Pixels Camp. Provavelmente a maior concentração de programadores por m2 em Portugal

Pixels Camp | Bright Pixel | Hackathon
Imagem: Pixels Camp / Medium

Competição de três dias tem prémios no valor de 20 mil euros para os melhores projetos. Grandes empresas como Siemens, SIBS e Sonae lutam entre si para conseguirem a atenção dos programadores.

Pedro Pinto e Maria Dias faltaram às aulas para participarem naquela que é a maior maratona de programação feita em Portugal. “Infelizmente estamos a faltar, mas a experiência de vir cá é mais importante do que faltar a uma ou outra aula que conseguimos compensar”, disse-nos o jovem de 20 anos.

Ambos de Braga e estudantes do terceiro ano da engenharia informática na Universidade do Minho, explicam por que razão é tão importante estar no Pixels Camp. “É um evento enorme de programação em que podemos conhecer colegas de vários pontos do país e discutir ideias na nossa área de interesse”, confidencia Maria Dias.

Esta é já a terceira edição do Pixels Camp, uma competição que junta alguns dos melhores cérebros de Portugal ao nível da programação e tecnologia. No Pavilhão Carlos Lopes, em Lisboa, estão reunidas mais de 1.350 pessoas – ou seja, há um programador por cada dois metros quadrados de espaço. E há mesmo quem não arrede o pé do local até sábado à noite, quando termina a competição.

“É um processo de candidaturas seletivo e nós temos sempre que fechar as portas em algum ponto, mas é seguro dizermos que este ano, em termos de números, temos o maior Pixels Camp de sempre”, confirmou Celso Martinho, fundador da Bright Pixel, uma empresa de investimento e desenvolvimento que pertence ao grupo Sonae, em entrevista à Insider.

Para Joel Francisco, de 25 anos e natural de Leiria, esta é a segunda vez que participa na hackathon. “Uma das coisas muito fixes e que acho positivas é a capacidade de chegares a qualquer pessoa e conseguires falar abertamente sobre as qualidades técnicas, sobre aquilo que fazes”.

Leia também | Programadores: a carreira do futuro e com alta empregabilidade

Veio com alguns amigos para desenvolver um projeto na área da domótica, que monitoriza os consumos de água para saber se há fugas. Versado na linguagem de programação C#, diz que mesmo que não tivesse uma equipa viria na mesma, sozinho, para o evento.

“Se me levantar desta mesa e for ali ter com outro grupo qualquer a perguntar ‘então o que estão a fazer, qual é a vossa área?‘, provavelmente vão dizer coisas que eu não conheço – e sou da área. O que é superpositivo, é superinteressante. Tens sempre aquela noção de que vais sair daqui com mais conhecimento”.

“Começo a ver quantidades maciças de pessoas que já não conheço e isso é bom, é ótimo, significa que pessoas jovens, estudantes das universidades gostam desta área e gostam da nossa proposta de valor e gostam do nosso evento e vêm ter connosco”, disse Celso sobre o cada vez maior número de jovens no Pixels Camp.

Uma mina de talento

Quando se junta tanto talento, vontade de programar e aprender, isso atrai muitos interessados, entre os quais estão algumas das maiores empresas em Portugal. Siemens, Talkdesk, SIBS, Cisco, Sonae, Microsoft e NOS são alguns dos parceiros da hackathon e que lançaram desafios concretos aos programadores.

A SIBS, por exemplo, desafiou os programadores a integraram a plataforma de pagamentos digitais MBWay em tudo o que conseguissem imaginar. Já a Siemens disponibilizou um conjunto de dados da empresa relativas a tentativas de phishing e pediu que os programadores ajudassem a identificar de forma mais eficiente e rápido as mensagens maliciosas que caem na empresa.

“O phishing é um problema, todos já receberam mensagens de príncipes da Nigéria”, brincou André Cardoso, que trabalha no departamento de cibersegurança da gigante alemã.

Já depois da apresentações de todos os desafios, João Ricardo Moreira, administrador da NOS Comunicações, explicou-nos por que razão há tanto interesse das grandes empresas em eventos como este.

“O facto de trazermos estes desafios é por acreditarmos que há mais valor na interação, na troca de ideias, na partilha de visões muito tecnológicas do que se pode fazer. Acreditamos que a inovação se faz de forma aberta e não num departamento de inovação fechado que tenta fazer tudo e bater em concorrência os outros”.

A operadora de telecomunicações já esteve noutras edições do Pixels Camp a lançar desafios. Apesar de nenhuma das soluções criadas ter resultado num produto palpável, o executivo acredita que “a relação criada, muito da análise dos desafios que foram lançados, dará resultados”.

Leia também | Programadores ganham cada vez mais em Portugal – e salários vão continuar a aumentar

“O facto de não ter dado até este momento não nos tira minimamente a convicção profunda de que os desafios aqui lançados vão dar resultados, seja para pequenas soluções que se integram em soluções maiores, seja em soluções individuais que até podem ser como startups e empresas de sucesso no futuro”.

Se trabalhar com uma grande empresa para muitos já é chamariz suficiente, para outros o valor monetário faz o resto. De todos os desafios que estão disponíveis, há mais de 20 mil euros em prémios disponíveis para ‘recolher’.

Pixels Camp abre-se ao mundo

Dos mais de 1.300 participantes da competição de programação, há pessoas de 12 nacionalidades diferentes. Bogdan, da Ucrânia, é um desses exemplos. O jovem de 20 anos está em Portugal a trabalhar na empresa Advert.io e revela que nunca tinha visto um ambiente igual. “É o primeiro lugar onde vejo um grupo tão grande de programadores num único sítio”.

Sozinho numa mesa estava a tentar procurar os colegas de equipa – diz que fisicamente é difícil encontrá-los, por isso estava a recorrer ao WhatsApp. Mas a internet não colaborava, tal era a sobrecarga que todos os participantes lhe estavam a colocar.

Internacionalizar o Pixels Camp é um dos objetivos da Bright Pixel. “Há uma percentagem de pessoas que estão aqui, portuguesas, que não trabalham em Portugal, trabalham em várias cidades de vários países na Europa, em empresas que podem ou não ser portuguesas, muitas são multinacionais”, explicou Celso Martinho.

“Por isso é que decidimos que a língua é o inglês e permitimos que qualquer pessoa de qualquer país se inscreva e participe no evento”. “Nós acreditamos no projeto europeu, acreditamos que as pessoas são valiosas onde quer que estejam, seja em Portugal ou noutro país qualquer, queremos atrair empresas de fora também para conhecerem Portugal”.

Além da competição principal, há toda uma série de atividades dignas de um filme de Hollywood: uma competição de comida picante chamada Nuclear Tacos, exibições de filmes como Ready Player One, batalhas de robôs, karaokes, concursos de cultura geral e bebidas energéticas a qualquer hora do dia. Não é à toa o Pixels Camp não é considerao apenas ‘mais um’ evento de tecnologia. Para muitos é ‘o’ evento.

Nesta competição da ICPC, há ‘Ronaldos’ a programar, treinadores e até olheiros de tecnológicas