Outsystems promete pôr todos (até padeiros) a programar e democratizar criatividade

Paulo Rosado, CEO da Outsystems Crédito: Joana Mendonça

Unicórnio português apresentou em Amesterdão novas ferramentas que simplificam a programação, “para que todos entrem na era digital”. Parceiros pequenos e gigantes entusiasmados.

Uma verdadeira transformação digital democrática, onde “o mundo da programação fica aberto a todos, do padeiro ao programador profissional, para ninguém fique de fora da oportunidade de estar envolvido na revolução digital que acontece debaixo dos nossos olhos, algo que vai desbloquear a criatividade no mundo digital”. É isso que promete a Outsystems, com a ajuda das suas novas ferramentas, diz-nos Gonçalo Gaiolas, vice-presidente do unicórnio português (já superou a avaliação de mil milhões de dólares). 

A plataforma líder mundial em low code (um código de programação mais simples que permite maior rapidez de processos com menos recursos, para fazer apps móveis, portais web e até sistemas críticos) recebeu parceiros de toda a Europa – com maior preponderância do Reino Unido e Portugal – no seu evento anual NextStep, em Amesterdão, onde estivemos.

Evento da Outsystems, NextStep 2019, em Amesterdão

No moderno centro de exposições RAI, perto do centro de Amesterdão, vimos três mil pessoas, de clientes a parceiros, de mais de uma dezena de países europeus, algumas a tomarem contacto pelas primeiras vezes com a plataforma de low code da Outsystems, outros mais experientes como a EDP, Jerónimo Martins, Santander, KPMG ou NOS. Há ainda clientes novos, como o gigante de telecomunicações alemão T-Mobile (que está a migrar os seu sistema para Outsystems e a formar 200 funcionários na tecnologia da empresa portuguesa) ou, mais recentemente, a nórdica de telecomunicações Ericsson.

Além de mais de 80 eventos, também havia no evento uma área de grande dimensão onde vários parceiros mostravam soluções criadas com Outsystems. Foi lá que encontrámos três membros da Green Lemon Company, uma empresa de Londres que faz em Outsystems soluções de software para seguros, logística, saúde, construção e banca.

Tudo o que nos diziam que iam fazer, cumpriram e superaram em eficiência e agilidade e isso faz com que os nossos clientes fiquem encantados ao verem resultados em poucos dias, antes do que esperavam. Vamos passar de 30 funcionários para 100 no próximo ano muito graças à Outsystems”, explica-nos o CEO Matt Thompsett. Com ele vieram também Luís Galaio (programador português) e Evgeni Urumov (programador de origem búlgara) “para verem que fazem parte de uma comunidade enorme” e “sentirem-se inspirados”.

Galaio, que foi o primeiro de cinco portugueses da equipa (e ajudou a que o contingente português aumentasse, por ser mais experiente neste software), admite que “em Portugal já toda a gente da maioria das empresas conhece o sistema Outsystems, mas no Reino Unido é diferente e há um mundo por onde crescer”. Thompsett acrescenta, sem rodeios, “qualquer negócio, grande ou pequeno, que não esteja a usar low code neste momento está a ficar para trás. Não percebe o futuro.”

Exemplos de sucesso: da Jerónimo Martins ao Santander e NOS

No evento também vimos a Jerónimo Martins a explicar à surpreendida imprensa britânica como conseguiu rapidamente e com custos reduzidos criar um Pingo Doce (na Nova SBE) sem necessidade de dinheiro físico ou cartões, ao estilo Amazon Go, com base no software low code da Outsystems. “Mal vimos a complicação que era fazer o projeto em código normal, recorremos logo ao low code da Outsystems e, com isso, conseguimos testar e mudar soluções em tempo recorde”, diz André Ribeiro de Faria, CMO da empresa, que vai contar essa mesma experiência na Web Summit, que começa na próxima semana. 

Noutro exemplo, o General Manager do Santander Consumer Portugal, Nuno Zigue, explica como um projeto feito com a ajuda da Outsystems, chamado Next Future (que até valeu um prémio de inovação no evento) está a ajudar a transformar toda a empresa. Na prática, trata-se de um processo de subscrição de crédito rápido e seguro, “que assegura uma experiência de cliente integrada e simples, em todos os canais”. “Tivemos tão bons resultados em dois testes em parceiros que vamos lançar para todos os clientes até final do ano”.

