Estivemos na sede europeia da Nintendo, na Alemanha, para jogar o tão aguardado regresso da série Pokémon às consolas de videojogos. A história pode ser antiga, mas o jogo está mais moderno do que nunca.
O jogo para smartphones Pokémon GO rebentou a escala do entusiasmo. Um pouco por todo o mundo, milhões de jogadores agarraram nos smartphones, saíram de casa e foram para a rua apanhar pokémon – literalmente. A vertente de realidade aumentada ajudou a tornar um pouco mais real aquilo que para muitos sempre foi um sonho de infância, apanhar criaturas no mundo real.
Depois seguiu-se o ciclo de vida normal de um fenómeno: mesmo quem não conhecia a franquia Pokémon quis experimentar; pessoas cometeram excessos na tentativa de superarem os outros jogadores; o jogo gerou uma onda mediática quase sem precedentes para uma nova aplicação móvel; e com o passar dos meses foi também passando a ‘loucura’ – mas não de forma total.
Mas dos que viveram esses momentos, algo parece certo: tão cedo ninguém esquece aquele louco verão de 2016 a partilhar ‘lures’ num qualquer jardim da sua terra.
O sucesso de Pokémon GO foi bom para a Nintendo – a tecnológica admitiu num dos seus relatórios de contas trimestrais que as vendas da Nintendo 3DS foram influenciadas pelo êxito da aplicação móvel. Mas Pokémon GO também criou um problema para a gigante japonesa: depois de um sucesso daqueles, o que se segue? Como aguentar as expectativas?
A resposta chama-se Pokémon Let’s Go. O nome parece apontar para uma evolução, para uma segunda versão do jogo para smartphones, mas a realidade é bem diferente. Na prática a Nintendo pegou no jogo Pokémon Yellow, lançado em 1998 para o saudoso Game Boy, e deu-lhe uma roupagem moderna.
Não são só os gráficos que estão diferentes, a experiência de jogo está mais moderna na tentativa de captar o interesse de novos jogadores, aqueles que ficaram deliciados com o jogo para smartphones e agora procuram algo mais.
Ao combinar o velho e o novo, a estratégia da Nintendo parece bem definida: tenta que o novo Pokémon seja um jogo para todos, mesmo sabendo que o facto de ser um exclusivo da Nintendo Switch não torne esta nova aventura tão ubíqua como uma app para smartphone. Mas a tal ‘app’, o viral Pokémon GO, influenciou de forma pronunciada este novo jogo.
Estivemos em Frankfurt, na sede europeia da Nintendo, para uma hora e meia de experimentação de Pokémon Let’s Go. Em baixo contamos-lhe as nossas primeiras impressões do jogo.
Entrevistámos ainda o lendário Junichi Masuda, diretor do jogo e diretor-geral do estúdio Game Freak, e Kensaku Nabana, designer chefe da criação de mapas 3D do estúdio – um trabalho que vai poder em exclusivo na próxima edição da revista DN Insider [chega às bancas no dia 28 de outubro].
De volta a Pallet Town
Para muitos será um regresso feliz. Para outros será a descoberta desta pacata cidade situada na região de Kanto, onde a série Pokémon começou.
Como já referido, a base deste novo título é o jogo lançado em 1998, o que significa que a história está centrada na captura dos 151 pokémon originais. Em bom rigor, existem mais pokémon para descobrir, pois está confirmado que as evoluções alola de algumas criaturas vão estar disponíveis.
Um ponto que o jogador deve saber logo à partida: Pokémon Let’s Go está disponível em duas versões, Pikachu e Eevee. Dependendo da escolhida, já sabe qual o pokémon com o qual vai começar a aventura.
Assim que o jogo arranca, percebe-se logo que existe uma evolução gráfica relativamente aos últimos títulos lançados para a portátil Nintendo 3DS. Não é de estranhar: a Switch tem maior poder gráfico e a resolução do ecrã é HD.
Ainda assim, o estilo da animação continua a ser familiar e não há uma grande revolução estética, ainda que este seja o primeiro grande jogo Pokémon para aquele que é o novo grande sistema de jogo da Nintendo.
