Google terá recolhido dados médicos de milhões de pessoas para um novo projeto

REUTERS/Arnd Wiegmann

A Google terá tido acesso a registos médicos de milhões de norte-americanos, sem consentimento de pacientes e médicos, avança o Wall Street Journal, no início desta semana.

O WSJ avança que a tecnológica terá recebido uma grande quantidade de registos médicos a partir do Ascension, o segundo maior sistema de saúde disponível nos Estados Unidos. A Alphabet, dona da Google, é parceira do Ascension, fornecendo serviços cloud – a empresa é inclusive o maior cliente da tecnológica na área da saúde. Estes registos, vindos de 21 Estados, contêm uma grande dose de informação, como resultados de exames, diagnósticos e registos de hospitalização, além de informação como os nomes e datas de nascimento dos pacientes. O jornal norte-americano aponta ainda que esta partilha de informação terá acontecido sem o conhecimento de médicos ou de pacientes.

Estes dados terão sido recolhidos para “alimentar” um projeto da Google, com um nome de código “Project Nightingale”, avança o WSJ. O jornal aponta ainda que pelo menos 150 trabalhadores da Google têm acesso a estes registos de milhões de pessoas. Do pouco que se sabe deste projeto, a ideia da tecnológica estará ligada ao desenvolvimento de um novo software com recursos de inteligência artificial.

Numa publicação assinada por Tariq Saukatpresidente para a área de soluções e produtos para indústria da Google Cloud, a tecnológica explicitou quais são os moldes desta parceria com o Ascension. “O nosso trabalho com o Ascension é um acordo comercial para fornecer a tecnologia mais recente, semelhante ao trabalho que fazemos com dezenas de outros fornecedores de serviços de saúde.” A publicação dá ainda conta de algumas informações sobre os dados dos pacientes. “É compreensível que as pessoas tenham dúvidas sobre o nosso trabalho com o Ascension“, é possível ler; a Google indica ainda que “os dados do Ascension não podem ser usados para qualquer outro propósito que não seja o fornecimento de serviços que estão ao abrigo do acordo e os dados do pacientes não podem e não vão ser combinados com quaisquer dados de consumidor da Google.”

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A notícia avançada pelo WSJ traz a lume a questão da preocupação do acesso e recolha de dados sem consentimento do dono da informação em causa. Apesar de, na Europa existir o RGPD (Regulamento Geral de Proteção de Dados), onde a informação médica é categorizada como informação sensível, nos Estados Unidos esta prática de partilha de dados de saúde sem consentimento é algo regular nos hospitais e clínicas.

O Health Insurance Portability and Accountability Act (HIPPA) permite que os hospitais partilhem dados e registos médicos dos pacientes com parceiros de negócio, sem que estes precisem de ser avisados.

Nos últimos anos, as grandes tecnológicas têm tido um interesse crescente pelo mundo da saúde e do bem-estar. Um dos exemplos do lado da Google é a recente aquisição da Fitbit, com muitos a apontarem a grande quantidade de dados disponíveis como um aliciante para o negócio. A Apple também tem acesso a vários dados médicos, que têm sido usados aos longo dos anos para alimentar a investigação de vários projetos ligados ao Apple Watch, como por exemplo a investigação ligada às doenças cardiovasculares.

Notícia atualizada às 16h23, para incluir comunicado da Google.

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