Twitter sem anúncios políticos agita redes sociais

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Decisão vai ter aplicabilidade global, mas é em dois contextos que ganha maiores dimensões: as eleições britânicas e as eleições presidenciais dos Estados Unidos.

A partir de sexta-feira, o Twitter passará a ser uma rede social sem espaço para anúncios políticos. A decisão de Jack Dorsey lançou a discórdia no panorama das plataformas, trazendo a lume exigências de tomada de posição – com o Facebook como principal alvo.

Jack Dorsey, o CEO do Twitter, lançou, no final de outubro, mais uma acha para uma fogueira de consideráveis dimensões, a dos anúncios políticos nas plataformas digitais. A decisão de Dorsey foi clara e transmitida através do Twitter – não haverá espaço para anúncios políticos na plataforma. A mensagem era nítida: “Acreditamos que o alcance da mensagem política deve ser merecido, não comprado”.

A decisão do Twitter de remover qualquer possibilidade de anúncios com fins políticos vai ter aplicabilidade global, mas é em dois contextos que a decisão ganha maiores dimensões: as eleições britânicas, marcadas para dia 12 de dezembro, e as eleições presidenciais dos Estados Unidos, em 2020. Além disso, a decisão de Jack Dorsey faz incidir a luz em outro líder de plataformas digitais: Mark Zuckerberg, o senhor Facebook.

Enquanto uns criticaram a decisão do Twitter, outros tantos louvaram a tomada de posição, aproveitando o momento para criticar a falta de ação por parte do Facebook relativamente a um tema desta dimensão. Desde 2018, altura em que foi revelado o caso Cambridge Analytica e todas as implicações que teve a nível político – desde a influência nas eleições dos Estados Unidos em 2016, como no referendo da saída do Reino Unido da União Europeia – há uma maior atenção para o investimento feito por partidos políticos nos anúncios das plataformas digitais. A revelação do escândalo de privacidade mostrou ao mundo a forma como os dados das redes sociais podem ser uma arma para conquistar o eleitor mais indeciso.

A decisão de Dorsey chegou alguns dias depois de um discurso de Zuckerberg, na Universidade de Georgetown, a 17 de outubro, em que o fundador e CEO da empresa explicou que a plataforma não iria escrutinar as mensagens políticas dos anunciantes ou remover anúncios políticos – mesmo correndo o risco de apresentar mensagens que promovam a desinformação. Deste então, Mark Zuckerberg foi ouvido no Congresso norte-americano, para responder a perguntas sobre o trabalho do Facebook, nomeadamente no campo dos anúncios políticos.

A nova política para anúncios do Twitter

Com o Dia D à porta, já há alguns dias que é conhecida a nova política do Twitter para as mensagens políticas, que arrancará dia 22. Disponível online, indica que “o Twitter proíbe globalmente a promoção de conteúdos políticos”, numa decisão que está baseada “na crença de que o alcance da mensagem política deve ser conquistado e não comprado”.

A partir de agora, o Twitter considerará como conteúdo político “referências a candidatos, partidos, quer sejam eleitos ou apontados por governos, eleições, referendos, sondagens, legislação, regulação ou decisão judicial”. Desta forma, os anúncios que contenham qualquer mensagem do género, como apelo ao voto, pedidos de apoio financeiro ou que incentivem a determinada posição passarão a ser proibidos, explica o Twitter. “Também não serão permitidos anúncios de qualquer tipo, feitos por candidatos, partidos políticos ou governos eleitos”..

Há apenas uma exclusão nesta nova política virada especificamente para os anúncios: os meios de comunicação social. Ainda assim, é necessário preencher determinados critérios para entrar nesta lista de exceções, que até ao momento está direcionada para o mercado dos Estados Unidos. Os critérios incluem pontos como a audiência mensal mínima do órgão de comunicação ou se é possível encontrar o arquivo online.

Possível impacto da nova política

Já durante a Web Summit, no início de novembro, em Lisboa, a retirada de anúncios políticos do Twitter foi motivo de conversa. Brittany Kaiser, antiga diretora de desenvolvimento de negócio da Cambridge Analytica, explicava que via a decisão de Jack Dorsey com sentimentos mistos. “Não acho que remover anúncios do Twitter seja uma solução permanente. Precisamos de anúncios políticos para levar as pessoas a votar, mas acho que é triste termos de chegar a este ponto”.

Tendo acesso privilegiado à “máquina” que fez mexer várias campanhas, alicerçadas em anúncios políticos nas plataformas digitais, referiu nas várias intervenções que a probabilidade de serem usadas as mesmas metodologias de 2016 é elevada. Mas a preocupação de que sem anúncios as pessoas se afastem das urnas de voto não é exclusiva de Brittany Kaiser.

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Apontando numa direção semelhante, estão as opiniões de Adam Mosseri, o CEO do Instagram. Para o responsável, as novas medidas de anúncios políticos do Twitter não estão isentas de falhas, já que podem fragilizar as campanhas de ativistas ou partidos políticos mais pequenos. “Isto [limitação de alcance] é uma das questões principais que muitos falham ao banir anúncios políticos de qualquer plataforma. Não se pode banir estes anúncios sem limitar significativamente a possibilidade de ativistas, grupos laborais e sindicais mostrarem os seus pontos de vista”, escreveu, através do Twitter.

Mosseri citava um tweet de Elizabeth Warren, senadora norte-americana e candidata à presidência dos Estados Unidos. Nessa mensagem, Warren apontava o dedo às novas ideias do Twitter, criticando possíveis faltas de responsabilização. “A nova política de anúncios vai permitir que as empresas de combustíveis fósseis comprem anúncios a defender-se e a divulgar informação que não é verdade – mas não autorizará que as organizações que lutam contra a crise climática comprem anúncios a pedir justificações a essas empresas. Precisamos de responsabilização”, escreveu a senadora.

Ainda assim, resta saber quanto é que esta decisão poderá impactar as contas do Twitter. Na altura do anúncio, no final de outubro, a decisão apanhou vários analistas de surpresa. Segundo as estimativas da Reuters, os anúncios políticos terão contribuído com 3 milhões de dólares (cerca de 2,7 milhões de euros) para as receitas de publicidade do Twitter em 2018 – uma gota no oceano comparada com as receitas totais de publicidade, que chegaram aos 3,04 mil milhões de dólares (2,75 mil milhões de euros).

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