O ZX Spectrum não está morto. E a coleção de milhares de euros deste português prova-o

João Diogo Ramos é natural de Cantanhede e nos últimos seis anos tem colecionado versões da ZX Spectrum, acessórios e outros objetos que estão ligados à Sinclair, a empresa que criou o icónico sistema de jogo que marcou a década de 1980.

Load “” [Enter]. Esta é a famosa linha de comandos que muitas pessoas em todo o mundo ainda sabem de cor, pois era assim que se iniciava uma tarde de jogos com os amigos na ZX Spectrum. Lançada a 23 de abril de 1982, a consola completa, esta terça-feira, 37 anos. “Sou engenheiro informático por causa do Spectrum”.

Quem o diz é João Diogo Ramos, detentor daquela que deverá ser a maior coleção de consolas Spectrum em Portugal: ao todo tem mais de cem modelos, uns mais raros do que outros, aos quais ainda acrescem todos os acessórios que tem vindo a colecionar.

“Comecei a colecionar de uma forma bastante séria os Spectrum, principalmente, como uma espécie de arqueologia, no sentido de estudar os objetos e de preservá-los, garantir que não desapareceriam”, conta em entrevista à Insider.

Aos 40 anos, o colecionador natural de Cantanhede diz que tem equipamentos cujos valores variam “facilmente” entre os 600 e os mil euros, enquanto outros são “coisas mais baratas”. “Estão ali [na coleção] umas dezenas de milhares de euros investidos, mas não tenho um número fixo para lhe dar”.

Fala-nos, por exemplo, de um ZX Spectrum chamado +2A e que no seu interior tem uma placa de circuitos específica, “um modelo espanhol que consegui arranjar e que é extremamente raro”. Tem também modelos que foram produzidos em Portugal, pela Timex na Costa da Caparica, mas que tinham como destino mercados tão distintos como a Argentina ou a Polónia.

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“Só para ver a dimensão da maluquice, há um ano, desafiado por um conjunto de amigos ingleses, meti-me num avião e fomos todos para Cambridge visitar as sedes antigas da Sinclair, conseguimos acesso aos edifícios e ver algumas coisas que se mantêm”, recorda.

Diogo diz que passa muitas horas em plataformas como o eBay à procura da próxima peça para a sua coleção e que neste momento está a tentar comprar dois Spectrum que estão no Peru, “o que é um filme logístico”.

“Costumo brincar e dizer que tenho uma morada em cada país, quase. São amigos que tenho em cada sítio e quem eu vou chateando: ‘Pelo amor de Deus, recebe-me aí mais uma encomenda porque o vendedor não quer mandar para Portugal’. Costumo valorizar muito estas relações, são elas que permitem às vezes fazer o que parece impossível”.

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Uma das peças mais icónicas da sua coleção pessoal – um triciclo que a Sinclair lançou em 1986 e que, na opinião de João, contribuiu para a falência da empresa -, também exigiu alguma ginástica social. “Fui inscrever-me em grupos de Facebook na Holanda a pedir a alguém que me fosse buscar a encomenda. Por sorte encontrei uma pessoa de uma transportadora e consegui trazer o aparelho”.

Uma coleção que é para partilhar

Para celebrar o 37º aniversário da consola, João Diogo Ramos vai ter a sua coleção em exposição no Museu da Pedra, em Cantanhede, e onde deverá permanecer até ao final do ano. A exposição com o nome Load “” arranca com um evento às 15 horas de sábado, 27 de abril.

Além do espólio de consolas raras e não raras, os visitantes vão poder ver os restantes artigos que fazem parte da coleção: sistemas de disquetes, gravadores de cassetes, modems, joysticks, ratos, cassetes, cartuchos e teclados externos, entre outros acessórios.

Da coleção visitável fazem ainda parte livros e revistas que falam do percurso e interesses pessoais de Sir Clive Sinclair, pessoa responsável por criar a ZX Spectrum.

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