A 10 de julho de 2008, a Apple lançava a App Store, uma loja de aplicações para acompanhar o iPhone 3G. Passados dez anos, o que é que mudou na loja de aplicações da marca da maçã?
Há dez anos, o mercado não era, de todo, remotamente semelhante à realidade que hoje vivemos nos sistemas operativos dos telefones, em que ou se é equipa Android ou equipa iOS.
Em 2008, a lista de telefones mais vendidos era composta por Nokia, Samsung, Motorola, LG, Sony Ericsson… E, com valores bem mais modestos, a Apple, com 12 milhões de telefones vendidos. O número um de vendas em 2008, a Nokia, vendia mais de 400 milhões de telefones, vale a pena lembrar.
E estas marcas já tinham software, como é óbvio, mas a questão de poder abrir uma loja e ter milhões de aplicações à disposição era uma realidade algo distante. Em julho de 2008, quando a Apple lança a App Store para acompanhar o iPhone 3G, o sucessor do iPhone original, fá-lo 500 aplicações. Em outubro do mesmo ano, a Google viria a lançar a sua loja de aplicações, na altura com o nome de Android Market.
Se hoje compararmos com os dois milhões de apps que povoam atualmente a App Store, o número 500 parece uma brincadeira de crianças. Em 2008, a App Store era inclusive, a loja de aplicações apenas dedicada ao iPhone – o iPad ainda demoraria quatro anos a chegar ao consumidor.
Hoje rumamos à loja de apps para descarregar um jogo para passar o tempo numa sala de espera ou encontrar uma aplicação para editar as fotos que partilhamos nas redes sociais, entre tantas outras utilizações. Mas, embora a App Store tenha trazido um mundo de possibilidades ao utilizador comum, a grande mudança estava reservada para o mundo dos programadores.
“Um recreio para os programadores”
Era desta forma que, em 2008, o New York Times se referia ao lançamento da App Store: como uma área de recreio para os programadores. No mesmo artigo onde noticiava a App Store, o jornal apontava ainda que seria “de longe, um desenvolvimento muito mais importante que o iPhone 3G”, acrescentando que “a abundância de software poderia colocar o sistema operativo do iPhone numa posição de domínio em relação à concorrência”.
Na altura, incluíam-se neste grupo marcas como a Microsoft ou a Nokia e o seu sistema operativo Symbian, que já na altura lutavam por conseguir atrair programadores para desenvolver aplicações.
Na publicação que fez nas véspera do aniversário da loja de aplicações, a Apple revelou o que é que mudou nesta década com a App Store e também alguns testemunhos de programadores e nomes que conseguiram ganhar tracção no meio.
Basicamente, aquilo que a App Store permitiu aos programadores foi fazer com que as suas aplicações pudessem chegar a um público mais alargado, que foi crescendo exponencialmente ao longo dos anos, à medida que o iPhone foi aumentando a suapresença no mercado. No ano fiscal de 2017, a Apple vendeu mais de 216 milhões de iPhone, segundo apontam dados do site Statista.
Em troca de uma percentagem (a Apple trabalha no modelo 70-30), a App Store permite que os programadores tenham acesso à estrutura definida da Apple, que se estende até vários mercados. Na altura da apresentação da App Store, feita por Steve Jobs, o líder da Apple chegou a dizer que a loja de aplicações tinha o alcance para resolver o problema de muitos programadores – “apenas” por incluir aplicações em cada um dos iPhone.
Uma lista limitada – ao início
Em 2008, a App Store apresentava uma seleção composta por apps de educação, comércio electrónico, notícias e, claro, jogos. Há dez anos, contavam-se entre as primeiras aplicações do iPhone o jogo Tap Tap Revenge, Trism, a aplicação do The New York Times, a app do eBay, entre outras.
Multiplicaram-se as aplicações e utilizações, mas, numa década, a loja de apps da Apple revelou-se uma verdadeira mina de ouro para a indústria dos jogos. Fenómenos como os estúdios da King, a responsável pelo jogo Candy Crush, ou os criadores do jogo Temple Run reconheceram na publicação da Apple a ajuda da App Store para a expansão dos seus negócios.
Ao fim de uma semana de vida, a Apple fazia o balanço da App Store em julho de 2008: tinha sido atingido o número de 10 milhões de downloads de aplicações num fim-de-semana. No final desse ano, a Apple anunciava os valores de aplicações disponíveis na loja, referindo valores na ordem das 10 mil aplicações. Nos tops, contavam-se a Pandora Radio, o Facebook, Shazam, Remote, Google Earth e ainda a Lightsaber Unleashed. A utilidade desta aplicação não era muita, verdade seja dita, mas ter um sabre de luz no iPhone, que acompanhava os movimentos do smartphone com sons característicos da saga Star Wars foi um sucesso de downloads.
Inicialmente, eram poucas as aplicações pagas na App Store – só as de produtividade e com um valor limitado. Com o passar dos anos, as aplicações que permitem as compras dentro da app (in-app-purchase) também se foram tornando cada vez mais habituais.
Em 2018, o jogo Fortnite revela-se um campeão neste tipo de vendas: só três semanas depois da chegada ao iOS, os valores deste tipo de compras ultrapassaram os 15 milhões de dólares (cerca de 12,7 milhões de euros). Ao longo dos anos, a App Store já tinha visto fenómenos deste género, como o Candy Crush ou o Pokémon Go, também eles muito rentáveis no que toca às compras dentro da aplicação, mas Fortnite ultrapassou os valores conseguidos.
Uma mudança de visual e a aposta na realidade virtual
Em 2017, a Apple anunciava o visual renovado da App Store – muito para conseguir tirar partido da nova resolução que surgiu com o iPhone X. Entre as mudanças, foi dado um maior destaque às reviews das aplicações e também introduzidas categorias como App do Dia, mais à vista do utilizador. Segundo apontam as firmas de análise de mercado, a aposta de redesign da App Store compensou: a Sensor Tower refere que o número de downloads terá aumentado 802% após a mudança da App Store.
Para os próximos tempos, a Apple já tem o objetivo definido para a App Store, falando na “revolução da realidade aumentada”. Em 2017, quando lançou o ARKit para que os programadores pudessem desenvolver aplicações com realidade aumentada, para acompanhar o iOS 11 no iPhone X – smartphone que assinalou os dez anos no momento “one more thing” de Steve Jobs.
Este ano, na WWDC, a conferência anual para programadores, a Apple anunciou inclusive uma parceria com a LEGO, para combinar o mundo das peças de LEGO com as potencialidades da realidade virtual.
Este artigo foi originalmente publicado na edição de 10 de julho do Diário de Notícias