A decisão pela Outsystems (o parceiro integrador da tecnologia da empresa portuguesa foi a KPMG, que foi eleita Partner do ano no evento NextStep) foi pela disponibilidade da empresa e por apresentar uma segurança de “bom nível” e revelou-se “instrumental”. Miguel Mendes, diretor de produto e transformação do Santander Consumer, acrescenta mesmo que os resultados superaram as expectativas e puseram todo o grupo Santander “de olho” nesta solução, daquele que é o líder no financiamento de veículos novos em Portugal.

A NOS também está a apostar em soluções Outsystems, ao ponto de já ter uma equipa de 30 pessoas a fazer programas internos e externos para a empresa e a ajudar a desbloquear soluções várias. Foi daí que nasceram três novas apps. A dos Cinemas, para comprar bilhetes e artigos do bar e usar o telemóvel para entrar na sala, com o slogan “vá ao cinema sem filas”. A do serviço jovem WTF e a app de gestão dos clientes de TV, Net e Voz (em 2020 vão ter o despiste técnico e agendamento feito na própria app). “São apps simples e muito testadas, graças à agilidade possível com Outsystems, que permite ter boas classificações e num mês ganhar 240 mil utilizadores”, diz-nos Henrique Zacarias, CIO da empresa.

A experiência com a Outsystems já não é nova, aliás, através da Optimus foram um dos primeiro clientes, em 2002, da empresa de software. “A grande evolução viu-se nesta última versão do software da Outsystems, sentimos um boost que traz no desenvolvimento no mobile notável, reduzindo os custos de desenvolver em Android e iOS e com a possibilidade de se fazer mudanças facilmente e apps para web”. Ou seja, deixaram de precisar de várias equipas, “agora só temos uma e basta”. “A velocidade com que conseguimos escalar ideias com a ajuda da Outsystems é notável”, admite.

Nuno Schiappa Cruz, Head of Transformation da NOS, admite que a integração entre o negócio e a tecnologia, com equipas multidisciplinares, tem sido fulcral permitindo cada vez mais uso dos dados analíticos nas várias áreas. “É assim que garantimos que quando lançam algo temos a certeza que é algo que os clientes vão ficar satisfeitos”, explica. 

O responsável admite que estão a decorrer “mais de 30 iniciativas de transformação” e há uma preocupação com a atração de pessoas talentosas, porque “mais do que fazer uma app, são elas que estão a mudou o mundo da NOS”. “Nesta área tecnológica e de programadores formados em Outsystems quem tem talento escolhe onde quer trabalhar e estamos a competir com grandes multinacionais e até já perdemos algum talento, é um mercado competitivo”, admite Nuno Schiappa Cruz.

Henrique Zacarias complementa, admitindo que a NOS já não escolhe parceiros pelo prestígio da empresa ou pelas condições apresentadas: “pedimos os currículos dos programadores aos parceiros para analisar quais os perfis que podem fazer a diferença e escolhemos fornecedores de serviços dependendo do talento que mostram ter”. Trazendo conceitos novos desse talento para as chefias melhora também a motivação, já que “as pessoas gostam de ser criativas e saber que podem fazer a diferença”.

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Outsystems, um gigante “com tudo para crescer”

A Outsystems que cresce “a um bom ritmo”, diz-nos o CEO Paulo Rosado, tem já 1500 clientes empresariais, 210 mil membros na sua comunidade de programadores (tinha 167 mil o ano passado) e está em 22 indústrias de 52 países (seguros, com 10%, é a principal área, mas cresce o retalho, a banca e uma área que Rosado chamada de “negócio de serviços estranhos”).

O ano passado a empresa que tem o seu centro de inovação em Linda a Velha bateu recorde nas suas receitas, com 100 milhões de dólares, e tem ajudado a transformar empresas como a Toyota, Logitech, Deloitte, Ricoh, EDP e Schneider Electric. Um relatório da consultora Forrester antevê que o mercado do low code seja de 21 mil milhões de dólares em 2022, daí que Rosado nos diga: “só podemos crescer (e muito), porque quem não aderir ao low code, empresas pequenas e grandes, vai ficar para trás desta onda digital.” No entanto, quando falávamos com Paulo Rosado sobre as dificuldades da Farfetch na bolsa de Nova Iorque, o CEO admitiu que tornar a Outsystems pública, por IPO (Oferta Pública Inicial), não está nos planos. “Não temos pressa e não precisamos desse mundo de complicações”.

