Nesta competição da ICPC, há ‘Ronaldos’ a programar, treinadores e até olheiros de tecnológicas

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Pela primeira vez, há participação portuguesa nas finais de programação da competição global ICPC. O Porto recebe a competição, com a Universidade do Porto como anfitriã.

Em cinco horas, um grupo de jovens de 20 anos vai partilhar um computador com o objetivo de resolver o maior número de problemas de programação, que envolvem a criação de algoritmos e programas. E há quem esteja de olhos fixos neles, à caça de talento.

A participação portuguesa na competição de programação International Collegiate Programming Contest (ICPC) é feita de estreias. Pela primeira vez, a competição global dos génios da programação é feita em Portugal, com o Porto como localização escolhida e a estimativa de “um evento que cria dinâmica superior a 2 milhões de euros”, refere a Universidade do Porto, a anfitriã da prova.

Três jovens portugueses vão competir em casa na primeira participação portuguesa na fase final desta competição. Há anos que Portugal participa nesta prova com bons resultados nas fases regionais – mas ficava sempre a um passo da final. Em jogo está não só a taça capaz de ilustrar o talento português para a programação mas também a hipótese de uma carreira na tecnologia.

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Ricardo Pereira, Gonçalo Parede e Alberto Pacheco, alunos de Ciência dos Computadores e Matemática, respetivamente, da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto, vão representar Portugal na final. Na primeira fase do concurso, a concorrência era maior: 40 mil jovens.

Na Alfândega do Porto, onde se realizará a final, a 4 de abril, vão competir contra 1400 jovens, oriundos de 50 países. A avaliação dos problemas é feita de forma automática e, por cada enunciado resolvido, a equipa ganha um balão na secretária, para que o público consiga perceber quem está a ganhar. “Digo-lhes que querem levantar voo durante a prova”, explica Pedro Ribeiro, professor no Departamento de Ciências e Computadores da Universidade do Porto e também treinador da equipa.

Pedro Ribeiro não é um estranho na competição ICPC, tendo já representado Portugal nesta prova enquanto concorrente, em 1999 – curiosamente, com o vice-reitor da Universidade do Porto, Fernando Silva, como treinador. Este ano, inverteram-se os papéis, com Pedro Ribeiro a estrear-se como treinador.

“Não deixa de ser um desporto, mas é um desporto mental”, explica, acrescentando que “há a parte científica, de resolução de problemas, que se treina”. Pelo menos uma vez por semana, a equipa pratica: juntam-se ao docente para simular uma prova semelhante à da final. “É necessário pegar em tudo o que conhecem e perceber como é que podem resolver as coisas, partir pedra.”

Pedro Ribeiro ressalva que é benéfico que os alunos conheçam problemas antigos, que já estiveram a concurso. Ao mesmo tempo, ainda é preciso ter em conta a gestão da dinâmica de equipa. Ricardo Pereira, um dos jovens que compõem a equipa, sublinha que “ainda há o tempo de estudo individual, feito em casa”.

Olheiros nas bancadas

Nesta competição, há bancadas com espectadores e até transmissão em direto, através da internet. Neste ano, para envolver as pessoas que queiram assistir, estão prometidos ecrãs gigantes na Alfândega do Porto e nas primeiras quatro horas, a prova é pública. Na última hora de competição, adensa-se o mistério, há maior secretismo para perceber quem leva a taça para casa.

Pedro Ribeiro, que durante a final não vai ter qualquer contacto com os jovens, reconhece que o momento de resolução de um problema com nota positiva consegue aquecer as bancadas. “Não é tão emocionante como um golo, mas para nós é como se fosse.”

E nas bancadas desta final não estão só familiares, amigos ou professores das várias universidades – há também espaço para olheiros à procura de talento. A diferença é que, neste caso, são olheiros de empresas ligadas ao mundo da tecnologia.

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Ao longo dos anos, a ICPC tem entre os alumni Craig Silverstein, o primeiro empregado da Google, ou Adam D’Angelo, o diretor-geral da Quora, o que cimentou a ideia desta competição como um viveiro de talento tech. “É um aspeto muito motivante, pelo facto de as tecnológicas estarem presentes”, explica Ricardo Pereira, recordando “colegas que participaram na competição e foram recrutados para a Microsoft ou o Facebook”.

Fernando Silva, vice-reitor da Universidade do Porto, explica que “quem participa nesta competição ganha um ritmo de trabalho muito diferente”, que se traduz numa vantagem no final da formação académica.

Estas finais da programação ICPC estão integradas na semana Start & Scale, que contará com várias iniciativas para mostrar o Porto como “cidade dinâmica capaz de atrair talento”, aponta Filipe Araújo, vice-presidente da Câmara Municipal do Porto.

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