João Lousada tornou-se no primeiro astronauta análogo português e passou um mês no deserto a simular uma missão a Marte com drones, impressoras e um fato de 50 quilogramas.
Foi o céu estrelado da aldeia dos avós, Bouçã (junto ao rio Zêzere), que despoletou o interesse de João Lousada pelo espaço. O lisboeta, agora com 29 anos, passava com os avós as férias de verão e foi lá que começou a querer “explorar o que está lá fora”.
Depois de estudos de engenharia espacial entre Portugal, Espanha e Canadá, um estágio na agência espacial alemã que lhe deu o primeiro sabor do espaço.
O seu dia a dia nos últimos dois anos, como controlador da estação espacial internacional – a partir do centro Columbus, na Alemanha –, envolve além de contactar com os astronautas, controlar todos os sistemas e resolver problemas que surjam. O seu horário é gerido de 15 em 15 minutos. Das 7h às 21h (às vezes mais tarde) trabalha, depois dorme.
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Mas foram as missões do Fórum Espacial Austríaco para simular missões em Marte que o tornaram um astronauta análogo (de testes em Terra). Depois de uma missão nos glaciares austríacos, em fevereiro deste ano passou um mês de fato de astronauta no deserto de Omã, na Península Arábica, na missão AMADEE-18.
“Os astronautas têm de ser sociáveis para não haver conflitos. Em Omã construímos num mês uma família e isso ajudou a missão”
“Quando fecham pela primeira vez o capacete do fato é especial, sabemos que dependemos dele para viver”, explica João Lousada, que mantém o sonho de ir a Marte à semelhança do que viu (e gostou) no filme Marte, com Matt Damon: “não depende de mim, mas se abrirem candidaturas estou lá”.
De volta a Omã, por lá, além do fato de 50 kg (a gravidade marciana é só 40% da da Terra e o fato compensa isso) que torna tudo mais difícil, puseram à prova impressoras 3D que imprimiram com facilidade “surpreendente” peças para os próprios fatos, tinham era de ter cuidado com o muito pó que também há em Marte.
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Duas horas chegavam para desenhar a peça, imprimir e recolher. “Quando formos a Marte não podemos levar peças suplentes para tudo”. Já os drones autónomos e os rovers faziam o mapeamento da zona e ajudavam a escolher “sítios de interesse para explorar”.
Lousada acredita que só em 2030 a humanidade vai levar seres humanos a Marte e espera que as missões que tem feito ajudem nessa viagem “histórica que vai exigir que várias agências de unam num esforço conjunto”.
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