“Juntar as forças da Europa à inteligência artificial pode criar um grande futuro”

Markus Noga SAP

Markus Noga, líder de aprendizagem automática (machine learning) na tecnológica alemã SAP, acredita que o impacto da inteligência artificial no mundo será tão grande como o da eletricidade e do motor a vapor nas suas respetivas épocas.

Estima-se que 77% das transações empresariais feitas a nível global têm ‘mão’ do software SAP. Só na plataforma de compras Ariba são movimentados dois biliões de dólares por ano, mais do que o eBay, a Alibaba e a Amazon combinados. Na plataforma de redes de viagens Concur são transacionados 15 mil milhões de dólares em reservas. Já na solução de recursos humanos Success Factors existem mais de 50 milhões de utilizadores únicos.

Por ser a maior empresa de software da Europa e uma das maiores do mundo, a gigante alemã tem acesso a um dos mais valiosos conjunto de dados para treino de algoritmos de inteligência artificial. E Markus Noga é o homem que está sentado no topo desta pilha gigantesca de informação.

O alemão é vice-presidente da SAP e líder da divisão de aprendizagem automática da empresa. É também um dos especialistas que tem aconselhado a Europa na criação de uma política responsável para os sistemas de inteligência artificial. E acredita que a inteligência artificial vai mudar o mundo, tal como outras tecnologias influentes o fizeram no passado.

“Os processos de negócio são repetitivos e sempre que alguma coisa acontece com alta frequência, temos a oportunidade de automatizá-la. Tudo o que é um processo empresarial e possa ser gerido de forma digital, nós podemos aprender com ele e colocar um ‘aprendiz’ na aplicação de negócio para automatizar as tarefas mais simples, para que os humanos do processo possam focar-se nos elementos de maior valor”, começou por explicar em entrevista à Insider.

“Todos [empresários] com quem falámos têm constrangimentos de recursos e se os ajudarmos a tomar conta das tarefas rotineiras de forma automática, eles têm uma boa ideia do que fazer [com o tempo extra] e que ainda não foram capazes por causa dos constrangimentos que têm”, acrescentou.

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A SAP está a apostar numa estratégia agressiva de integração de inteligência artificial nas suas diferentes plataformas de gestão empresarial e até ao final do ano pretende adicionar quase 80 novas funcionalidades ‘inteligentes’ no seu portfólio. Isto porque acredita que estes serão elementos indispensáveis na próxima grande batalha entre empresas de diferentes sectores.

“Se estiveres num mercado competitivo e os teus concorrentes conseguirem servir 60% dos clientes de forma totalmente autónoma, sem custos envolvidos do lado humano, se são capazes de detetar automaticamente as melhores oportunidades de vendas e tu não estás a fazê-lo, pergunta-te se os teus produtos e serviços são assim tão diferenciadores para que possam compensar esta desvantagem”, atiçou, para depois acrescentar:

“A partir de um determinado ponto, a inteligência artificial vai ser o novo normal e todos os que não estão a fazê-la ficam em desvantagem”.

Mas o poder e potencial da inteligência artificial podem ir muito além do mundo dos negócios, segundo a opinião de Markus Noga. “Diria que a inteligência artificial é a tecnologia dos nossos dias, é o que a eletricidade ou o motor a vapor foram há algumas décadas ou séculos. A mestria desta tecnologia em todas as áreas de negócio e da sociedade civil vai certamente contribuir para uma posição de liderança”.

A Europa, defende, está numa posição privilegiada, sobretudo porque tem a posição única de combinar o potencial da inteligência artificial com software empresarial, maquinaria, produtos de fabrico ou tecnologias de energias, áreas nas quais o ‘velho continente’ continua a dar cartas.

“Aplicar e integrar esta inteligência e aprendizagem nos produtos nucleares das soluções empresariais tem o potencial para continuar a liderança europeia em muitas destas indústrias nas décadas que estão para vir. Diria que combinar as nossas forças nestas áreas, com o poder da inteligência artificial, tem o potencial de criar um grande futuro para a Europa e estamos todos a trabalhar nesse sentido”.

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