e também são geradores de dados para a empresa que faz a gestão destes veículos. O TUB também tem uma aplicação móvel para que os utilizadores saibam quando e onde apanhar os autocarros.
21. Local: Viana do Castelo | Local: Viana do Castelo | Projeto: Contadores inteligentes | São mais de dez mil os contadores de água inteligentes que estão instalados em Viana do Castelo. Isto permite ter leituras em tempo real e obtê-las de forma remota. Esta gestão mais eficiente estende-se também à deteção mais rápida de fugas que possam existir.
22. Distrito: Viseu | Local: Viseu | Projeto: Viriato | Ainda não está funcionamento - chega em 2019 -, mas promete ser um dos principais ícones da inteligência urbana em Portugal. O funicular que existe em Viseu vai dar lugar a um veículo elétrico e autónomo que vai ligar a Cava de Viriato ao centro histórico da cidade, sete dias por semana. De noite também não para, pois é silencioso na deslocação. O município prevê poupar 80 mil euros por ano com esta troca.
De um lado Seixal, uma cidade inteligente em pleno nascimento. Do outro, Águeda, uma referência na inteligência urbana. O que têm em comum? Ambas veem na tecnologia uma ferramenta para melhorar a vida dos seus cidadãos e, pelo caminho, cortar na despesa pública. Em Portugal as cidades estão a ficar inteligentes: mais autónomas, mais conectadas e, no final de tudo, mais humanas.
Estavam a passear junto à zona ribeirinha. Carlos Ferreira, seixalense de gema, e Fátima Ferreira, nascida na zona do Fundão mas habitante do Seixal desde os 6 anos. Ele, mais pessimista, diz que a sua terra já teve outro encanto. Ela defende que a cidade está muito mais bonita. Na discórdia há um entendimento: nenhum dos dois sabia que o Seixal está a transformar-se numa cidade inteligente.
“Admito que possa haver ainda algum desconhecimento da população, mas temos procurado fazer chegar essa informação às pessoas”, diz Joaquim Tavares, vereador do pelouro do Ambiente, Serviços Urbanos, Energia e Espaço Público da câmara local.
O Seixal vai investir um total de 2,5 milhões de euros – entre dinheiro público e de investidores privados – para apetrechar de tecnologia e infraestruturas o percurso ribeirinho de quatro quilómetros que liga o Largo 1.º de Maio à Rua dos Operários, já do lado da Amora.
Se tudo correr como previsto, até ao final de março de 2019 haverá ecopontos que vão dar benefícios a quem fizer a separação do lixo, bicicletas elétricas e segways para quem quiser passear de forma mais rápida, um comboio elétrico para quem gosta de apreciar a vista e até contadores de água inteligentes para acabar com os problemas das faturações desajustadas. Luzes com sensores para analisar o ar? Check!
“Estávamos a trabalhar projetos soltos e este permite conjugar uma série de ações que vão dar maior relevo ao caminho de cidade inteligente. O que pensamos é que deve servir melhor as populações e deve ser mais sustentável”, justifica o vereador sobre esta aposta.
Na zona ribeirinha do Seixal está a nascer um ecorestaurante, que vai produzir refeições com energia que é gerada através de painéis fotovoltaicos. Foto: Carlos Costa/Global Imagens
Em termos técnicos, o Seixal vai ser um dos dez Laboratórios Vivos para a Descarbonização, projetos que vão arrancar em igual número de municípios para reduzir o impacto que a rotina das cidades tem no meio ambiente.
No caso do concelho do Seixal, todos os projetos que vão arrancar deverão ajudar a reduzir o consumo energético em 680 mil Kwh por ano e a reduzir em 353 toneladas as emissões de CO2. Também vai haver poupanças para a câmara, mas Joaquim Tavares prefere não revelar números.
“Tudo isto contribui para termos melhor qualidade de vida e para inverter um ciclo em que o homem, por via do desenvolvimento, não olhou a meios para atingir os fins”, defende o vereador do Seixal, que também diz que em muitas cidades de Portugal já se veem “efeitos de uma intervenção que tem pensado este conceito da cidade inteligente”.
A norte, a 280 quilómetros do Seixal, há sistemas de reconhecimento facial a bloquear uma porta na Câmara Municipal de Águeda. Só os técnicos que lá trabalham têm a chave mágica. Devidamente acompanhados, entrámos.
A sala não é grande, mas os números são: em dois ecrãs gigantes é possível ver o total de incidentes já reportados pelos habitantes do concelho – mais de 37 mil – e também ver a taxa de satisfação da resolução desses problemas: 95%.
Como descobrimos que os habitantes de Águeda sabem que a sua cidade é inteligente? Às 11.30 de uma sexta-feira, em pleno horário de trabalho, estavam 72 pessoas ligadas à rede Wi-Fi pública.
