Opinião de Eduardo Fitas, Vice-Presidente da Accenture Portugal e responsável para área de Comunicações, Media e Tecnologia.
Os fornecedores de serviços de comunicação enfrentaram outro ano difícil com estagnação ou declínio de receitas tradicionais e com a intensificação da concorrência, especialmente de fora do setor. O Mobile World Congress que começa na próxima semana em Barcelona será palco de debate sobre a forma como a indústria pode investir e transformar os seus negócios para conseguir ser bem-sucedida. Uma clara oportunidade será, no setor B2B, aproveitar o 5G para reposicionar a industria de comunicações como líder na transformação e facilitador no desenvolvimento de oportunidades de crescimento para todos os outros setores.
O 5G conecta tudo e todos, operando uma mudança revolucionária
O futuro do 5G aproxima-se rapidamente do presente e será o grande tema deste MWC. Desde os fabricantes que vão aproveitar o evento para apresentar os seus equipamentos 5G, aos diferentes players que lideram o desenvolvimento de soluções verticais, espera-se que o real impacto desta mudança de paradigma nas comunicações fique mais claro em Barcelona.
O 5G será um dos maiores motores da quarta revolução industrial. Mais do que uma evolução geracional representa uma transformação fundamental no papel da tecnologia móvel na sociedade. Imaginemos uma “rede de redes” com uma conectividade nova e personalizada de acordo com as necessidades dos consumidores, das empresas e da economia. É um requisito fundamental para possibilitar o desenvolvimento contínuo das smart cities e da IoT, da forma de conectar tudo e todos, beneficiando consumidores e empresas. Um dos exemplos mais promovidos são os carros autónomos e o facto de a tecnologia de IA poder ser otimizada com o 5G. Os veículos precisam de usar sensores para recolher informação sobre os obstáculos nas imediações do carro, as condições meteorológicas, acidentes e condições da estrada. Têm também que detetar ângulos mortos e evitar colisões com outros veículos e pessoas. Estes dados têm de ser recolhidos, analisados e utilizados em nano segundos para impedir decisões erradas. O 5G pode levar a IA para outro patamar, ajudando a que o processamento da informação seja efetuado onde faz mais sentido, sem condicionantes de capacidade local. Esta é um dos pressupostos básicos para tornar os carros autónomos uma realidade.
Empresas de todos os setores, e não apenas as CSPs, já estão a planear uma entrada “em grande” no 5G, com o objetivo de penetrar no mercado mais cedo e colher a sua parte dos possíveis proveitos que tanto têm sido falados na indústria nos últimos anos. Por exemplo, o operador holandês KPN tem unido forças com empresas de várias indústrias para testar aplicações 5G no porto de Roterdão. Para vencerem a “corrida” do 5G, os CSPs devem dar um passo atrás e embarcar num processo pensado e cuidadoso para determinar o melhor caminho relativamente ao 5G e ao seu papel no ecossistema em expansão. Estas empresas devem ter em conta os recursos técnicos, o estado atual da sua rede principal, as suas capacidades de execução, implantação e de operações, cultura interna e base de clientes.
Porque é que isto é importante? Consideremos a perspetiva de um fornecedor de conectividade omnipresente, uma empresa de media e uma empresa tradicional: cada um deles tem uma estratégia de 5G e uma abordagem diferente em relação à criação de casos de utilização, modelos de negócio, espectro de necessidades, desenvolvimento de dispositivos e implantação de dados. Na maioria dos casos, as empresas precisam de realocar os seus investimentos em TI para a vanguarda da rede, perto do ponto onde os seus utilizadores estão a consumir serviços. A melhor forma dos CSPs gerarem novos modelos de negócio é perceberem quais os seus ativos e capacidades de rede, e depois determinar aquilo que se querem tornar no futuro 5G. Desta forma, estarão melhor preparados para começar a criar novos casos de utilização e para gerar mais crescimento como resultado. No entanto ser líder neste movimento implica uma mudança cultural e no modelo operativo de um CSP, fazendo com que o foco seja no desenvolvimento de soluções para problemas de clientes e não na disponibilização de um produto ou infraestrutura como até ao momento. Uma das fragilidades históricas dos CSP’s tem sido esta capacidade de colaborar com um ecossistema de parceiros desde a identificação de um problema até à disponibilização de uma solução em condições de igualdade, por oposição a um modelo tradicional de trabalho interno para levar produtos ao mercado de forma autónoma.
Os novos casos de utilização que começam a emergir das possibilidades que o 5G oferece em diferentes indústrias – agricultura, indústria, transporte, saúde e muito mais – vão criar ruído em todas as salas do MWC, à medida que todo o ecossistema digital começa a abraçar as possibilidades deste futuro novo e completamente conectado.
Concluindo, o potencial do 5G em futuros serviços e aplicações tem como único limite a imaginação. Com 5G retira-se da equação os constrangimentos associados aos desafios que a mobilidade trazia no desenvolvimento das soluções: menor capacidade de processamento local e latência na comunicação com as infraestruturas centrais. Esta mudança não é evolutiva mas sim revolucionária, e irá impactar o mundo e todos os que nele vivem.
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