Microsoft pode comprar startups em Portugal

Paula Panarra Microsoft
Paula Panarra lidera a Microsoft Portugal desde 2016

Paula Panarra chegou à liderança da Microsoft Portugal no final de 2016 e apanhou uma das mais profundas alterações da tecnológica.

A Microsoft reconhece que há “muito talento em Portugal” e que se houver a oportunidade certa de negócio, é para avançar. Quem o diz é a diretora-geral da subsidiária portuguesa, Paula Panarra, em entrevista à Insider.

“Estamos abertos a fazer aquisições. Em Portugal ou em todo o mundo. Havendo aqui uma boa ideia e uma ideia que faça sentido para aquilo que é a estratégia de aquisições da Microsoft, pode ser em Portugal, claro que sim”.

A tecnológica norte-americana comprou, em 2008, a empresa portuguesa Mobicomp e, mais recentemente, foi um dos principais investidores na startup Unbabel, que trabalha na área da tradução de idiomas recorrendo a sistemas de inteligência artificial.

“Vamos continuar a procurar sempre, em todo o mundo e não apenas em Portugal, aquilo que possam ser startups também de investimento, que foi o caso da Unbabel, mas não apenas essas, também dar apoio a todas as boas ideias e às necessidades das pequenas startups, para que possam um dia tornar-se grandes empresas”, acrescentou a líder da Microsoft Portugal.

Quando assumiu a liderança da subsidiária, em dezembro de 2016, Paula Panarra assumiu como uma das suas grandes bandeiras a aposta e o relacionamento com as startups. Um ano e meio depois, a responsável acredita que a Microsoft tem uma posição única no mercado e que pode ser uma mais-valia para as jovens empresas.

“Sem dúvida que as startups são e continuarão a ser uma das nossas apostas. Nós temos uma pegada muito grande em Portugal junto do mundo empresarial. Podemos de facto facilitar o contacto entre quem hoje está a desenvolver uma nova solução e quem hoje está a precisar dessa solução”, justificou.

Novos investimentos em Portugal? “Claro!”

Portugal tem sido, nos últimos dois anos, o mercado escolhido por várias empresas de renome como o local privilegiado para novos grandes investimentos. Os dois exemplos mais badalados são a Daimler, que vai ter um centro de desenvolvimento no Beato, e a Google, que vai recrutar 500 profissionais para um centro de suporte em Oeiras.

A Microsoft, que marca presença em Portugal há mais de 20 anos, também já tem o seu quinhão de grandes investimentos. Paula Panarra recorda, por exemplo, que o centro de suporte que a tecnológica tem em território português já integra 350 engenheiros.

A grande questão é: tenciona a Microsoft fazer novos investimentos em Portugal?

Paula Panarra foi bastante assertiva na resposta: “Claro!”, disse a responsável. Quando questionada sobre que investimentos serão esses e se serão a breve prazo, a responsável máxima da Microsoft Portugal não revelou qualquer pormenor. O que sabemos é que estes investimentos vão representar um papel importante na estratégia que a empresa estabeleceu para os próximos três a quatro anos.

Dentro desta estratégia, a concorrência mais direta não é algo que tire o sono a Paula Panarra. Mais de 50% da faturação da Microsoft Portugal vem do negócio de cloud, adiantou a executiva à Insider, e a chegada da concorrência só vai deixar a tecnológica ainda mais focada.

“Trabalhei 15 anos em bens de grande consumo onde viver diariamente com concorrência é a forma de estar e a forma de nos desafiarmos. A chegada da concorrência é bem-vinda, cá estaremos para manter aquilo que tem sido a nossa posição ou mesmo melhorá-la no mercado, mesmo com a concorrência a chegar”, disse.

Que concorrência é esta? Recentemente a Google definiu a cloud como a sua nova área estratégica para o mercado português e especula-se que se os rumores da chegada da Amazon se concretizarem, então os Web Services vão ser um dos pontos de ataque da gigante norte-americana.

Portugal com potencial em inteligência artificial e realidade mista

Enquanto empresa, a Microsoft identificou as três tecnologias que que acredita que vão mudar as vidas das pessoas nos próximos anos de forma significativa: inteligência artificial, realidade mista (cruzamento entre realidade aumentada e realidade virtual) e computação quântica.

“Portugal tem imenso potencial em qualquer uma delas”, começou por salientar a executiva. “Já temos hoje parceiros portugueses a desenvolver para Portugal e para fora de Portugal soluções com tecnologia de realidade mista”.

Já na área da inteligência artificial, Paula Panarra diz que em breve vamos deixar de falar na tecnologia por um motivo simples: “Passa a ser só mais uma camada de tecnologia em cima de todas as soluções”, considera.

Já relativamente à computação quântica, o cenário é um pouco diferente. Há alguns meses Paula Panarra fez uma apresentação pública na qual falava do potencial desta tecnologia. Questionada sobre se as empresas portuguesas já estão preparadas para este novo paradigma, que vai fazer aumentar de forma exponencial o poder de computação das máquinas, a resposta foi um “não”.

“Nós só podemos ser a tecnológica a que nos propomos se estivermos sempre a trabalhar naquilo que é a tecnologia que vem a seguir. É isso que nós estamos a fazer, já estamos a trabalhar na materialização da computação quântica e quando ela chegar ao mercado, que não será provavelmente no próximo ano ou dois, mas há muita gente que já olha para computação quântica como uma possível realidade dentro de cinco, seis anos”.

Um destes exemplos é a Universidade do Minho, que recentemente integrou a rede de computação quântica que está a ser desenvolvida pela IBM.

Satya Nadella também influencia Portugal

A entrevista com Paula Panarra aconteceu à margem da apresentação do livro Faça Refresh, da autoria de Satya Nadella, o diretor executivo da Microsoft.

Na obra, o CEO explica como as suas experiências pessoais influenciaram o líder que é hoje e como tudo isso contribuiu para uma mudança de postura e cultura na Microsoft. Numa altura em que a gigante do software parecia estar a entrar numa ‘idade das trevas’, a chegada de Satya Nadella trouxe uma verdadeira lufada de ar fresco.

Como é que esta nova Microsoft, mais aberta, mais agressiva no design de produtos, mais inovadora, se reflete nas operações da Microsoft Portugal?

“Mudou a forma como nós olhamos para o mercado e olhamos para os desafios”, começou por dizer. “Temos por um lado muitos mais parceiros do que tínhamos, porque temos muitas mais possibilidades de negócios do que tínhamos”.

No final da entrevista com Paula Panarra, nem uma vez a palavra Windows veio à baila. “É esta a nova Microsoft?”, perguntámos. “É esta a nova Microsoft. Embora o Windows seja um produto fantástico”, respondeu entre sorrisos.