A influência da Switch sente-se noutros aspetos, como na captura de pokémon. O sistema é agora igual ao que foi usado na aplicação Pokémon GO – o jogador tem uma pokébola à sua frente e é preciso atirá-la para apanhar a criatura. No caso da consola, o jogador deve agitar um dos comandos da Nintendo Switch justamente como se tivesse a atirar a pokébola.
Para tornar a experiência mais realista, a Nintendo até criou um acessório, a Pokéball Plus, que é um comando em forma de pokébola. O facto de o jogo ter controlos simples permite este tipo de aposta: basta o joystick para andar de um lado para o outro, pressionar o joystick para selecionar opções ou interagir com personagens e usar o botão superior para ‘recuar’.
Deixa por isso de existir o sistema de batalha no qual temos de usar o nosso pokémon para enfraquecer o pokémon selvagem. Há quem veja esta abordagem como mais simplista, o que pode não agradar aos maiores fãs da série, mas a Nintendo prefere ver esta mudança como um elemento de continuidade entre a experiência mobile e a consola.
Outro aspeto que muda de forma ‘radical’ são os encontros espontâneos com pokémon. Se antes apenas podiam surgir nas zonas de relva, sem aviso prévio, em Pokémon Let’s Go as criaturas movimentam-se visíveis no mapa. Ou seja, só existe confronto se o jogador quiser, sendo mais fácil evitar os pokémon selvagens.
Isto também torna menos desgastante passar zonas como as caves Mt. Moon, permitindo que o jogador se concentre quase exclusivamente na exploração da área de jogo e também nos combates. Esta é outra decisão que promete não ser pacífica.
Daquilo que experimentámos, estas duas mudanças feitas pela Nintendo vão acabar por abonar a favor do jogador, pois cria uma experiência de jogo mais fluída. Percebemos isto melhor depois de pegar outra vez num dos jogos ‘velhinhos’, no nosso caso o Pokémon Red – simplesmente já não há tanta paciência para tantas paragens no jogo.
A Nintendo sabe que os tempos são outros e que enquanto forma de entretenimento, a consola tem de partilhar espaço com o YouTube, redes sociais e outras plataformas online.
Já relativamente à questão da alegada maior facilidade deste jogo, duas considerações: sim, é fácil evitar pokémon, mas isto só acabará por prejudicar o jogador, pois assim as suas criaturas não vão evoluir; o sistema de captura dos pokémon está de facto mais simples, mas isso não significa que seja mais fácil – ao início é só atirar e capturar, mas passados alguns minutos de jogo os ‘bichos’ tornam-se mais irrequietos e duas pokébolas bem lançadas não serão suficientes para uma captura bem sucedida.
Na nossa hora e meia de jogo não fomos muito longe na aventura – foi o suficiente para vencer o primeiro ginásio e ficar na antecâmara do segundo -, o que nos parece um indicador de que há muito por explorar neste jogo, ainda que a história seja linear.
O sistema de combates está essencialmente igual. Os golpes são dados por turnos e o processo é bastante dinâmico, sem grandes perdas de tempo. Um aspeto do qual gostámos – provavelmente até aquele do qual gostámos mais nesta experiência limitada do jogo – são as animações durante a luta.
Quando o pokémon faz um ataque especial, existe uma animação à medida para acompanhar o momento. Enchem o olho, são vibrantes e são dinâmicas.
Entre aquilo que já dissemos e aquilo que não podemos dizer devido à assinatura de um acordo de não divulgação, há uma certeza: este novo pokémon está mais mainstream, acarretando os aspetos bons e mais do que isto significa.
Os mais saudosistas poderão achar o jogo linear e superficial demais, mas acreditamos que depois de entrarem no ritmo deste novo Pokémon, difícil será voltar ao ritmo dos jogos mais antigos.
Pokémon Let’s Go promete ser um clássico no seu melhor, um que retém os melhores aspetos do jogo original e que acrescenta novos pormenores que, não revolucionando a experiência de jogo, fazem-no sentir mais fresco.
Pokémon Let’s Go Pikachu e Pokémon Let’s Go Eevee vai chegar à Nintendo Switch a 16 de novembro.
*A Insider viajou até Berlim, Alemanha, a convite da Nintendo Portugal