Documento assinado por 15 entidades internacionais mostra preocupação crescente relativamente a uma característica cada vez mais popular nos jogos para consola e smartphones.
O Turismo de Portugal, entidade reguladora dos jogos de fortuna e azar no mercado português, está preocupado com as chamadas caixas da sorte (loot boxes) dos videojogos. Num documento que subscreve, em conjunto com 14 entidades internacionais, é salientado que a linha que separa jogos de sorte dos videojogos é cada vez menor.
“Estamos cada vez mais preocupados com os riscos colocados pela mistura entre o que é jogo de sorte e outras formas de entretenimento digital, como os videojogos”, lê-se no documento.
As caixas da sorte são itens criados pelos produtores de videojogos como uma forma de atrair e fixar a atenção dos jogadores. São caixas que dão recompensas ‘aleatórias’ e que podem ou não ter influência direta na competitividade dos videojogos. Em alguns títulos estas caixas são gratuitas, noutros são a pagar.
Como os prémios que as loot boxes dão aos jogadores são determinados de forma probabilística e sabendo que há casos em que o acesso a estas caixas envolve uma transição de dinheiro, os reguladores dos jogos de fortuna e azar estão agora atentos a esta situação.
Como nunca se sabe qual o item que vai sair em cada caixa, os jogadores podem sentir-se tentados a comprar caixas até conseguirem o item desejado. Por outro lado, ao contrário do que acontece na maior parte dos jogos de fortuna e azar, nas caixas da sorte dos videojogos o jogador recebe sempre algo, nem que seja um item banal.
Usemos o exemplo concreto do jogo Overwatch, da editora Blizzard. Na China a empresa foi obrigada a revelar as probabilidades associadas a diferentes itens: em cada caixa há sempre um item raro; os itens “épicos” aparecem, em média, a cada 5,5 caixas; e os itens “lendários” aparecem a cada 13,5 caixas.
“Os reguladores identificam nestes produtos e serviços de gaming emergentes características semelhantes àquelas que levaram as autoridades a criar regulação para os jogos de sorte online”. No caso português, o documento é assinado por Teresa Monteiro, vice-presidente do Turismo de Portugal.
“Partilhamos um número de princípios comuns, incluindo a necessidade do jogo ser regulado para garantir altos níveis de integridade, equidade e proteção ao consumidor, em particular em relação às crianças”, pode ler-se no documento.
Além de Portugal, o documento é assinado por entidades de França, Letónia, República Checa, Espanha, Malta, EUA, entre outros.
Polémicas relacionadas com loot boxes
A mais conhecida foi a do jogo Star Wars: Battlefront 2, cujas caixas da sorte davam aos jogadores acessórios que se traduziam em vantagens competitivas no jogo. Na prática os jogadores assumiram este formato como ‘quem pagar mais é melhor’, pelo que houve um grande coro de protestos contra a produtora Electronic Arts (EA).
A mensagem dos jogadores teve efeito: a EA recuou neste modelo de monetização, mas a verdade é que o efeito negativo da polémica acabou por ensombrar o lançamento daquele que era um dos grandes jogos de 2017.
O caso do jogo Star Wars ficou ainda ‘inflamado’ pelo facto de este sistema de monetização ter sido pensado para um jogo que já era a pagar. Por norma os sistemas de caixas da sorte existem em jogos que são gratuitos e funcionam como sistema de monetização.
Um jogo como Angry Birds 2, por exemplo, também tem loot boxes. Há uma caixa gratuita que o jogador pode abrir a cada 30 minutos, mas existem sempre outras duas caixas que exigem um pagamento de moedas de jogo – ainda que possam ser adquiridas completando níveis, a forma mais fácil de reunir um grande número destas moedas é comprando um pacote com dinheiro real.
“Antecipamos que vai ser do interesse das empresas que têm plataformas ou jogos que geram preocupação, interagir com as autoridades reguladoras [dos jogos de sorte] para criarem possíveis soluções”, salientam os signatários do documento.