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Ricardo Macieira é o country manager da fintech Revolut no país há seis meses – já com 350 mil utilizadores e 800 milhões de euros em operações – depois de ter montado a Airbnb em Portugal. Ao Dinheiro Vivo/Insider admite ter ficado surpreendido com o crescimento em Portugal e como a fintech “quer tornar-se no primeiro banco global do mundo”.

Do amor pelas artes e pelo design até à gestão de duas empresas tecnológicas com alcance global. Aos 35 anos, o oeirense Ricardo Macieira é um homem de paixões e missões, que depois de cinco intensos anos a montar o negócio da Airbnb no país, sempre a partir de sua casa em Palmela, lidera há seis meses a Revolut Portugal, fintech londrina de crescimento a ritmo vertiginoso criada há apenas quatro anos pelo russo-britânico Nikolay Storonsky.

Ele que foi corretor da Credit Suisse e Lehman Brothers e, numas férias no sudeste asiático “em que pagou um valor surreal cobrado pelos bancos com os câmbios”, decidiu criar um serviço livre dessas taxas. Em 2016 a Revolut foi uma das pequenas startups a fazer o seu pitch na primeira Web Summit em Lisboa, em busca de investidores, “com um stand minúsculo e que era ridicularizada pelos bancos tradicionais”, explica-nos há uns meses Paddy Cosgrave (CEO da Web Summit) – hoje a empresa valerá já perto dos cinco mil milhões de dólares.

Ricardo Macieira Country Manager Portugal, Revolut.
(Leonardo Negrão / Global Imagens)

E como é que um designer se torna no country manager da Airbnb e Revolut? Ricardo sempre gostou de desenhar e quando chegou a altura de escolher o curso, era artes ou arquitectura. Tirou o curso de design visual, no IADE e seguiu-se o trabalho como designer ou diretor de arte em pequenas empresas onde aprendeu todos processos para desenvolver um produto – numa delas criava produtos para turistas. 

Em 2010 aventurou-se no empreendedorismo com a mulher (que trabalhava com ele) ao criarem a sua própria empresa mesmo antes da crise. A Alok fazia trabalhos de design e representava marcas mais artísticas em Portugal. “Foi uma aventura tramada aguentar a crise em 2011/2012, quando a empresa era a única fonte de rendimento da família, com uma filha para criar. Mas aguentámos e hoje a empresa está muito sólida. É a minha mulher que a gere”. 

A relação com o Airbnb começou como um mero anfitrião, logo no início da entrada do serviço de alojamento local na Europa, “quando ninguém sabia o que era”. Alugava o seu pequeno apartamento em Lisboa e criou, depois, o primeiro city group da comunidade em Portugal. Quando a multinacional quis expandir o negócio na Europa (cuja operação crescia a olhos vistos) e abriu uma posição para Portugal, foi o eleito. 

Deram-lhe um computador e uma “folha em branco”. Teve de criar tudo de raiz, a partir de sua casa, em Palmela, com reuniões mensais com o escritório de Barcelona. contactos com membros do governo e viagens pelo país para contactar com os anfitriões. Nos últimos tempos já contava com uma equipa de cinco pessoas e era responsável por Portugal, sul de Espanha e Canárias – a Airbnb Portugal era mesmo um caso de estudo global.

Com a missão de tornar o alojamento local e o conceito “belong anywhere” (pertencer a qualquer lugar, dando a possibilidade de cada um partilhar a sua casa e ganhar dinheiro com isso) já conquistada, procurou novos desafios e encontrou na fintech Revolut, em que cada vez mais amigos seus confiavam, o casamento perfeito. “Sou muito de missões que me entusiasmam e na Revolut encontrei uma empresa que quer democratizar tudo o que é financeiro e tirar toda a treta (incluindo taxas) que pode haver na banca mais tradicional”. Adepto do estilo de vida vegan, da sustentabilidade e da proteção dos animais (ajudou a organizar evento sobre o tema em Paredes de Coura com oradores internacionais), quer ajudar “a tornar a Revolut o primeiro banco global”.

E o que é a Revolut? 

Está presente em 24 mercados (entra em breve no Canadá e EUA), caminha para os 9 milhões de utilizadores e, em Portugal, cresce ao ritmo de 1500 novas contas por dia, já com 350 mil utilizadores e 800 milhões de euros transacionados por portugueses através da app só em 2019 (triplicou face ao ano passado). 

Começou por valer como app/serviço que permite fazer transações ou pagar produtos fora do país sem ter de pagar taxas de câmbio, “mas hoje já é mais do que isso”. “Estamos a posicionarmo-nos para sermos a app que gere toda a vida financeira de cada um que inclui comprar ações, criptomoedas ou fazer transações mais seguras com mais alertas”, explica Macieira. 

