A Netflix tem finalmente um filme com forte potencial de conquistar o desejado Óscar de melhor filme e estreia esta quinta-feira nas salas e na sexta na plataforma de streaming. Um sinal dos tempos.
Chama-se e é um filme Roma que, por um lado, é o regresso do premiado realizador mexicano Alfonso Cuarón, depois tem a particularidade de ser um filme da Netflix, ou seja, feito para ser distribuído para os mais de 191 milhões de clientes da plataforma de streaming. Cuáron volta à realização depois de ter-se distinguido com Gravidade, pelo qual ganhou o Oscar de melhor realizador em 2014.
O filme de Cuarón estreia oficialmente em algumas salas portuguesas esta quinta-feira e no dia seguinte já está disponível para todos os clientes da Netflix nos seus tablets, smartphones, computadores ou televisores lá de casa. A Netflix exige que todos os seus conteúdos façam a sua estreia na plataforma ao mesmo tempo que o possam fazer em sala, algo que não agrada a parte da indústria cinematográfica habituada a anos de diferença entre o que estreia nas salas e o que passa para a televisão.
Depois de uma longa e proveitosa digressão pelo circuito de festivais, iniciada com uma estreia mundial premiada em Veneza, Roma é uma história biográfica do próprio realizador e que não se passa propriamente em Roma, mas sim no México.
A história decorre ao longo de um ano na vida uma família de classe média a viver na Cidade do México na década de 70 do século XX. Outra particularidade: é feito a preto e branco e falado em espanhol. Mas nem essa situação – que, nos últimos anos, só foi uma mais valia para o filme O Artista e para A Lista de Schindler – lhe tira força para ser um dos grandes favoritos para os Óscares. A reforçar essa candidatura estão os prémios: venceu o Leão de Ouro, em Veneza, que foi uma estreia para uma produção da Netflix no cinema ficcional; e conquistou prémios de melhor filme, melhor realizador e melhor cenografia do Circulo de Críticos de Cinema de Nova Iorque (New York Film Critics Circle).
“O filme nunca foi pensado para ser uma declaração política. É mais um caleidoscópio do que é a vida”, disse sobre “Roma” o próprio Cuarón, que tem vindo a tentar levar apoio aos migrantes latinos em trânsito no México rumo aos Estados Unidos.
Quiero muchas más funciones en Mexico, tenemos todas las salas que hemos podido conseguir que, tristemente, son 40. Para poner las cosas en perspectiva, en Polonia se exhibirá en 57 salas y en Corea del Sur en 50. ROMA está disponible a todas las salas que la quieran exhibir. https://t.co/V8YsdoJbGi
— Alfonso Cuaron (@alfonsocuaron) November 20, 2018
Boicote de salas
Entretanto, a estreia do filme criou polémica em Espanha, com a maioria das salas a boicotar a estreia, o mesmo aconteceu no México com algumas salas. A Netflix comprometeu-se a estrear o filme em salas alguns dias antes em mercados como os EUA, para dar força a uma candidatura aos Óscares – a estreia global em streaming acontece então esta sexta-feira, dia 14 -, mas nem isso convenceu vários operadores preocupados com a força do streaming e da imediatez dos filmes chegaram a todo o tipo de aparelhos ao mesmo tempo que saem em sala.
Sinopse de Roma: Cidade do México, 1970. A rotina de uma família de classe média é controlada de maneira silenciosa por uma mulher (Yalitza Aparicio), que trabalha como babysitter e empregada doméstica. Durante um ano, diversos acontecimentos inesperados começam a afetar a vida de todos os moradores da casa, dando origem a uma série de mudanças, coletivas e pessoais.
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