O centro de operações para a cidade inteligente da Câmara Municipal de Águeda, onde são monitorizados vários dados, como as queixas reportadas pelos cidadãos. Foto: Fernando Fontes / Global Imagens
É difícil referir todos os projetos de smart city que Águeda tem. Como salienta Jorge Almeida, presidente do município, “são dezenas”. Há contadores inteligentes nos edifícios públicos, há plataformas de dados abertas para quem quiser explorar, há bicicletas partilhadas, há 700 alunos no concelho que trocaram os livros por tablets na sala de aula e há um laboratório vivo.
Este laboratório, o Águeda Living Lab, situado em plena rua dos guarda-chuvas coloridos, tem impressoras 3D, máquinas de corte e kits de eletrónica para fazer robôs. Quem quiser aparecer é bem-vindo e não paga pela utilização.
“Acho que o coeficiente de felicidade está bastante em alta, sobretudo nesta altura aqui em Águeda”, salienta Jorge Almeida. “Acho que as pessoas sentem um orgulho grande, do posicionamento e de alguma notoriedade que o concelho tem vindo a adquirir ao longo do tempo.”
Talvez seja por isso que no edifício da câmara ninguém fica chateado por não poder usar os elevadores. Estão lá e a funcionar, mas apenas para quem tem problemas de mobilidade. Todos os outros sobem e descem as escadas, pela saúde e pela poupança energética – um exemplo perfeito do que é viver de forma inteligente.
Portugal mais inteligente
“Diria que há cerca de 40 municípios que estão a apostar de uma forma séria e que percebem que esta lógica da inteligência urbana vai trazer mais qualidade de vida aos cidadãos e, ao mesmo tempo, ferramentas de trabalho que permitem otimizar os recursos existentes.” É desta forma que Almeida Henriques, coordenador da secção de cidades inteligentes da Associação Nacional dos Municípios Portugueses (ANMP) e presidente da Câmara Municipal de Viseu, pinta o quadro atual das smart cities em Portugal.
O autarca refere, no entanto, que ainda há muitos líderes de municípios a quem falta visão nesta área. Os números comprovam-no: um estudo feito pela Universidade Nova de Lisboa concluiu que quase 60% dos municípios portugueses dizem ter estratégia de smart city, mas são 80% os municípios portugueses que dedicam menos de 500 mil euros por ano à concretização das suas iniciativas nesta área.
Ou seja, há mais vontade do que projetos propriamente ditos. Algo que precisa de mudar, defende Almeida Henriques, pois pode ajudar a equilibrar a balança de um país que está a pender há vários anos para o litoral. “O recurso à inteligência urbana pode ser uma forma de nós também desenvolvermos mais rapidamente estes territórios do interior”, defende.
Catarina Selada, especialista no tema e diretora do CEiiA CityLab, considera que a estrutura dos municípios portugueses até é favorável para projetos de smart cities. “Os municípios portugueses, pela sua dimensão, com uma população permeável à introdução de tecnologias e de novas formas de mobilidade, têm-se mostrado um bom território para o teste de soluções no âmbito das smart cities”.
Por outro lado, estas iniciativas têm de ser orgânicas e não devem ser impostas, por exemplo, através de regras legislativas. “As estratégias de inteligência urbana deverão centrar-se nas especificidades dos territórios em termos económicos, sociais, culturais e institucionais, não existindo receitas únicas para a transformação de uma cidade numa smart city. É um processo de construção coletiva em que colaboram todos os atores locais: autarquias, centros de conhecimento, empresas, associações e os cidadãos.”
Se já há vários exemplos de projetos um pouco por todo o país, ainda há um elemento que está a faltar nos planos de cidades inteligentes em Portugal: integração. Na prática, os municípios têm trabalhado isoladamente em diferentes áreas, seja mobilidade seja gestão energética ou portais de transparência. Falta fazer com que tudo funcione entre si e, se possível, de forma automática.
“Podemos ter sensores de qualidade do ar e se uma determinada avenida da cidade começa a ter níveis preocupantes a nível da qualidade do ar, deve desviar-se o trânsito para outras artérias”, exemplifica Miguel de Castro Neto, subdiretor da NOVA Information Management School, na qual dirige a pós-graduação em smart cities.
Enquanto a integração de dados não acontecer, defende o académico, os governantes vão estar “quase de olhos tapados”. Miguel de Castro Neto diz isto também no sentido em que muitos dos dados que podem ser interessantes para o desenvolvimento de cidades mais inteligentes e autónomas estão do lado das empresas privadas, como as operadoras de telecomunicações.
“Devia haver uma camada de dados, eventualmente não trabalhados, que de alguma forma são um bem público, não um bem privado”, considera.
Ainda que o tema esteja sempre ligado à tecnologia, o professor da NOVA IMS deixa um conselho para todos os autarcas que ainda querem começar a desenvolver projetos nesta área: “Falar de smart cities não é falar de informática. Cidades inteligentes é usar a tecnologia para planear, gerir e servir o nosso território e o cidadão.” Agora é a vez de os autarcas serem smart.
Este artigo foi originalmente publicado na edição de julho de 2018 da revista Insider