A Revolut opera neste momento a partir de um cowork no centro de Lisboa. Ricardo Macieira Country Manager Portugal, Revolut.
(Leonardo Negrão / Global Imagens)

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quem viaje para países fora da zona euro “está a perder dinheiro se pagar produtos sem ser com a Revolut”

Crédito e depósitos a prazo no horizonte

A Revolut, que já tem licença bancária, vai começar a testar no final do ano serviços mais próximos da banca tradicional, como a oferta de crédito. Seguem-se os depósitos a prazo, entre outros – para já, sem data de lançamento previsto para Portugal. Face aos bancos tradicionais, a Revolut faz da “simplicidade, ausência de taxas e agilidade do serviço (e evolução constante) o seu mantra”, isto além dos “alertas de segurança mais evoluídos do que os bancos tradicionais”. “Somos mais ágeis e rápidos na implementação da inovação”, admite ainda Ricardo Macieira, que não se preocupa com a rivalidade com os bancos. O responsável admite mesmo que quem viaje para países fora da zona euro “está a perder dinheiro se pagar produtos sem ser com o seu cartão Revolut”, devido às taxas cobradas pelos bancos.

Em Portugal, tem contactado com as autoridades, inclusive com o Banco de Portugal e com bancos tradicionais e também tem aberto a porta a parcerias com empresas que partilhem o mesmo ADN que a Revolut. “Mostramos o que fazemos e esclarecemos dúvidas, numa postura de diálogo”, adianta. Para já não sente a rivalidade, mas sim “alguma curiosidade saudável sobre o que estamos a fazer”. Macieira admite mesmo que “se a Revolut chega com um produto que faz com que os bancos melhorem os seus produtos, quem ganha é o consumidor final, depois ganha quem tiver o melhor produto”. 

O responsável deixa ainda uma das suas máximas desde que entrou nas tecnológicas, onde o foco total tem sido sempre “a melhoria dos produtos oferecidos ao utilizador”: “It’s not competitors that drive you out of business, it’s the customers” (não são os rivais que te levam à falência, são os consumidores).

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Revolut for Business, um negócio para crescer

A estratégia para Portugal assenta agora em chegar rapidamente aos 500 mil utilizadores – embora o CEO, atire já para o objetivo seguinte de um milhão. “Em Portugal é normal sermos early adopters e temos já uma penetração muito superior a Espanha, que tem 400 mil utilizadores [em Portugal são 350 mil], mas é 4,5 vezes maior”. 

A fintech usa programas de referência como uma das estratégias de crescimento – cada pessoa que um utilizador traz para a plataforma, ganha 5 euros. “Esse tipo de programas funciona bem em países onde há uma comunidade forte, como é o caso de Portugal”, diz Macieira. Outra das particularidades de Portugal é que os utilizadores criaram de livre e espontânea vontade uma página no Facebook (não oficial), já com 12 mil fãs, um grupo de Facebook, com 19 mil pessoas, e um site. Por lá partilham dicas e novidades e são um elo de ligação à equipa de gestão em Portugal.

A área para empresas, Revolut for Business, é outras das esperanças para sustentar o crescimento da empresa. Já levam 150 mil clientes (dos freelancers, empresários em nome individual a empresas maiores) a nível mundial e Portugal é já o 5º maior mercado. A aposta levou a que contratassem agora um gestor dedicado a esse negócio, o que eleva a equipa que gere o negócio da Revolut Portugal (com operação há apenas seis meses) a quatro pessoas no total.

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O trabalho é feito num espaço de cowork, no Palácio Sottomayor, no centro de Lisboa, um cenário algo diferente do trabalho a partir de casa que fez nos tempos da Airbnb. Ainda assim, o country manager admite que todos podem trabalhar um dia ou dois a partir de casa, “porque nesta era digital podemos trabalhar de qualquer lado, desde que tenhamos internet e um computador”. Macieira admite que com o crescimento exponencial podem contratar mais pessoas no próximo ano, “dependendo das necessidades”.

Certo é que o centro de assistência global da Revolut, de Matosinhos, que opera neste momento com 70 pessoas num espaço provisório, vai abrir “o novo e impressionante edifício nos próximos dois meses”, naquele que foi um investimento de 4 milhões de euros. Em 2020 vão trabalhar lá 500 pessoas, dando assistência de várias valências aos clientes de todas as latitudes.

Já sobre o negócio da Revolut, Ricardo Macieira que também é mentor da Startup Portugal conclui: “só podemos continuar a crescer em utilizadores e em melhoria e aumento dos serviços”, onde irá estar incluído em breve uma app/serviço chamado Revolut Youth, para ajudar os jovens a gerir o dinheiro, sob o controlo dos pais.

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