Sistema reduz o nível de conhecimento técnico que é necessário para trabalhar com robôs de alta precisão e que são muito comuns na indústria automóvel. Software obriga ainda os robôs a evitarem qualquer contacto violento com os humanos.
“Acreditamos que, no futuro, a interação com estas máquinas não será apenas através de um computador no qual as programamos e as deixamos sozinhas a funcionar 24 horas por dia, a repetir a mesma coisa, mas será uma interação que também será física, o humano irá dizer ao robô o que é que tem que fazer, levando-o aos locais, tocando-lhe”.
A explicação é de Pedro Neto, responsável pelo Laboratório de Robótica Colaborativa da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUC). Juntamente com Mohammad Safeea, foram os principais criadores de um software que foi batizado como Kuka Sunrise Toolbox.
O sistema em questão só funciona com os robôs da alemã Kuka e que são dos mais conhecidos e utilizados a nível mundial para tarefas de alta precisão, sobretudo na indústria de produção, como é o caso do sector automóvel.
Com o software desenvolvido na Universidade de Coimbra, os robôs ganham toda uma nova camada de funcionalidades e que simplificam a utilização desta maquinaria, que até aqui tem estado reservado a trabalhadores altamente especializados. “O que nós fizemos foi encapsular os conteúdos de programação mais complexos em funções mais fáceis para que qualquer pessoa, com os conhecimentos básicos em programação, consiga controlar este tipo de máquinas”, sublinha Pedro Neto.
Por exemplo, é possível agarrar no braço do robô e guiá-lo para uma posição específica, posição essa que pode ser memorizada através de um clique num botão. Nova posição, novo clique e por aí fora. O braço robótico consegue depois reproduzir exatamente o mesmo posicionamento definido pelo humano.
Em desenvolvimento há dois anos e meio, o projeto já está a ser usado, por exemplo, na sede da BMW, em Munique, local onde são definidos os processos de fabrico que depois serão aplicados a todas as unidades de produção da marca alemã.
“Porque é que eles o usam? Porque a produção será cada vez mais flexível”, começa por explicar o investigador. “Os sistemas de produção não podem ser como aqueles que tinham existido até agora, que era o robô e pessoas a fazerem a mesma coisa, de manhã à noite, durante vários anos. Os sistemas têm que ser flexíveis, ou seja, a máquina tem que estar do lado do humano e ajudá-lo. Hoje estou a fazer uma coisa, mas daqui a uma semana posso estar a fazer outra e a máquina tem que se ajustar a isso”.
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Outro elemento de destaque na tecnologia portuguesa é o sistema de evasão de colisões. Basta ao trabalhador estar equipado com alguns sensores para que o robô saiba o seu posicionamento. Se, por algum motivo, o humano tentar tocar no robô, o braço vai desviar-se automaticamente para evitar contacto que possa magoar o operador.
“Tem um algoritmo nosso que é, na minha opinião, um dos melhores que há no mundo. O robô evita a colisão com o humano, quase como que fugindo do humano para evitar a colisão a todo o custo”.
Pedro Neto diz que o Kuka Sunrise Toolbox também está a ser usado pelo retalhista online britânico Ocado, mas admite que é difícil saber ao certo quantas empresas – e quais – podem estar a usar a tecnologia em todo o mundo. Isto porque, juntamente com Mohammad Safeea, ficou decidido que o sistema seria distribuído de forma gratuita e num formato de licença aberta.
“Achamos que a forma mais fácil de criar impacto é ter bons trabalhos, bons desenvolvimentos e torná-los livres para qualquer pessoa possa usar e foi essa a nossa maneira de pensar neste caso”.
E este será um lado importante do projeto daqui para a frente: as empresas podem começar a fazer as suas próprias alterações e melhorias à plataforma criada em Coimbra e isso pode impulsionar a utilização do software à medida que cada vez mais indústrias começam a apostar na robotização.
“A ideia de ser aberta é essa, é que agora estas entidades possam colaborar connosco para melhorar o software e torná-lo sempre livre, para que cada vez mais utilizadores o possam ter presentes”, explica ainda o líder do laboratório da FCTUC.
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