Rosado deixou ainda conselhos para os pequenos negócios, que devem escolher a especialização para sobreviverem e usar ferramentas low code para se expandir com custos baixos e de forma ágil. Mesmo as empresas gigantes, inclusive do retalho, “vão ter de se reinventar e revolucionar a forma como operam internamente e com os clientes e só o vão conseguir fazer de forma ágil e rápida se apostarem no low code”.

Um mundo automatizado, mas de criatividade humana ilimitada

John Rymer, académico e pioneiro em low code, esteve no evento e disse-nos, sem margem para dúvidas, que vê a Outsystems como “líder mundial em low code, a referência”. Rosado completa, indicando que este tipo de soluções mais ágeis permitem “energizar a cultura da empresa, motivar as pessoas e criar um movimento de criatividade produtivo”.

“É incrível que tenha demorado tanto tempo a que o low code começasse a ser visto por todos de forma séria como solução necessária”, admite. Já sobre o mundo atual, Rosado explica que a missão da Outsystems é “dar o poder da criatividade na era digital às pessoas em geral”, o tal Citizen Development, e que “a automatização vai permitir que o ser humano evolua para tarefas mais criativas e evite aquelas mais aborrecidas e automatizadas”. Nesse contexto, será possível ter pessoas de áreas diferentes (incluindo humanidades e artes) a contribuir diretamente para a era digital pela programação simplificada.

Leia as nossas reportagens de 2018 sobre a Outsystems:

Reportagem: A ‘magia’ do pequeno livro que define a cultura Outsystems

Reportagem: Como Farfetch e Outsystems estão a mudar o (nosso) mundo

Reportagem: O que vale a tecnologia da Farfetch e Outsystems

A visão dos homens que criaram dois gigantes Farfetch e Outsystems

 

Novas ferramentas da Outsystems prometem por qualquer um a fazer apps na web

OutSystems prepara o caminho para levar a “revolução low-code” a mais empresas e pessoas e tem novas soluções fáceis de usar mesmo sem conhecimentos que já incluem voz, vídeo e chatbots.

—Programação ‘No Code’

Facilitar o “citizen development” é um dos objetivos, através de ferramentas que permitem a qualquer pessoa, mesmo que não saiba de programação, de experimentar e testar soluções de software, “abrindo caminho à criatividade”. Foram os clientes a pedir esse tipo de soluções que têm um interface simples e intuitivo sem qualquer vislumbre de código que só quem tem experiência em programação consegue trabalhar. Uma das soluções a chegar no início de 2020 é o Experience Builder, que permite desenhar experiências para web ou dispositivos móveis para os consumidores. O outro é o “Workflow Builder”, que omite os processos complexos de desenvolvimento e oferece um assistente fácil de usar. Há ainda o Architecture Dashboard, que permite fazer de “deus” e ver de forma automática os vários projetos de cada ferramenta, ver problemas e a evolução. Todo esse trabalho pode ser desenvolvido depois no software já conhecido da Outsystems mais avançado, o Developer Studio, sem ser necessário fazer tudo do início. 

—Progressive Web Apps

A Outsystems disponibiliza no início de 2020 as apps para web (PWA), que tentam ter as vantagens das aplicações nativas, num navegador de internet normal. Em palco Paulo Rosado mostrou vários benefícios para seguradoras ou bancos ou até no seguro da casa. Ou seja, sem precisar de descarregar uma app pesada, o utilizador pode reportar (enviando fotos e dados) à sua seguradora um acidente e ter uma resposta em minutos, “sem latência e com procedimentos rápidos”, algo só possível pela evolução nos navegadores.

—Voz e inteligência artificial (IA)

Um dos testes em palco mostrou como já usam reconhecimento de voz nas apps, que permite em contact centers ter a IA a sugerir soluções e produtos ao assistente, dependendo do que o cliente está a dizer e até analisar o seu estado de espírito – vídeochamadas também já são possíveis. Os chatbots também estão incluídos num ecossistema cada vez mais rico em soluções de IA, mas também simples e com capacidade de crescer sem ser preciso começar tudo de novo.